Janet King me encara do alto de sua imponência. Sua figura ostenta arrogância e orgulho pautado em sua roupa, bolsa e sapatos caríssimos, sua maquiagem impecável e seu penteado distintamente elaborado. Seu olhar é tão frio que congela os meus ossos. Ela permanece calada, me avaliando, me perscrutando. Então sento na cama encostada na cabeceira da cama e resolvo falar na tentativa de cotar aquele clima tenso.
- Bom dia, Sra. King.
O que é impossível, nem se eu tivesse uma faca afiada e enorme conseguiria cortar o clima pesado que ela instaurara com sua chegada ao quarto.
- Gostaria de sentar? - tento mais uma vez apontando para uma cadeira ao lado da cama em que estou deitada.
- Eu não vim aqui para uma visita cordial.
Não achei que viesse.
Ela permanece em pé, mas se aproxima mais da cama.
-O meu filho está cego por você. -ela dá um sorriso ainda mais gelado. - Sabe, é como um fetiche. Homens pretos precisam ter ao menos uma vez na cama uma mulher branca.
Arregalo os olhos mediante àquela afirmação altamente preconceituosa. Aquilo me choca, mas permaneço calada.
- Eu entendo até, não devia, mas entendo. O problema foi que você não passou somente uma vez pela cama do meu filho. Veja... - ela estende os braços apontando pra mim na cama. - Você continua na cama de Aaron. Você foi tão esperta que arrumou logo uma gravidez.
-Sra. Janet... - apesar da minha personalidade pacífica, quero retrucar, mas ela não permite e me corta completamente.
-Ele está determinado a casar com você.
-Eu o amo. - digo e ela gargalha.
- Não me faça rir. Quando você olha para o meu filho vê apenas cifras. Ele é seu futuro certo, confiável. E essa criança que carrega no ventre é sua garantia.
-Eu sinto muito que a senhora pense assim, mas...
-Mas o que? - ela me corta novamente. - Você já viu uma mulher branca com um preto pobre? Claro que não. Você é linda, não posso negar, mas não tem profissão definida, trabalha como garçonete em Miami, seus pais têm um restaurantezinho em Nova Jersey.
É, pelo visto ela me investigou.
- Como eu disse, eu realmente sinto muito que a senhora pense assim. - ela abre a boca pra me cortar, mas dessa vez não permito. - Eu e o Aaron nos amamos. É um sentimento puro e bom e eu não vou deixar que a senhora o contamine com seu preconceito.
-Está dizendo que isso é preconceito reverso? - ela pergunta com ironia.
- Não. Até porque não acho que isso exista. Conheço a história, Sra. King, sei que ao longo dela os negros sofreram horrores. Sei que continuam sofrendo, pois por mais que as escravidão tenha acabado, o preconceito continua.
- Você não pode saber de nada. É branca. Nunca sentiu na pele.
-A senhora tem razão. Nunca senti. Mas a senhora não é a única a senti-lo. O preconceito sempre esteve presente na minha família. Se a senhora me investigou, deve saber. Meu pai branco se casou com uma latina. Eles sofreram preconceito por isso. Seu irmão branco gay também sofre por isso. Meu irmão mais novo é cadeirante e sofre. Então, Sra. King, não venha falar comigo como se só a senhora no mundo tenha sofrido preconceito. -ela me encara sem dizer nada, mas vejo raiva em seus olhos. -Eu sinto muito, de verdade, por você ter sofrido, mas não posso admitir que desconte em mim toda a sua dor. Eu amo seu filho. Ele me ama também, não por eu ser branca ou por um fetiche. Ele ama quem sou e o que sou. Com defeitos e qualidades. Estou grávida de um bebê que é fruto desse amor. -toco em meu ventre, profeticamente. - Juntos vamos formar uma família querendo a senhora ou não.
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Preconceitos (em ANDAMENTO)
RomanceTrês histórias de preconceitos que serão vencidas pelo amor.