29. Aaron

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Todos olhavam em silêncio para aquela mulher que tinha acabado de entrar. Eu não a conhecia,  eles certamente sim. Aquela estranha, pra mim, não tira os olhos de Gabi. Olho pra minha mulher e ela está pálida. Com certeza essa visita não é bem vinda.

- Gabi? - chamo-a, preocupado, mas ela não parece me ouvir.

O silêncio ainda persiste. Olho novamente aquela desconhecida e vejo que seus olhos não conseguem segurar as lágrimas. Elas caem vertiginosamente.

- Você está ainda mais linda, Gabrielle. - Gabi tem os olhos marejados. - Soube que está grávida.

Gabi só balança devagar a cabeça em positivo. Então ela me encara.

-E você deve ser o sortudo papai. -ela afirma,  mas não confirmo nada,  só a encaro. -Eu vim... -ela para de falar e olha para os pais da minha mulher. - Porque eu precisava me desculpar. Eu sei que... - volta seu olhar pra Gabi. - Eu não mereço perdão. Fui cruel com você,  Gabrielle. Toda a dor que senti não justifica todas as palavras que eu destinei à sua família e principalmente à você.

Estreito os meus olhos tentando assimilar aquela história. Seria a mãe do ex-noivo da Gabrielle?

-Eu não poderia tê-la culpado quando você não tinha culpa alguma. Eu precisei ouvir umas verdades do seu noivo pra poder colocar a mão na consciência.  - Gabi olha pra mim sem entender, não dissemos a ela sobre o telefonema no hospital. - Eu perdi tanto tempo amargurada que descontei tudo em alguém que também estava sofrendo. O meu filho te amava e, provavelmente,  se revirou no túmulo a cada vez que fui má com você.  -ela dá um sorriso amargo. - Bom... -ela olha so redor,  constrangida e depois volta a encarar minha mulher. - Eu só vim aqui pra me desculpar e desejar a você,  Gabrielle, tudo de bom. Se meu filho amou você,  certamente você é merecedora de tudo de bom nessa vida.

Ela se vira pra sair, mas Gabi solta a minha mão e dá um passo em sua direção.

- Obrigada.

A mulher se vira com um sorriso triste.

- Não tem que me agradecer. Eu, realmente,  me arrependo.

- Mas não tinha que ter vindo e veio. -Gabi também dá um sorriso triste. - Eu amei muito o Ian. Amei tanto que pensei que fosse morrer de tristeza depois da morte dele.

Não era nada fácil pra mim ouvir aquilo. Eu me repreendi mentalmente, afinal não fazia sentido sentir ciúme de um homem morto. Eu já sabia o que o ex-noivo significou na vida da minha Gabi. Mas mesmo assim, mesmo sem lógica nenhuma, não era fácil.

- Pensei que nunca teria outra oportunidade de ser feliz porque eu também me culpei. Hoje eu sei que eu não tive culpa. A única culpa que tenho é tê-lo amado.

-Eu nunca facilitei a sua vida, não é mesmo? - ela sorri e Gabi a acompanha.

- Não mesmo. - Sorri e enxuga as lágrimas.  -Eu reencontrei a felicidade.  -ela me olha e estende a mão que eu prontamente a pego, sorrindo. Gabi volta a olhar a ex-sogra. - O Ian sempre terá um lugar em meu coração. Ele fez parte da minha história. Por ele,  eu a perdoo, senhora Esmeralda.

-Obrigada. -ela fala, emocionada.

Ela se vira e sai. Todos ficamos em silêncio. Gabi olha pra mim e sorri com o rosto molhado.

-Eu te amo. - digo e ela me abraça.

-Eu também te amo. Demais.

Ficamos abraçados.

-Bom, vamos comer.  -a mãe da minha mulher diz.

-Estou morrendo de fome. - fala Michel.

Todos fomos para sala-de-jantar e ninguém falou a respeito daquela visita. O clima agradável de antes retornara. Michel e Gabi irritaram Jean com o assunto da vizinha. Depois Jean voltou a dar o troco com a  neurocientista. Os risos persistiram.  A paz também. Aquela áurea de felicidade me fez lembrar da minha família.  Se minha mãe não fosse tão cabeça dura estaríamos vivendo aquilo na casa dela também.  Voltamos pra nossa casa.

Preconceitos (em ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora