Estava trancada no meu quarto, ouvindo músicas desde às oito. Depois que tomei o café da manhã com as outras meninas, me deitei e passei a imaginar coisas aleatórias enquanto estava esticada na cama.
Meu pensamento estava bem longe, com a música alta no fone - uma imaginação de que minha vida melhoraria na faculdade com um lindo café na mão e livros na outra, sentada numa cadeira da biblioteca - mas fui interrompida a continuar pensando, porque Alissa entrou no quarto aos berros.- Manuela? Manuela???? - ela fala quase aos gritos.
Retirei um dos fones para ouvir melhor, e quando olhei para porta, Seu cabelo escuro estava bagunçado, mas não acreditei ser por conta de estar correndo, parecia ser por estar dançando, como de costume - está fugindo de que hospício?
- Nossa que engraçado moça - ela expressou deboche, e meu rosto ainda expressava um riso preso.
- Desculpa - deixei escapar um sorriso e sentei - você tá toda descabelada, estava fazendo o que?
- A sua mãe! Ela estava falando com a desgraçada você sabe quem, sobre você estar pronta para trabalhar aqui - ela arruma uma mecha do seu cabelo que estava na frente do rosto - eu estava aprendendo a ficar de cabeça para baixo na barra.
- Eu sei, ela veio falar comigo - minha feição mudou sem que eu pudesse evitar, mas tentei disfarçar olhando para baixo.
- E você tá tranquila? - ela pôs suas mãos na cintura esperando uma resposta sincera.
- Não estou tranquila, apenas quero que me deixe sozinha, voltei a deitar na cama, na espera que ela saísse e que eu voltasse a ficar só.
Como havia me virado, Alissa ficou esperando algo a mais, mas sem obter outra palavra minha, entendeu a minha ação. E eu esperava que ela de fato fosse entender, eu sei que ela me entenderia pois é a única com essa capacidade.
- É realmente. Semana que vem vai ser pesado, qualquer coisa que precisar estou aqui.
Fechei os olhos e suspirei.
Se a vovó estivesse viva, com certeza não me deixaria passar por essa situação. Quando cheguei não esperava que fosse acontecer outra coisa, a minha mãe de fato sempre deu a entender que é uma louca obcecada por dinheiro. E se não for, passa essa impressão muito bem. Há dois anos eu entrei aqui, e fiquei trancafiada nos pensamentos mais profundos e vastos que alguém pode ter. É difícil não esperar ou querer o pior, eu estive pensando nisso ontem a noite, antes de ontem, e todas as vezes que posso pra me lamentar da exaustão dos dias monótonos e estressantes.
Enquanto a música passava em um dos fones, eu ouvia algumas meninas passando em frente a porta conversando besteiras, e o que estava no meu pensamento se embaralhou com as vozes irritantes de uma delas.
Eu levantei para ouvir melhor, e quando coloquei meu ouvido, a voz que falou ainda mais alto pedindo para que as meninas saíssem do corredor, era da minha mãe. Me deitei o mais rápido que consegui, e me cobri por completo esperando que ela abrisse a porta.
Meu coração acelerou, eu estava com medo. Depois de ter passado um tempo adiando essa coisa negativa que estaria prestes a acontecer - a nossa conversa - fiquei tremendo sem conseguir controlar. Não era um sentimento que podia evitar, simplesmente não consegui, e na minha cabeça seria ainda pior se ela observasse as minhas mãos.Fiquei debaixo da coberta por alguns minutos, ouvindo murmúrios. Quando ela finalmente abriu a porta, descobriu a minha cabeça sem delicadeza, mas sem falar alto ou me questionar.
- Está acordada? - ela bate no meu ombro duas vezes para que eu reaja.
Apertei meus olhos, indecisa.
Mas levantei, sentando sem olhar para o seu rosto.- Sim?
Venha, levante logo eu estou sem tempo, só passei para pedir algo .
Algo que custaria a minha virgindade.
- Ah sim. Pode falar.
- Vou ser direta, eu não quero prolongar.
Revirei os olhos, não estaria esperando por outra coisa, talvez somente que falasse ainda pior do que de tal forma - grosseira- talvez.
- Eu acho que você já pode começar a trabalhar como as meninas, eu ficaria feliz se já fizesse isso esse final de semana, caso não se sinta a vontade para sair com alguém, que acompanhe apenas a festa
- ela virou, sem esperar sequer uma resposta minha.
- Tenho mesmo que fazer isso?
- eu a olhei, com raiva - não seria mais fácil me fazer arranjar qualquer outro emprego pra não dar despesas aqui?
ela suspirou, tentando manter alguma paciência.
- Não. Vai ser como eu acho melhor, sem discussões - ela sorriu forçado, como se estivesse falando coisas conscientes.
Inspirei, e senti um choro, mas as palavras voaram antes que qualquer lágrima.
- Eu sou virgem. Eu sequer conheci muitas pessoas, você vai me por em um lugar cheio de homens - dei uma pausa por gaguejar - dro…
- Não tem drogas na casa noturna, isso aqui não é bagunça. Enquanto a você ser virgem isso não é um problema, só sair com alguém que ache que seja bom pra resolver isso - ela me interrompe.
Fiquei boquiaberta.
- O que? Você acha que vai me obrigar a isso?
Levantei da cama eufórica e caminhei atrás dela enquanto me falava coisas.
- Sábado esteja lá embaixo - ela abre a porta e a sigo.
- Eu não irei, você não tem um pingo de responsabilidade eu nem tenho idade - já estava parada no meio do corredor quando me dei conta de que tinham algumas garotas olhando pra mim na porta dos quartos.
Voltei para o meu lugar, e causei um enorme barulho ao bater a porta, tranquei esquecendo que Alissa não tem chaves, deitei e chorei contra o travesseiro.
Faz dois meses que eu tinha completado 17 anos, mas antes disso a Virginia, a organizadora de todos os eventos e consequentemente dona de uma boate. Já havia tentado me convencer a trabalhar no local, mas não pôde depois de notar que realmente não teria como, eu ainda parecia muito menina.Uma vez chorei depois de escutar que "eu traria um bom rendimento", por um momento me senti como um objeto, sem qualquer afeto. Isso ainda passa na mente às vezes, mas lembro que para a minha avó isso era completamente o contrário. Morei com ela e recebi todo o carinho possível, e isso só deixou de acontecer pela sua morte. O que me fez ser obrigada a morar em um prédio de uma casa noturna de três andares.
Nunca cheguei a participar de nada, nenhum evento sequer, e mesmo achando que algum dia poderia ser eu, a sair com alguém mesmo que como acompanhante, não acreditava que pudesse acontecer de fato. Ainda mais estando tão perto de ser maior de idade.
Adormeci com o rosto molhado contra a fronha, meu nariz estava sujo, mas eu sequer o limpei, com certeza alguém acharia nojento, só que tendo adormecido não havia nem como limpá-lo.
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Cliente Vip
RomanceIREI CONSERTAR O LIVRO APENAS QUANDO ACABAR. Manuela foi morar com a mãe após o falecimento da sua avó, e pretendia ficar com ela até completar os seus dezoito anos, mas, antes disso, sua mãe a obriga a trabalhar em sua boate para pagar sua moradia...