— Acordou finalmente. Disse Carlos. Venha, sente-se aqui! Indicando o sofá. Carlos lhe entregou uma lata com feijão em conserva. — Não é um banquete, mas manterá você forte, para o que iremos fazer. Limpou a boca com as mãos enquanto falava. O que iremos fazer? Eduardo levantou a sobrancelha intrigado. Como pode ver, não encontrou muitas pessoas, e as que encontrar não serão tão gentis como estou sendo, por isso tento não sair, mas estou quase ficando sem provisões de bebida. Sim, rapaz, todos têm um fraco. Falou enquanto se levantava e ia até a janela. Portanto, irá me ajudar, como pagamento por sua estadia. Eduardo assentiu com a cabeça, meio contrariado. Após terminarem de comer, Carlos lhe apresentou o plano que havia feito. Um mapa desenhado de forma improvisada num papel velho de pão. — Preste atenção, rapaz, aqui é um bar, ia lá na minha juventude, provavelmente deve ter sobrado algo por lá, precisamos percorrer três quarteirões. — Por que não olha nas outras casas e prédios? Questionou Eduardo. — Muito mais simples que ir até lá. O homem pareceu irritar-se com ele, porém respondeu calmamente. — Já fiz isso. Não fui em todos, nem sempre encontro o que preciso levar, e perco muito tempo procurando nesses locais, podem haver infectados por lá. Será mais simples para nós buscar em um bar, dificilmente não encontraremos nada. Eduardo olhou em seu celular quando saíram, eram 08:30, estava quase sem bateria, precisava encontrar um carregador. A rua agora parecia muito menos assustadora, o cheiro ainda incomodava. — Venha por aqui, indicou o velho. — Não queremos chamar a atenção indevida. Foram pelos cantos dos prédios. A maioria das lojas e prédios estava com as janelas e portas quebradas, Eduardo percebeu que Carlos evitava chegar perto das janelas e portas. — O que foi? Carlos parecia nervoso. — Eles se escondem nestes locais, nunca fique andando muito amostra na rua, porém nunca ande muito próximo a essas janelas e portas, eles não gostam do sol, mas é melhor evitar. Agora vamos andando, não temos o dia todo. Disse em tom irritado. Ao chegarem ao bar, Eduardo sentiu que algo estava errado, o local tinha um ar sombrio, as janelas estavam todas pregadas a cor era um cinza escuro. — Tem algo errado, falou. Não devíamos entrar aí. — Está louco? Agora o velho parecia mais irritado, a abstinência de álcool o incomodava, — Vai me ajudar ou não? — Sim, irei?! Eduardo não tinha certeza, mas lhe devia essa. Entraram com calma, um cheiro forte de morte exalou do local. Várias garrafas estavam quebradas pelo chão, havia sangue no balcão. — Ei... Eduardo falou baixo chamando o velho. — Olhe este sangue, não parece que ocorreu há muito tempo, deveríamos ir embora. O velho apenas o olhou e continuou caminhando, chegou até o local das bebidas e acenou para Eduardo, chamando-o. — Veja garoto! Falou enquanto abria uma velha garrafa de whisky 12 anos. — Demos a sorte grande. O velho deu um gole demorado na garrafa. — Agora que conseguiu o que queria, vamos embora logo. Sua voz saiu baixa. — Vamos garoto, carregue a sua mochila com o máximo que puder. Depois disso, iremos embora. — Ouviu isso? Eduardo apurou os ouvidos, enquanto parava de carregar a mochila. — Não ouvi nada... Garoto... Antes que Carlos pudesse terminar, surgiu diante deles um cão preto que passou por eles de forma apressada. Atrás deles vinha um ser com roupas rasgadas, seus olhos estavam vermelhos. A criatura jogou Carlos no chão fazendo com que batesse a cabeça. — Me ajude, garoto! Gritou enquanto segurava a criatura que tentava mordê-lo. Seus dentes davam a impressão de estarem apodrecendo, estavam com um tom escuro, da sua boca escorria uma espessa saliva, ao qual Carlos lutava ao máximo para não cair em sua boca. — Vamos garoto! Gritou o velho. — O que está fazendo? Eduardo estava paralisado, algo naquela criatura o fez parar. — Ande logo, seu idiota! Agora Carlos urrava de medo. Quase se mijou. O cão que havia passado correndo, voltou ao lado de Eduardo e o mordeu levemente, isso o fez acordar de sua paralisia momentânea. Desajeitadamente, pegou uma cadeira próxima ao balcão e acertou as costas da criatura que caiu para o lado. — Vamos embora! Gritou Carlos sem esperar que a criatura pudesse se recuperar. No momento em que saíram, o homem apareceu logo atrás deles, porém a luz do sol a fez recuar, fitava-os com raiva no olhar. Eduardo percebeu que agora os olhos estavam começando a amarelar. — Veja! Garoto idiota! Vociferou Carlos, cuspindo enquanto falava. — Mais um pouco e estaríamos mortos, veja os olhos dele. — Se não quisesse essa bebida idiota, nada disso teria acontecido. Retrucou, enquanto saía, tudo que preciso é achar minha mãe e amigos, e não bebidas idiotas. O cão os acompanhava. Voltaram em silêncio por todo o percurso, Eduardo verificou alguns lugares para encontrar um carregador, sem sorte desistiu. Carlos tentou fazer o cão se afastar ao entrar no prédio, suas tentativas foram frustradas, o animal não lhe dava atenção. — Deixe-o. Falou Eduardo. Se não fosse por ele, talvez estivesse morto, ele poderá ser útil. — Ele é responsabilidade sua, e irá dormir fora do apartamento. Quando a noite caiu, deu sinais que iria chover, num relógio antigo marcava 21:00 horas, o celular de Eduardo havia descarregado, o que o havia frustrado. Carlos apareceu cambaleando, derrubou várias caixas e nem percebeu que o cão dormia tranquilo ao lado do sofá. — Droga. Falou balbuciando. — Ei, Julia, me ajude a arrumar essas caixas... Eduardo intrigado observou a cena se perguntando quem era Julia. Na tentativa de tentar arrumar as caixas, tropeçou sob o sofá, estava tão bêbado que dormiu ali mesmo. A chuva começou a cair com força. O estrondo do trovão fez Eduardo ter uma ideia. — Ei, garoto! O cão veio em sua direção enquanto abanava o rabo. — O que acha de ser chamado de Trovão? O cão latiu e o lambeu. — Acho que gostou. Comentou enquanto sorria. Eduardo também estava tão cansado que dormiu ali mesmo, com Trovão ao seu lado. Na manhã seguinte, Carlos ainda dormia profundamente, Eduardo resolveu deixá-lo assim e saiu à procura de um carregador. Um enorme prédio chamou sua atenção, era todo detalhado em mármore e tinha um estilo chique. — Olha só, Trovão, será aqui, tenho certeza que haverá um carregador, assim poderei tentar encontrar minha mãe novamente. Num local tão chique assim, deverá existir algum. — A porta está aberta, venha por aqui, garoto. O cão o seguiu. O hall de recepção era enorme, havia muita poeira, mas ainda era notável que ali moravam pessoas com muito dinheiro. — Olha só, amigo, o elevador ainda funciona, tiramos a sorte grande. Vamos tentar no 20º andar. Um som ambiente começou a tocar enquanto o elevador subia. Ao abrir a porta, Eduardo notou alguém parado no corredor. A pessoa fazia movimentos lentos e pausados, quando ouviu o som do elevador, se virou para eles. Trovão se posicionou como se fosse atacar. — Calma, garoto! Ordenou Eduardo. — Você está bem? Não houve resposta. — Ei, quem é você? A pessoa apenas fez um som arranhado na voz. Eduardo se dirigiu lentamente com Trovão ao seu lado. Seu rosto parecia envelhecido, assim como as marcas de suas mãos. Levantou a cabeça e, para a surpresa de Eduardo, era mais uma das estranhas criaturas que Carlos havia lhe dito, porém esta era mais lenta e mal caminhava, dava a impressão de ser uma mulher de uns 60 anos e apenas emitia sons estranhos e tentava morder o ar. Passaram sem dificuldades por ela, que apenas os acompanhou com os olhos lentamente. Eram brancos leitosos, os dentes eram pretos e desgastados. Afastaram-se dela e foram até uma porta. Deu um leve toque nela, ficou esperando se escutava algum som vindo de lá de dentro, quando não ouviu nada, girou a maçaneta lentamente. Estava destrancada. O apartamento estava abafado com cheiro de frutas e carne podre. Eduardo torceu o nariz. — Venha, Trovão! Vamos achar logo um carregador e sair daqui. O cão latiu, como se estivesse confirmando. Foi diretamente a um dos quartos, a cama ainda estava bagunçada, a janela entreaberta deixava passar uma luz fraca. Achou a tomada e acendeu a luz. Numa escrivaninha ficava um computador gamer muito bem equipado, sentiu-se tentado a ligá-lo. Concentre-se. Pensou. Na gaveta abaixo encontrou um carregador, era do mesmo modelo que precisava. Puxou a cadeira e sentou, plugou o celular e ficou esperando ligar. O sinal estava fraco, e não havia mensagens, mais uma vez tentou ligar para sua mãe, não teve sucesso, tentou mandar algumas mensagens que ficaram com status de não enviadas. Não conseguiu segurar a vontade de chorar. Era frustrante não saber onde sua mãe estava e se estava bem. Trovão veio próximo e lambeu sua mão. — Você é realmente o melhor amigo do homem. Respondeu abraçando o cão. Que correspondeu lambendo sua cara toda. Eduardo sorriu e sentiu-se melhor. — Não vamos desistir, amigo, daremos um jeito. Agora vamos embora antes que o Carlos acorde e tente nos procurar.
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Operação Gattaca
Ciencia FicciónQuando Eduardo acorda e descobre que sua mãe e amigos sumiram, ele vai em busca de respostas. Acompanhe os perigos no caminho e as descobertas de um mundo alterado por um evento catastrófico.