2° Capítulo

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A porta da delegacia estava entreaberta.

— Há alguém aí? — Sua voz ecoou pelos corredores. Sem obter resposta, percorreu todas as salas sem encontrar ninguém. Tudo estava organizado, mas o pó e as teias começavam a surgir nos cantos. Quando saiu, o sol já indicava que estava na hora de almoçar. Sentou-se em um velho banco de madeira, pegou um sanduíche e ficou observando as casas próximas. Notou que a grama começava a crescer e perguntou-se quanto tempo estavam abandonadas e por quê. Tentou mais uma vez seu celular sem conseguir nada. Terminou sua refeição e procurou também no hospital e no corpo de bombeiros. Não havia muitos lugares para ir, já que morava em uma pequena cidade chamada Orel, com 20 mil habitantes. Quando terminou, a tarde começava a colorir o céu de um laranja escuro. Não voltou para casa à noite, sabia que não encontraria mais respostas lá, acabou dormindo em uma casa qualquer. Sonhou que estava novamente na sala correndo com o estranho homem; quando se virou para trás, viu figuras os seguindo e o homem virou-se para ele.

— Você precisa encontrar... — Acordou suando frio. O quarto ainda estava escuro. Olhou no celular: 04:53. Resolveu seguir viagem. A próxima cidade ficava a quilômetros dali. Não foi difícil encontrar um carro, havia vários sem estarem trancados e ainda com as chaves na ignição. Tentou várias vezes, porém as baterias estavam descarregadas. Após muitas tentativas, encontrou uma velha pick-up Ford. Por volta das 08:00, parou em um posto abandonado e abasteceu "seu novo carro". Eduardo notou que o dono do posto saiu às pressas ou alguém antes dele passou ali e fez uma verdadeira zona na cozinha. Procurou mais alguns mantimentos e seguiu viagem.

Quando chegou à cidade de Forsk, o sol já começava a se pôr. A visão já não era tão agradável, pilhas de lixo se amontoavam pela rua, o cheiro era insuportável. Resolveu descansar e continuar sua busca pela manhã. Escolheu um prédio no centro da cidade, era alto o bastante para evitar o cheiro das ruas. Foi até a varanda observar por um binóculo que havia encontrado. Alguns cachorros pareciam brincar sem se importar com o cheiro. Ficou surpreso. Grandes prédios se misturavam às casas na área central. Observou que nas áreas mais afastadas uma grande quantidade de casas se estendia com poucos prédios ao redor. Contudo, parou de súbito ao fixar seu olhar em um prédio mais à frente. Esfregou os olhos para se certificar de não estar vendo uma miragem. Eduardo não sabia precisar a que distância estava daquele prédio, mas podia vislumbrar uma luz. Pegou sua mochila e desceu as escadas o mais rápido que pôde. Tentou seguir de carro, mas desistiu; aquela área da cidade estava tão cheia de carros e lixo na rua que resolveu seguir a pé.

Tummmmm. Virou-se para ver o que causara o som. Não viu ninguém. Mirou a lanterna e procurou. Sua respiração estava mais rápida e ofegante; o coração pulsava. "Por que estou com medo?", pensou.

Seguiu com mais cautela. Já estava quase chegando ao seu destino quando novamente escutou um som, desta vez, mais alto e mais próximo de onde estava. Não olhou para trás, correu o mais rápido que pôde, passando entre os carros e lixos da rua. Entrou no prédio e subiu, subiu, subiu, até encontrar a porta que continha luz. Bateu e esperou, deu uma rápida olhada no fim do corredor; estava escuro e mal podia ver o fim. Teve a impressão de estar sendo observado. Bateu mais uma vez. Desta vez, alguém respondeu.

— O que quer? — Eduardo sentiu firmeza na voz e notou que a pessoa não estava para brincadeiras.

— Preciso de ajuda, por favor!

— Vá procurar em outro lugar!

— Por favor! O que está acontecendo?

— Em que mundo você vive? Como assim não sabe?

— Eu... Eu acordei no meu quarto há uns dias atrás, e quando tentei procurar minha mãe, ela havia sumido, assim como os meus amigos. Não sei o que está acontecendo, mas por favor, me ajude. — Olhou mais uma vez para o fim do corredor. — Acho que há alguém me observando no fim do corredor, acho que ele estava me observando desde que saí para vir aqui. Quase não conseguiu pronunciar. O homem abriu a porta e o puxou para dentro.

Antes de fechar a porta, mirou sua lanterna no fim do corredor. Era bem mais potente do que a de Eduardo. Foi rápido, porém pôde ver que alguém desviou da luz e desceu as escadas rapidamente.

— Sente-se aí no sofá. — O apartamento estava abarrotado de caixas, cada uma cuidadosamente catalogada. O homem percebeu que ele observava as caixas.

— Eu procuro guardar o que posso sempre que saio em busca de mantimentos. Acredito que esteja com fome. — Não esperou resposta, abriu uma das caixas e retirou uma lata de milho em conserva. — Coma! — Ordenou.

Após Eduardo terminar, o homem sentou-se de frente para ele.

— Então, me conte como chegou aqui. — Eduardo começou contando seu nome e levou uns vinte minutos detalhando tudo que aconteceu, revelando também os sonhos que teve. Por um tempo, o homem ficou em silêncio, observando-o.

— Entendo. — Disse, quebrando o silêncio. — Há dois anos atrás, os noticiários falavam sobre um surto que aconteceu em Conttrel. Como você deve saber, fica a uma distância considerável daqui. No começo, foi apenas uma espécie de gripe, mas conforme as semanas foram passando, algo mais aconteceu: as pessoas que continham o vírus foram ficando irritadas, irracionais e começaram a morder e machucar. As autoridades então tomaram a decisão de evacuar as cidades próximas e levá-las para bases militares montadas para casos extremos de contaminação. Provavelmente, você estava em um desses lugares, mas não sei dizer como conseguiu fugir, pois a segurança é extrema. O caso é que eles não encontraram uma cura para este vírus, e por mais que tentem, ele está se espalhando, está se modificando, se tornando mais rápido e mais destrutivo. O que você disse ter visto na escada deve ser uma pessoa contaminada. Teve sorte de ele ainda estar em processo de transformação, senão já estaria morto.

Eduardo respirava devagar e mal conseguia acreditar nas palavras daquele homem.

— Mas... Mas eu estava em minha casa, havia pessoas na rua, eu escutei minha mãe respirando no quarto ao lado. E meu celular está louco, nele está dizendo 2020, mas ainda estamos em 2018, tenho certeza disso. — O homem o olhou intrigado.

— Não pode estar certo, estamos em 2020. Se fosse 2018, eu saberia, tenho certeza disso. Esta foi a época que se iniciou o surto, houveram explosões nas usinas de Contrell, foi um caos. Provavelmente, deve estar com problemas no seu dispositivo. — Eduardo sabia que algo estava errado, não sabia explicar, mas podia sentir. Decidiu não tocar mais naquele assunto.

Olhou curioso para o homem e perguntou.

— Desculpe, não perguntei o seu nome, e o que ocorre com essas pessoas infectadas?

— Sou Carlos. — Tomou um gole de água e continuou. — Normalmente, as pessoas infectadas se transformam em questões de horas. Primeiro, sentem febre, suores frios, começam a apresentar uma coloração diferente nos olhos. Agora, olhou com mais atenção para Eduardo. Quando os olhos estiverem amarelados, corra. Neste estágio, estão totalmente transformados, são rápidos, fortes e irão te matar se tiverem a chance. Os mais perigosos saem à noite; se precisar viajar à noite, só em casos extremos.

— Dizem... — Continuou. — Que existem outros problemas relacionados às explosões, mutações, porém ninguém soube ao certo na época o que era, e até agora não consegui descobrir, nada além desses monstros.

— Está tarde. — Falou enquanto se dirigia a uma porta. — Pode dormir aqui se quiser, amanhã conversaremos mais. O quarto era pequeno e cheio de caixas, mal tinha espaço para ele, sentiu-se incomodado. Desde criança, tinha fobia de lugares fechados, tentou pensar em outras coisas para esquecer o desconforto, demorou a dormir.

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