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//Capítulo 1//


"Não me toques."


Há pessoas que gostam de acordar cedo para puderem aproveitar bem o dia. Gostam de andar pelas ruas e observar as paisagens ou apenas despacham o trabalho pela manhã para que à tarde estejam livres. Onde eu vivo há pouca coisa bonita para ver, e as paisagens bonitas já eu as vi vezes sem conta, fazendo com que elas percam a sua beleza inicial. Eu também não costumo muito trabalho para despachar e, se tiver, faço sempre à noite.

Por essas razões é que, para mim, acordar às sete da manhã numa segunda-feira não é a minha visão do começo de dia perfeito. Porém, esta é capaz de ser a parte do dia onde me sinto melhor comigo mesma.

Em minha casa eu só ando pelo primeiro andar, visto o segundo andar ser o sótão e a cave ser usada como lavandaria. Isso faz com que não tenha que andar muito para me dirigir do meu quarto até à cozinha. E isso é bom, pois raramente estou totalmente acordada pela manhã, mesmo depois de finalizar a minha higiene.

"Bom dia, mãe." Sorri ao entrar na cozinha e ao ver que já preparava o meu pequeno almoço.

"Bom dia, querida." Ela cumprimentou-me, sem olhar para mim.

Sentei-me numa das cadeiras que estavam à volta da mesa da cozinha e esperei pela refeição mais importante do dia. Era costume ser eu a fazer o meu pequeno almoço, mas haviam sempre alguns dias e, que a minha mãe não estava apressada e me fazia panquecas.

Supus que a minha mãe já tivesse tomado o pequeno almoço, porque mal me entregou um prato com as panquecas, saiu da cozinha e foi-se vestir ao seu quarto.

Das quatro panquecas que estavam no prato apenas comi duas. Eu não costumava comer muito de manhã. No entanto, compensava a falta de comida pela manhã quando, ao jantar, comia mais do que devia.

Levantei-me da mesa, mesmo a tempo de ver a minha mãe a pegar na sua pasta e a ir em direção à porta de entrada.

"Até logo." Eu disse, recebendo um aceno de mão em resposta. Depois, ouvi a porta a bater e o carro a arrancar.

Suspirei assim que olhei para as fotos penduradas no corredor, que ligava a cozinha ao meu quarto. Eram fotos penduradas orgulhosamente. Fotos da minha irmã com amigos e família, ou a segurar o diploma nas suas mãos delicadas. Eu, pelo contrário, apenas aparecia nas fotos tiradas até aos meus oito anos. Depois dessa idade, nunca mais deixei que me tirassem fotos, com medo de que ele me encontrasse.

Preparei-me mentalmente para mais um dia, ao mesmo tempo que me vestia. Era a minha roupa normal: umas calças pretas justas e uma camisola com capuz acima do meu tamanho.

O facto de me vestir assim, de tapar todo o meu corpo, não quer dizer que me ache feia. Sinceramente, sempre me disseram que tinha uma cara engraçada, que era gira. Também não acho que tenho mau corpo. Não sou demasiado magra, nem demasiado gorda. Talvez até tivesse um corpo de invejar, se não fossem as cicatrizes que o cobrem.

Peguei na minha mochila preta, e coloquei lá dentro o meu caderno "especial". Muitos diriam que é um diário, mas nada tem a ver com isso. Apenas desenho nesse caderno, passando a ser uma espécie de diário gráfico.

Saí de casa e olhei atentamente para a rua, para ver se ninguém se encontrava por perto. Não estava com vontade de ser abordada por desconhecidos.

Dark Past || Hood [PARADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora