30. Gabi

230 29 5
                                    

Olho-me no espelho.

Estou linda.

Eu me sentia linda.

Porque eu estava feliz. Acho que nunca fui tão feliz. Minha mãe dizia que eu parecia um sol emanando brilho e calor por todos os lados. Meu noivo apaixonado, claro, concordava. Quando mamãe não estava ouvindo,  ele dizia que eu era tão quente na cama quanto o sol. Eu ainda corava quando ele me dizia essas coisas. Bem, talvez eu nunca me acostumasse com o que Aaron me dizia na cama ou fora dela, mas eu amava.

- Você está tão linda, meu amor. - minha mãe fala emocionada.

Eu olho pra ela pelo espelho. Minha mãe é linda, mas somos tão diferentes na aparência quanto na personalidade. Enquanto sou calma ao extremo, dona Ana é um furacão. Eu a amo tanto e sou grata por tudo que ela e papai fizeram por mim e meus irmãos. Eles sempre foram nossa rocha. Quando perdi Ian, se não fosse minha família, acho que não teria suportado a dor, a culpa, a solidão.

Mas agora eu estava ali pra me casar com Aaron. O amor da minha vida. O homem que chegara pra curar de vez meu coração. Meu Aaron. Meu homem lindo por dentro e por fora. O homem que podia não ser perfeito, mas que unido a mim fazia com que as coisas se encaminhassem para a perfeição que era o nosso amor.

Toco o abaulamento em meu ventre. Nossa menininha crescia ali. Nosso pequeno milagre. A prova do nosso amor. Eu sabia que Aaron estava triste devido a ausência da mãe, então, sem que ele soubesse, mandei uma mensagem para o celular dela, convidando-a ao nosso casamento. Afinal ela devia estar presente num momento tão especial para o filho, mesmo que não aprovasse a noiva. Janet King visualizou, mas nada respondeu.

- Papai logo virá. - assinto. - Vou para o jardim cumprimentar os convidados.

Nosso casamento seria numa enorme chácara em Nova York, eu sempre quis casar num lindo jardim e Aaron achou o lugar perfeito.

Minha mãe sai no exato momento em que minha sobrinha Ollie entra.

- Tia Gabi, nunca vi noiva mais linda.

- Meu Deus, Ollie, você está mais bonita que eu.

- Ah, não brinca, tia.

Dou um beijinho em sua testa.

- Quando a sua princesinha nascer... - ela toca em meu ventre. - Nem vai querer saber mais de mim.

- Isso nunca, meu amor. - abraço-a.

- Tia, posso te perguntar uma coisa?

- Claro, Ollie. - respondo, entranhando. - Quando foi que pediu permissão pra perguntar ou falar o que quisesse?

- É que... - ela fica reticente. - Qual vai ser a cor da sua filha? - eu acabo rindo daquela pergunta. - Não ficou chateada?

- Claro que não, minha linda. Mas por que essa curiosidade?

- É que eu vi a vovó falando com o papai sobre a mãe do tio Aaron. Ela disse que não aceita você por causa da sua cor. Então eu fiquei pensando e pensando. - acho graça. - Fui pesquisar e vi na internet que isso é preconceito e se chama racismo reverso.

Preconceitos (em ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora