Cheguei hoje à conclusão de que sou uma espectadora.
Glitter sendo jogado em um túmulo na tentativa falha de fazê-lo ser algo que ele não é.
Eu sirvo pra assistir as pessoas vivendo e tentar facilitar a vida delas, as histórias bonitas que elas constroem.
Eu não sou um membro ativo da sociedade, ou do mundo.
Eu não deveria estar aqui, fui mandada por acidente ou esqueceram de me levar.
É como se tivessem me dado o mundo todo, bem à minha frente, com uma porta de distância,
Mas eu perdi a chave.
Eu estou aqui, não estou?
Então porque eu não consigo ser aqui também?
Eu sou a amiga conselheira, a pessoa que cuida dos protagonistas que estão com problemas no paraíso, a filha pacificadora, a assistente de palco.
Eu estou no backstage.
Mas não na direção do filme que é a vida, é claro que não.
Eu acho que vou morrer.
Mas eu não tenho certeza,
É tudo um borrão na minha mente, e aí de repente pá, um clarão
Que me cega de tão forte que a luz vem,
Mas depois volta a ser um borrão.
Eu não sei qual deles é pior, pra ser sincera
Os dois doem. De formas diferentes, mas doem.
No escuro, eu crio minhas teorias, eu fantasio, tiro minhas conclusões, mas nunca sabendo se estou certa. Eu tenho uma fuga, que é aquele lugarzinho na minha mente que não tem certeza das minhas paranóias, e me diz que tudo pode ser coisa da minha cabeça.
Mas machuca, porque o escuro é frio, inexpressivo, cheio de dúvidas, medos e inseguranças. Eu não sei se estou certa, mas não tem ninguém pra me dizer que estou errada.
Durante o período de borrão, eu aceito minhas paranóias como verdade absoluta sobre mim.
Durante o clarão, fico vulnerável.
É a hora de por em teste aquilo que criei na cabeça.
O gato de schrodinger está vivo ou morto?
Nele é quando eu consigo ter certeza de que o gato morreu há muito tempo.
O clarão dilacera, me deixa tonta, arranca meu tapete de uma só vez.
Eu me sinto ofuscada. Ele me bate e grita que estou certa. Sempre estive.
Ele passa rápido, mas a memória de seu episódio não.
Eu me torno muito segura durante o clarão. Eu de repente sei quem sou, sei o que quero, sei que nunca vou ter. Dói, mas é claro como águas de ilhas paradisíacas.
Eu sinto que tudo bem morrer, que eu deveria. Eu tenho certeza disso.
Eu sinto tristeza, ódio, raiva de mim mesma, sinto fúria.
Sinto força e coragem pra fazer qualquer coisa, afinal nada importa mesmo.
Ninguém pode me parar se eu fizer algo durante o clarão.
Se torna simples.
É um período de certezas. Certezas dilaceradoras - acho que essa é a melhor palavra para descrever como se sente isso.
Eu vejo que sou mesmo uma espectadora. Eu nasci pra isso. Não tem porque tentar ser mais do que isso.
Por mais que eu queira.
Por mais que eu anseie isso com toda minha alma, energia, com minha voz, meu coração.
É uma porta sem chave.
É frio, pontual, tão simples. Não preciso ficar emotiva.
É um dado matemático, um fato nu e cru.
Eu posso fazer o que eu quiser com esse dado.
Eu sou insuficiente independente do que eu tente.
Eu posso usá-lo para meu humor, tentar conseguir desenvolver aquele humor ácido que eu sempre soube que existia em mim. Fazer as pessoas rirem.
Eu posso usá-lo para concentrar minha energia em algo que não seja eu. Aprender que investir em mim é um investimento muito caro e sem lucro no final.
Posso usá-lo para nada. Posso simplesmente ignorar.
Posso usá-lo também como motivação pra desistir de vez. Deixar tudo como está. Desistir mesmo.
Abraçar a tristeza e a raiva que existem aqui dentro.
Abraçar os sentimentos ruins e torná-los meus sentimentos bons.
Eu acho que fui emotiva demais durante minha vida.
Sonhadora demais. Muitas expectativas.
A realidade é cruel e ela é real, não tem como mudar isso.
Talvez eu nunca devesse ter procurado a maldita chave pra começar.
Eu devo ser uma espécie de guardiã da porta ou algo assim.
Que os outros vivam aquilo que eu queria viver!
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Desbagunçando minha bagunça
Poesíanão tem sentido ler isso aqui, nem colocar isso aqui mas foda-se