Prólogo - Life Goes On

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Senhores passageiros, por favor afivelem os cintos e coloquem suas poltronas na posição inicial. Nós estamos nos preparando para pousar dentro de alguns minutos.

Jimin prontamente começou a arrumar a disposição do seu companheiro de viagem, o que acabou o acordando:

- Papai...mimi... - o rostinho pequeno reclamou.

- Eu sei meu amor. Nós já estamos quase chegando, mas você pode continuar dormindo. Papai vai cuidar de você, tá bem? - O garotinho apenas resmungou em concordância, agarrou-se no braço esquerdo do pai e voltou a dormir.

O menino dormia de forma tranquila. Um estado de espírito completamente oposto ao pai. Jimin ainda se perguntava se havia tomado a decisão correta. Eram muitas mudanças em pouco tempo e isso o deixava aflito. Contudo, ao sentir um pequeno aperto no braço, não pode evitar sorrir. Sim, sua vida havia virado de cabeça para baixo em pouco tempo. Em um momento vivia o ápice da felicidade. Em outro a maior dor que já experimentou. Porém, por aquela pessoinha agarrada a si, ele não podia fraquejar. Havia sido uma decisão muito difícil, mas no fundo sabia ser a melhor oportunidade para dar uma qualidade de vida digna ao seu filho e também não desistir de si próprio.

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Se mudar para outra cidade já é algo trabalhoso, agora imagine de país? Acrescente a isso uma criança pequena de menos de 2 anos e o fato de não ter conhecidos para ajudar. Graças ao santo deus a empresa que o contratou sabia de toda a situação e deixou o máximo de coisas organizadas: Um apartamento de dois quartos semi-mobiliado próximo a empresa, transporte de navio dos móveis e objetos pessoais, carregadores e até mesmo uma despensa cheia. Mesmo com todo esse cuidado, ainda sim Jimin se encontrava exausto e com dores no corpo depois de uma semana em Seul. Felizmente a mudança estava completa.

Park Enzo certamente foi o maior desafio desses últimos sete dias. Curioso e arteiro, o pai do pequeno perdeu as contas de quantas vezes salvou o filho de ser afogado por caixas de papelão cheias ou de arrumar novamente peças da casa que haviam acabado de serem organizadas. Tinha dias que o garoto era quase um redemoinho ambulante. Lembrou-se dos avós maternos da criança o chamando de "Taz", em homenagem ao personagem do Looney Tunes, e acabou sorrindo saudoso.

Jimin era órfão e o casal brasileiro, que o acolheu tão bem quando foi apresentado como amigo de sua única filha, era o mais próximo de um pai e uma mãe que ele tinha. Nunca iria se esquecer de ambos o protegendo e guiando, principalmente nesses últimos meses tão difíceis para todos eles. Aquelas duas pessoas do bem haviam encarado o pior pesadelo da vida de qualquer pai e mãe, mas se agarraram ao fato de agora terem um neto e um filho, como faziam questão de lembrar ao jovem, para conseguirem superar o luto.

Já fazia um ano que Isabela partirá. Ainda doía, mas hoje conseguia falar e pensar nela com carinho sem se debulhar em lágrimas. O homem de cabelo loiro não havia perdido apenas sua noiva, mas sua melhor amiga e a mãe de seu filho. Por ser órfão desde os seus 8 anos, Jimin chorou muito ao pensar que o filho passaria pelo que ele enfrentou ao perder os pais, e ainda por cima tão novinho. Mesmo Enzo tendo apenas seis meses quando a mãe morreu, ele chorou durante meses. A única forma de acalmar o pequeno era lhe dando uma peça de roupa de Isabela, com seu cheiro natural - uma mistura de suavidade e doçura - tão característico, e cantando a música de ninar que ela cantava para o bebê desde que descobrira estar grávida. Com o tempo pai, filho e avós aprenderam que aquilo tudo não era um adeus, mas sim um até logo. Hoje o filho já entendia que a mãe era uma estrela que o protegia do céu. Já Jimin também entendeu que apesar de não ter a Bela por perto, Enzo tinha a ele. E isso por si só já mudava todo o contexto do sofrimento que ele próprio passou na infância e na adolescência, pois seu filho não estaria sozinho como ele. Enzo tinha o pai e os avós, três pessoas capazes de fazer absolutamente qualquer coisa pelo menino. A partir do momento que amadureceram esses pensamentos, a alegria voltou para a vida deles. E a felicidade no rosto do filho era tudo que Jimin poderia querer.

Há cerca de três meses, a HYBE entrou em contato dizendo estar interessada no jovem, que haviam ficados encantados com o talento de Jimin e queriam dar uma chance dele se tornar um dançarino oficial da empresa e um possível coreógrafo. Ele não sabia o que responder por dois motivos:

1- Ele não acreditava que a HYBE, AQUELA HYBE, estava realmente interessado nele.

2- Ele NUNCA enviou nada ou fez alguma aplicação para eles. Como a empresa estava em contato com Jimin agora?

Foi então que a verdade veio à tona: Isabela. A jovem, em seu leito de morte, confessou aos pais quais eram os sonhos do casal antes de descobrirem sobre a gravidez de Enzo. Ambos dançarinos e maquiadores pretendiam aplicar seus currículos nas grandes empresas da indústria do entretenimento mundial atual: Kpop. Performar junto a grupos como BTS, SHINee, Twice, Black Pink e outros, seria indescritível. Abrir caminho para se tornarem conhecidos no mundo da dança e apresentarem suas próprias coreografias, seria de longe a maior realização deles profissionalmente. Bela conhecia Jimin bem o suficiente para saber que o rapaz jamais iria atrás desse sonho após sua partida iminente. Ele nunca separaria o filho dos avós por livre e espontânea vontade. Assim como deixaria de lado seus sonhos para garantir o futuro do seu pequeno. Então na última semana de vida, Bela organizou todos os vídeos, documentos e materiais necessários para que quando as audições fossem abertas, seus pais fizessem a aplicação por Jimin. Ela sabia do talento dele e que o fato de ser coreano devia lhe dar alguma vantagem. Em resumo, seu último desejo foi atendido pelos seus pais, que como amavam muito o rapaz, também fizeram questão de mostrar à ele que acreditavam no seu dom e que o apoiariam nos seus sonhos, mesmo que isso significasse manter contato a distância com ele e o neto.

Após pouco mais de um mês de negociações, Jimin firmará um contrato de 2 anos com a empresa que mais desejou trabalhar em toda sua vida. Nem ele acreditou em todas alterações e opções que a HYBE ofereceu para que ele se mudasse para a Coréia e seguisse em busca do seu sonho. Ele trabalharia 30 horas semanais como STAFF e ainda precisaria se submeter a 25h de treinos de dança por semana. Em troca Jimin não seria apenas um trainee de dança, mas um funcionário com todos benefícios e direitos trabalhistas, creche 24h/7 para o filho e um salário que permitiria pagar um aluguel bom e dar uma qualidade de vida razoável para seu pequeno. Ele sabia que seria uma rotina exaustiva, mas nenhuma outra empresa ofereceria uma oportunidade como essa, pois ou ele seria um trainee sem salário (impossível diante do fato de ser pai) ou um funcionário normal sem direito a se desenvolver na dança e conquistar espaço através dela. Depois de aceitar a proposta, a HYBE lhe deu dois meses para se organizar e se apresentar na sede da empresa em Seul.

Amanhã seria o grande dia, o primeiro de muitos que viriam e que ele rogava para ser o pontapé inicial de algo que mudaria positivamente para sempre a sua vida e a do seu filho. Agora deitado em sua cama, com um pequeno Enzo ressoando ao seu lado, ele segurava a aliança presa ao seu colar de ouro e agradecia a sua melhor amiga por cuidar dele mesmo não estando mais fisicamente nesse plano. Antes de pegar no sono, ele deu um beijo carinhoso na testa do menininho e enviou uma mensagem para seus pais de coração do outro lado do mundo:

"Omma, Appa. Eu nunca vou conseguir agradecer o suficiente a vocês por tudo que fizeram e fazem por mim e pelo Enzo. Meu coração e pensamentos estão sempre com vocês. Saudades já. Eu amo vocês! Do seu filho, Jimin."

Eye Smile - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora