ANDY CADMAN
Quando meus pais disseram que estavam de saída naquela manhã, e que provavelmente voltariam só perto da noite, não pude deixar de me sentir completamente empolgado para o meu dia. Os meus pais me privam de muita coisa, não deixam eu fazer exatamente tudo que eu gosto, e talvez eu tenha feito algo para que a pintura fosse liberada.
Desde mais novo, sempre admirei a cozinha, e gosto bastante de cozinhar, mas os meus pais não me deixam fazer isso, como sempre, dizem que a cozinha é onde a mulher deve estar, e eu sou homem, sendo assim encarregado dos serviços da fazenda, e vez ou outra consigo sair um pouco, ou ir para o meu quarto, e dedicar o restante da minha vida desprezível, aos quadros que pinto.
Estava na cozinha, esperando mais uns cinco minutos para tirar a primeira remessa de bolinhos do forno, no momento em que ouvi as batidas na porta.
Me afastei de onde estava, e tentei rapidamente desamarrar o avental, enquanto caminhava até a porta. Se fosse algum amigo do meu pai, eu iria me colocar em uma confusão se fosse visto assim. Mas suspirei em alívio, ao ver quem era pelo vidro da porta.
── Drake, bom dia! ── ao abrir a porta, dando espaço para ele entrar. Não posso dizer que estava surpreso por sua ilustre visita, somente me esqueci que ele viria. ── Sinta-se em casa, apesar de fazer isso mesmo que eu não fale ──
── Bom dia! Não se esqueceu que eu vinha, não é? ── respondeu, passando por mim, caminhando para dentro da casa. ── Eu também estava com saudade ──
Negativei, caminhando novamente até a cozinha, onde peguei um pano, e abri o forno em seguida, tirando a forma onde continha uma abundância de bolinhos, que estavam com um cheiro incrível.
── Não me disse que sabia cozinhar ── olhei para aquele que adentrava pela porta da cozinha, e sorri minimamente, orgulhoso de mim mesmo. ── Gosto ainda mais de você ── ele se aproximou, fechando seus olhos no mesmo instante em inalou o cheiro bom que se fazia presente no local.
── Tem muita coisa que eu não te disse ── ri baixo, saindo para fora da cozinha no instante em que eu ouvi algum xingamento vindo da sua parte. ── Quer conhecer a casa, ou vai ficar parado aí? ── perguntei sugestivo, me virando para olhá-lo.
── je te déteste ── sussurrou alto o bastante para que eu o ouvisse, provavelmente achando que eu não o entenderia.
── Não, você não me odeia ── sorri, piscando ao parar ao seu lado, e apontar para a escada que nos levaria até o andar de cima. ── Vamos ──
Caminhamos lado a lado, mesmo o espaço sendo pequeno. Cada degrau em que pisamos, a madeira rangia, audível o bastante por conta do silêncio estranho que se estabeleceu, como se todos os assuntos que poderiam ser conversados, tivessem fugido de nós, a tensão era notória.
Dois passos mais rápidos, e eu abri a porta do meu quarto ao finalmente chegar onde queríamos. Dei espaço para ele, que já entrou boquiaberto, provavelmente pela quantidade de quadros que haviam na parede do meu quarto, eram inúmeros, cada um com um significado diferente, e ainda tinha os que estavam escorados na parede, pela falta de lugar no quarto.
── O seu quarto é estranhamente agradável, apesar da minha cabeça doer ao ver todas essas cores ── enquanto caminhava pelo meu denominado "cantinho da paz", onde posso fugir um pouco do mundo lá fora, aquele que tenho medo de enfrentar. ── Seus quadros são lindos ── elogiou ao se virar para mim pela primeira vez. ── Mas estou um pouco confuso sobre aquele ── apontou para um específico, o primeiro em que pintei pessoas, nunca tive coragem para terminar, faltavam os detalhes do rosto.
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Cartas para Andy Cadman [LGBTQIA+]
Romance*OBRA CONCLUÍDA* Era o começo de 1890, na ilha do príncipe Eduardo -Canadá- quando as famílias Cadman e Mackenzie resolveram tentar quebrar toda richa criada anos atrás, pelos seus ancestrais, mas ainda sim não se suportavam, mantinham sempre distân...