Doce de limão

A Chegada.

O céu parcialmente nublado não assustava o jovem que pedalava calmamente pelas ruas de concreto da cidade mais romântica da Europa. As nuvens carregadas ora ou outra davam espaço para feixes de luz, que iluminavam casualmente a face de Choi San, fazendo automaticamente os traços do rapaz verterem em um sorriso sereno e tranquilo.

A brisa fresquinha que beijava sua pele, o som ameno de conversas alheias, que misturava-se a melodia das águas do rio que cortava a cidade, o aroma agradável das flores que desabrochavam no ponto mais alto da primavera, todos esses detalhes pintavam um quadro extremamente belo aos olhos do coreano.

Seus olhos por sua vez quase sumiram quando suas bochechas subiram em um sorriso sincero, ao notar um gatinho cruzando seu caminho. San era o tipo de pessoa que abandonaria seu caminho para seguir um animalzinho por aí, no entanto também era alguém extremamente responsável e o dever o chamava.

Não demorou muito tempo para que seus pés não precisassem mais pedalar, o destro alcançou o chão apoiando o peso de seu corpo no momento em que avistou a fachada azulada de um comércio local, o seu comércio local.

Sorriu ao notar que as flores que serpenteavam a fachada do seu estabelecimento estavam desabrochando também, todos os dias ao chegar pela manhã, Choi San admirava a arquitetura do lugar que abrigava seus sonhos desde a infância.

Aquele não era apenas um imóvel comercial que havia alugado casualmente, mas sim um estabelecimento que havia passado de sua avó para si.

Aquele local por anos abrigará uma das maiores floriculturas de Florença, porém quando sua avó materna notou a dedicação e vocação do seu primeiro neto, quis que o mesmo herdasse o negócio e o administrasse quando a idade já não lhe permitisse mais, San ficou muito feliz com a confiança que aquela senhorinha, de olhos amendoados e proprietária da maior parte do coração do jovem, estava depositando em si, no entanto não pode deixar de ficar triste, pois seu verdadeiro sonho era algo mais doce do que flores.

Literalmente mais doce.

Desde muito jovem o rapaz de sorriso contagiante demonstrou muito amor e desejo pela culinária local, mais precisamente pelos doces e pela arte que envolvia seus preparos, o jovem cresceu e junto dele o amor por confeitos se expandiu.

Entretanto, foi em um dia de primavera como aquele que algo muito triste atravessou o caminho do rapaz dedicado. Sua avó que sempre se mostrou uma mulher forte e saudável, porém naquele ano começou a dar sinais de que a idade realmente tinha chegado, adoeceu rápido demais para o julgamento de San e quando o rapaz percebeu, estava recebendo uma ligação desesperada de sua mãe pedindo para que o mesmo fosse até a casa dos Choi.

A senhora esperava pelo rapaz de estatura mediana e quando o mesmo atravessou o batente da porta, um sorriso delicado adornou seus lábios finos e pálidos.

"Eu sei que sua paixão é outra" — Disse a dona de voz rouca e trêmula.

"Não quero que você viva uma vida infeliz por conta de um delírio meu... minha jornada na terra está chegando ao fim e a sua apenas começando, corra atrás dos seus sonhos, seja feliz, conquiste o mundo e eu estarei ao seu lado, alegre e orgulhosa independente do caminho que você trilhe" — A senhora Choi parou alguns segundos para tentar recuperar a voz

"Me prometa que você não desistirá de seus sonhos, Choi San"

"Eu... eu te prometo, nonna"

E essa foi uma das últimas recordações que o rapaz tem de sua avó com vida. A doença até então misteriosa não demorou em dominá-la e alguns dias depois, levá-la para um lugar onde pudesse zelar pelo seu neto como um anjo da guarda.
Isso devastou o jovem por muito tempo, porém ao conseguir recuperar seu fôlego e força, cumpriu com a promessa que havia feito para sua nonna.