Clara em: "Temos que ir! AGORA!"

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A filha de Hermes estava sentada fitando o outro lado da avenida, como se toda a movimentação magnânima que acontecia às suas costas fosse irrelevante. Maia, a líder da filial brasileira das amazonas havia interpretado o ditado de "mantenha seus amigos próximos e seus inimigos mais ainda" de uma forma muito literal. Criou um feirão a céu aberto da Amazon com promoções chamativas, algo nunca visto antes. O ponto era estratégico, duzentos metros, ou melhor, quatro faixas de estrada, os separavam do prédio central da Polícia Federal de Curitiba, o Quartel General de Alastor e de seu exército de daemones. Vozes exaltadas, gritos de oferta, mercadorias sendo arrastadas... nada fazia com que Clara perdesse o foco do prédio branco de seis andares, antiquado e fortemente guardado.

Mesmo de longe ela já havia decorado os turnos e as rondas dos seguranças, assim como cada câmera externa visível no edifício. Faziam dois dias que estavam de tocaia. Ela, Vanessa e Flávia junto com as novas aliadas, Maia, Cintia e Sara, revezavam em turnos e furtivamente, cada qual a sua maneira, se aproximavam da base inimiga e coletavam informações. Estava impaciente pois já era a sua vez de buscar algo e a filha de Íris estava atrasada, coisa que não deveria acontecer.

Impaciente, ela se levantou da guia da sarjeta e antes que pudesse tirar a poeira da roupa, o ar ao seu lado tremeluziu e revelou uma Vanessa completamente perturbada:

-Estamos completamente sem tempo! - exasperou a conselheira de Íris - Algo aconteceu e todo o terceiro e quarto andar estão empolvorosos!

O prédio público havia sido dominado pelos espíritos imortais, no entanto,os imortais, inteligentemente, se misturaram com os mortais para não chamarem uma atenção desnecessária. Se fixaram nos dois andares superiores da construção e humanos e monstros se entrosaram naturalmente graças à névoa.

-Eu estava no terraço tentando ouvir algo quando três semideuses aterrissaram num helicóptero, que na verdade, não parecia estar sendo esperado. Os recém-chegados estavam irritados e com muita pressa. Uma garota estava com uma lira dourada na mão e arremessou o item para o Alastor que tinha acabado de chegar no telhado por uma escada de acesso - Vanessa falava muito rápido e gesticulava freneticamente com as mãos - Eu só consegui entender uma palavras desconexas pois o barulho da hélice estava muito forte, ouvi "filha de Hera", "tribunal", "foi por pouco", "submundo" e "Orfeu".

O sangue de Clara gelou pois as palavras se encaixaram da pior forma possível. Ela havia deduzido o cenário de um jeito completamente negativo. Agarrou a mão da amiga e saiu arrastando-a para o feirão, enquanto procurava pelas aliadas explicava sua conclusão:

-A lira de Orfeu deve ser uma das relíquias divinas, a equipe de Alex, Betina e Ariel deve ter se envolvido em um julgamento no submundo e... - A filha de Hermes engoliu as próximas palavras.

-Não! Não pode ser! - Vanessa não demorou a entender o que ela quis dizer.

-A lira na mão daquela semideusa inimiga não pode ser um bom sinal - A própria Clara não queria acreditar - Mande uma mensagem de Íris para eles, pelo menos tente... Eu vou procurar as garotas. Nos encontramos aqui em cinco minutos.

A vice-conselheira do Chalé 11 era completamente movida por instinto, quase literalmente agarrou as amazonas e correu com elas para fora daquela tenda colossal. Fazia cara feia para todos os atendentes e serviçais que tentavam chegar até as herdeiras do deus do vinho. Quando chegaram na rua, Maia ajeitou seus óculos e seu cabelo, e esbravejou:

-Como você se atreve a nos arrastar assim? Somos guerreiras e não capacho! - Os olhos de Cintia e Sara queimavam em aprovação. Era como se elas fossem sacar punhais escondidos sob suas roupas a qualquer instante.

Do chão entre elas, uma sombra que se projetava de algumas caixas, tomou a forma de uma garota baixinha de cabelos cacheados, com a cara mais fechada que todas elas, Flávia esbravejou:

O Conto das Parcas: As Três Maldições - Vol IIOnde histórias criam vida. Descubra agora