Minha mãe me observa como se eu fosse uma maníaca que acabou de assassinar seus lindos filhos. Já me acostumei com esse olhar.
Praticamente todas as minhas ideias que tive ao longo da minha vida, parecem loucura ao seu ver.
Pigarreio e ela desvia o olhar, mas ainda parece nervosa.
— Por favor, mãe. Você sabe que é meu sonho ir para a Inglaterra! - implorei a ela enquanto tomávamos café da manhã.
— Enlouqueceu Samantha? Você quer ir para o outro lado do mundo sozinha e espere que eu diga sim? E se acontecer algo com você? E se te expulsarem da casa que você estiver? Nunca! Você, Luccas e Liz são meus bens mais preciosos!
Como sempre, ela tem que apelar para a família. Já sei de cor seus joguinhos para ganhar qualquer discussão.
— Mãe, eu vou ficar bem. Uma garota com quase 18 anos sabe se cuidar sozinha. Confie em mim, por favor...
— Confiar em você? Depois da Flórida?
Eu tinha esquecido por um instante. E ela tocou realmente em algo que me machucava.
Quando eu tinha 15 anos, minha mãe decidiu fazer uma viagem em família para Disney. Fiquei muito animada com isso, era meu sonho conhecer o mundo mágico do Mickey.
Quando chegamos lá, passamos dias e dias aproveitando os parques de diversões. Até que em uma sexta, eu e meus irmãos decidimos ir à noite em uma festa que estava acontecendo no parque. Horas antes perguntamos a nossa mãe se poderíamos ir, e a mesma não deixou, então decidimos ir por conta própria escondido.
Chegar lá não foi problema algum, pois não era tão longe do hotel onde estávamos hospedados. Aproveitamos cada segundo do show, até que, perto do fim, Liz começou a passar mal. Eu e Luccas entramos em desespero, ela é a caçula e deveríamos cuidar dela senão nossa mãe nos mataria.
Então, Luccas pegou ela no colo e fomos para o hotel novamente, procurando alguém que pudesse nos ajudar. Quando encontramos a enfermaria do hotel, ela já estava amarela de tão mal. O médico de plantão nos olhou com desconfiança, achando que oferecemos drogas a ela. Negamos já de imediato, o que fez com que suspirasse aliviado.
Após analisar nossa irmã, ele nos disse que ela só estava com a pressão baixa. Era necessário repouso, e que deveríamos ter cuidado ao não se hidratar e comer nas horas certas.
Ele perguntou se queríamos que ele chamasse nossos pais, mas entramos em pânico e imploramos para não contar nada a eles. O médico deu um sorriso compreensível e entendeu. Fomos para o quarto, ajudando Liz a caminhar, enquanto ela comia uma barrinha de cereais que o médico havia dado.
Quando abrimos a porta de entrada, nossa mãe estava na sala com a cara furiosa e preocupada. Quando viu o estado de Liz, começou a gritar e brigar conosco. Depois desse dia, ela nunca mais nos fez esquecer do desespero que sentimos.
Era algo que eu não fazia questão de lembrar, mas minha mãe não perdia oportunidades. Sempre que eu queria sair com meus amigos, era uma luta para convencê-la. E isso era um saco.
— Mãe, por favor. Olhe minhas notas. Sou a melhor aluna da classe. Além de ser sempre presente na natação e ginástica.
— Mas você está faltando nas aulas de vôlei, e você sabe que tem um campeonato chegando. Você pode ganhar uma bolsa se os treinadores das faculdades estiverem lá. E faltando desse jeito, não vai conseguir nada além de passar vergonha errando saques básicos.
— Eu sou a capitã do time, e só falto para testar a capacidade das outras jogadoras. Elas precisam dar conta se uma da equipe cair.
— Não vou falar mais nada. - disse ela se levantando e indo pegar as chaves do carro para ir trabalhar. Minha mãe é muito teimosa, sério. - Você não vai se não melhorar sua frequência no vôlei. Você tem o dever de dar orgulho ao seu time e fim.
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Lonely
RomanceNão sou boa com títulos, nem mesmo com resenhas. Mas, em minha opinião, sei escrever histórias de amor. E esse livro fala sobre isso, a radical história de amor de Samantha Miller.