4° Capítulo

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Quando Eduardo chegou, Carlos ainda dormia. Preparou um desjejum para eles e o chamou. Meio contrariado e com ressaca, levantou.— E esse cachorro aqui dentro? Seu olhar era de desaprovação. Eduardo apenas deu de ombros e não levou a conversa adiante, Carlos também achou melhor não falar mais nada, e continuou comendo. O dia tinha passado, e ao olhar seu celular eram 17:24. O sol estaria totalmente posto às 18:45. Alguns sons já eram ouvidos na rua, ruídos, latas de lixo caindo, sons de tiros ao longe.— Isso não está me cheirando bem, garoto! Comentou com a sobrancelha em pé. Eles estão chegando mais perto agora, e estão aumentando seu número, não sei se será seguro continuar aqui.— O que pensa em fazer?— Hum... Podemos ir para um local mais isolado, um sítio, por exemplo, teríamos tudo por lá, e seriam menos desses monstros horríveis para nos atacar.Eduardo estava inclinado a concordar, mas algo dentro dele lhe dizia que não daria certo, era preciso encontrar o problema e revidar.— Não devíamos achar uma forma de acabar com isso? Você me disse que o início foi em Contrell, o que sabe mais sobre isso?Carlos gargalhou e quase cuspiu nele.— Acabar com isso? E como pretende fazer isso? Não seja idiota! Essas ideias irão dar errado, você será morto e com sorte será só você... Mas... Mas na realidade iriam morrer todos que fossem te ajudar nessa ideia estúpida, o governo não fez nada, onde está sua mãe e sua família? Deixe de ser moleque, precisa crescer e encarar a realidade, é cada um por si, entenda o quanto antes, ou será morto logo logo.Eduardo retrucou irritado.— Boa ideia a sua, passar o dia bêbado enquanto as pessoas estão morrendo e nem sabemos o porquê disso. Do que você tem medo?A pergunta pareceu levar Carlos para algum lugar, de repente seus olhos ficaram congelados focando num ponto, a respiração agora era mais lenta e uma lágrima escorreu. Tentou disfarçar da melhor maneira que podia, fingindo ir ajeitar algumas caixas em outro cômodo.Agora o sol já havia se posto, a noite trouxe uma chuva forte, mal podiam ouvir o que acontecia lá fora. Carlos como um relógio quebrado manteve sua rotina diária, deu mais um gole demorado em seu whisky. O tremor na mão começou a diminuir, sua voz começou a ficar mais alta.— Sai da frente, cachorro idiota! Cambaleou indo até próximo da porta. Deu um soco nela.— Olha, garoto! Falou gritando. Porta forte, e reforçada, é por isso que está vivo e eu também. Ainda acha que eu tenho medo? Eu não tenho medo, sou inteligente, não fosse por mim, estaria morto, você e esse cachorro idiota...— Pare de gritar... Eduardo estava apreensivo. Vai atrair eles até aqui.— Que venham todos! Podem vir... Não sou covarde. A chuva começou a diminuir, e com essa repentina tranquilidade Eduardo conseguiu ouvir aquele conhecido som. Parecia um lamento, misturado com algo se afogando, um arranhado na voz, e estava ficando mais alto.— Julia, vem aqui! Hora da história. Agora sua voz ainda estava mais alta do que antes.— Pare, Carlos! Por favor! Eduardo tentou o segurar. Quem é Julia.— É você, Julia... Como na sabe diss.. A voz agora mais alcoolizada saía com dificuldade. Minha fi filha querida. Abraçou Eduardo.O som de algo se chocando contra a porta foi tão alto que os dois caíram para trás sobre as caixas. Eduardo agora assustado e sem saber o que fazer tentava acalmar Trovão e Carlos que latiam juntos.— Auuuuuuuu. Carlos fingia uivar.— Calem a boca... Vocês vão matar a gente.Trovão como sempre astuto, entendeu o comando. A porta realmente era bem reforçada, mas com tantas pancadas parecia começar a entortar um pouco nos cantos. Eduardo no desespero deu um soco tão forte no rosto de Carlos, que caiu de costas na porta, mas a pancada o fez voltar a si. Que levantou gritando.— Vai para a saída de emergência! Falou enquanto se afastava da porta, já se podia vislumbrar pequenos vincos por onde a criatura tentava arrumar seus dedos, em tons amarelados enegrecidos.— Onde fica isso? Questionou.— Me sigam! Carlos passou apressado, ainda cambaleando. Entrou na cozinha e puxou a geladeira velha. Um buraco na parede estava mal feito, mas era grande o bastante para eles. Entrem aqui!Bummmm... O estrondo da porta sendo aberta demonstrava que o tempo de fugir estava acabando, a criatura veio grunhindo e arranhando as paredes, atrás dela, mais dois, todos com os olhos amarelados. Eduardo teve que pegar Trovão no colo enquanto subia uma escada de ferro num lugar apertado atrás de Carlos. A criatura tentava arrancar parte dos tijolos para segui-los.Parece que tem inteligência. Pensou. Mas não se demorou no assunto, sua vida e a do cão dependiam da velocidade que ele subia. A escada parecia não ter fim, foram tão alto que mal podia ver agora a criatura, só escutava seu som tentando ainda arrancar o concreto. Carlos empurrou uma pesada grade acima dele que rangeu ao abrir. Esperou para ver se não aparecia ninguém, após um tempo de silêncio, saiu. O local estava todo na penumbra, mas parecia ser um grande salão vazio. Eduardo fechou a grade atrás de si sem olhar para baixo, agora tudo estava em silêncio.

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