Querido Diário: Eu não tenho problemas cardíacos.

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Querido Diário,

Aquele momento na casa de uma das minhas melhores amigas me serviu para constatar que eu não tinha nenhum problema cardíaco.

Embora meu coração estivesse batendo tão forte que parecia tentar quebrar minhas costelas, eu não tive um ataque cardíaco. Porque eu sentia que podia ter um a qualquer momento, e eu só me lembro de pedir ao Toni que saísse da casa com Ayko e as cadelas.

Não pensei no que faria, mas sabia que tinha alguma vantagem por estar no segundo andar da casa. E talvez, se eu não fizesse barulho, a monstruosidade do andar debaixo não notaria minha presença no andar de cima.

Me tranquei no banheiro e digitei uma mensagem para a minha amiga que estava na garagem.

"E agora amiga?!?! O que eu faço?"

Da qual ela me respondeu:

"Tente ir para a sacada do quarto do meu pai, desça da sacada e suba no telhado da garagem, Toni e eu vamos tentar te pegar pra te ajudar a descer pelo telhado, é a única saída sem que você precise descer até a sala novamente. Tome cuidado."

De dentro do banheiro pude ouvir que o que já fora o senhor Watanabe, tentava subir as escadas e pelo barulho, ele estava entre o começo e a metade do lance de degraus. Eu precisava ser rápida, só que, para ir até o quarto em questão, eu precisava passar pelas escadas, afinal eu estava no final do corredor, depois do quarto de Ayko e do quarto de visitas. Eu precisava ser rápida, mas a simples lembrança daquela besta me fez enjoar novamente e eu vomitei o resto do que quer que tivesse dentro do meu estômago. Àquela altura, a adrenalina já havia ido embora do meu corpo e minhas pernas bambeavam, talvez por ter vomitado duas vezes em vinte minutos.

Já duvidava da minha própria capacidade de sair dali. Eu já havia completado minha missão. Os animais que sobreviveram à transformação do pai de Ayko já estavam com ela, e ela e Toni estavam à salvos do lado de fora da casa.

"Se você morrer, eu mato você!"

As palavras de meu pai ecoaram na minha cabeça, mas nem elas me fizeram sair do lugar, não dava, eu estava travada. Me agachei e coloquei minha cabeça apoiada nos meus joelhos e não pude evitar que lágrimas começassem a descer dos meus olhos. Eu estava exausta. Não sabia o que fazer numa situação dessas e eu já tinha sido forte demais naquele dia, até mesmo fria eu conseguira ser. Uma frieza e uma força que nem eu sabia que tinha. Havia me superado. E naquele momento, não era a vida de ninguém que estava em minhas mãos, era a minha própria.

"Cadê você? Ele deve estar subindo as escadas, não me mate de ansiedade! O que está acontecendo?"

Ayko me mandava mensagem. Eu precisava tomar alguma atitude antes que ficasse impossível sair daquele banheiro.

"Ayko, diga aos meus pais que eu os amo. E que em meus últimos momentos foi só neles que eu pensei. Eu te amo, e amo todos os nossos amigos que ficaram na escola, desculpa, mas não acho que eu vá conseguir sair daqui. Obrigada por tudo o que você é, eu tenho muita sorte de ser sua amiga."

Enviei minha carta de suicídio para minha amiga, aceitando meu fim. Eu sei que ela merecia mais, todos mereciam na verdade, entretanto, foi só o que eu consegui digitar naquele momento. Ela visualizou a mensagem, mas não me respondeu.

-Ei feioso! Aqui!!!

Toni grita tentando chamar atenção do infectado, e não satisfeito com os gritos, ele ainda iniciou uma batida frenética na porta da casa.

-Vem aqui me pegar!!! Rápido princesa, vá até a sacada, eu vou te ajudar a descer, não tenha medo.

A criatura, atiçada pelos barulhos que meu novo amigo fazia, desistiu de continuar subindo as escadas, e pelo som, rolou escada abaixo.

Diário do apocalipse: Não Deixe Que Te Mordam.Onde histórias criam vida. Descubra agora