1° Capítulo

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Era a pior temporada de verão dos últimos tempos. Eduardo não conseguia pregar os olhos. No quarto ao lado, a respiração pesada de sua mãe se misturava ao som do ventilador. Olhou para seu celular: 03/05/2018, 02:45 AM.

"Que inferno este calor", pensou. Levantou-se e foi até a sacada. O vento chegou como um alívio. Era madrugada e apenas alguns poucos transeuntes bêbados passavam cantando alguma canção dos anos 90. Observou-os passar e, por algum tempo, ficou olhando a lua, até que o sono chegou, obrigando-o a tentar dormir.

O sol já estava alto no céu quando levantou. Jogou água no rosto, escovou os dentes e dirigiu-se à cozinha, como fazia todos os dias. O rádio estava ligado, mas apenas emitia ruídos. Desligou-o e foi em busca de sua mãe. Era estranho não vê-la em seu ritual diário de limpeza.

— Mãe? — Chamou-a, espiando pela escada acima. Sem obter resposta, foi até seu quarto. A cama estava arrumada.

— Deve ter saído. Acho que também vou achar algo para fazer.

Vestiu um velho jeans, sua regata branca, um tênis All Star e saiu. A rua estava deserta. Caminhou até chegar ao centro da cidade. Um grupo de três pessoas passou correndo por ele sem dizer nada, virou a esquina e sumiu. Eduardo foi até o shopping ver se encontrava alguns amigos. Era incomum vê-lo vazio. Subiu até o segundo piso em busca de alguém.

— Tem alguém aí? — Estava começando a desconfiar de algo, e isso não o fazia se sentir bem. Olhou em algumas lojas sem obter sucesso.

Ao voltar para casa, sua cabeça fervilhava de ideias. Procurou novamente sua mãe, mas não havia sinais de onde ela poderia estar. Tentou seu celular, mas estava fora de área. O mesmo aconteceu quando tentou ligar para seus amigos. Deixou-se cair no velho sofá e ligou a televisão. Apenas uma mensagem era exibida na tela.

"Estamos enfrentando problemas técnicos. Dentro de instantes voltaremos com a programação normal."

Já estava anoitecendo quando Eduardo resolveu sair para procurar sua mãe. Em sua mochila, inseriu uma garrafa de água e alguns pacotes de bolacha. A noite estava abafada, e o céu dava sinais de que logo haveria tempestade. Olhou em algumas casas vizinhas que estavam com as portas abertas. Não encontrou sinais de pessoas ou animais.

Caminhou e olhou tantas casas até estar exausto demais para prosseguir. A chuva começou a cair. Procurou abrigo em um ponto de táxi e acabou adormecendo.

O dia estava nublado. Eduardo acordou, sentou e abriu sua mochila. Seu olhar se perdeu lá dentro enquanto sua mente vagava em seus pensamentos. Um homem corria por um corredor escuro e ele seguia logo atrás. Pararam em uma porta, mas quando o homem se virou para falar com ele, as imagens se foram. Retirou algumas bolachas e quebrou o jejum, pensando no que acabara de vislumbrar. Seguiu de volta para sua casa em busca de respostas. Procurou em vários locais sem nada encontrar, dirigiu-se até seu quarto. Encontrou sua caixa de anotações, retirou um bloco de notas e começou a lê-los.

"Hoje é o segundo dia desde que as coisas começaram. Ainda não sei bem o que fazer. Por hora, estamos seguros aqui, mas não demorará a chegar..."

O papel estava rasgado, faltando o fim da anotação.

"O que houve? E por que não lembro? Tudo está relativamente arrumado. Não parece ter havido alguma coisa", pensou, intrigado.

Tentou encontrar o pedaço que faltava, mas não estava em lugar algum. Por fim, se deu por vencido e se jogou em sua cama como sempre fazia, olhando para o teto. Por alguns minutos, perdeu-se, e quando retornou, olhou em seu celular: 21/10/2020, 08:45. Desta vez, gelou. Não havia percebido o ano. Agora sua mente estava cada vez mais confusa.

"Deve ser algum problema. Este celular já é velho", raciocinou.

Desta vez, organizou melhor sua mochila com tudo que iria precisar. Saiu às 09:20 em busca de respostas.

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