Os Elementais: O Legado das Trevas

Capítulo 34

(Angel)

Minha pele já não era mais a mesma.

A coloração bronzeada ia se extinguindo ao longo dos dias longe da luz do Sol.

A textura áspera ia se agarrando em meus dedos.

E o calor familiar que esteve sempre presente, agora se assemelhava à própria neve ㅡ como se meu sangue estivesse mergulhado em pedras de gelo, congelando lentamente.

O vestido dourado, uma vez tão lindo e majestoso, já não possuía brilho quase algum. O tecido delicado ia se desfazendo e se desgastando aos poucos.

Uma verdadeira obra de arte jogada no lixo.

O silêncio dominava o ambiente da prisão, algo tão estranho e pesado.

Apesar de não haver uma alma viva falando, parecia que eu podia ouvir as súplicas de cada ser em tortura nesse lugar abominável.

Eu estava sonolenta, mas não conseguia adormecer. Encolhida no canto da cela, minha maior preocupação era concentrar minha energia e me aquecer.

Kawena dormia ao meu lado, mantendo o corpo próximo para gerar o mínimo calor corporal que conseguisse.

Não estávamos nas melhores condições, mas aquele momento foi o mais próximo que tive de algo pacífico dentro de meus dias naquela cela gelada.

Porém, assim como toda esperança em meu coração, os momentos de tranquilidade se extinguiam rápido. Rápido demais.

Passos fortes de múltiplas pessoas ecoaram pela extensão do corredor da caverna.

O barulho de grades se abrindo, pessoas murmurando e gemendo de dor, e o grito dos guardas me deixaram assustada.

Os prisioneiros estavam sendo retirados de suas celas ㅡ alguns à força, enquanto outros poucos conseguiam caminhar por conta própria.

Todos enfraquecidos, perdidos.

E não demorou muito para que chegassem na minha cela e colocassem a mim e Kawena para fora, puxando-nos pelos braços e nos empurrando na direção do corredor com os outros.

ㅡ Andem logo, seus vermes! ㅡ um dos hostibus gritou enquanto duas pessoas saíam das celas.

Um homem e uma mulher de cabelos pretos... com chifres de touro.

Mais Mutandis, provavelmente.

Quantos deles os hostibus mantinham em cativeiro?

Quantos elementais como eu estavam apodrecendo nessa caverna tomada pela escuridão?

Eu caminhava encarando o chão, seguindo a trilha de prisioneiros.

Uma menina de pele e cabelos pálidos tropeçou em minha frente e caiu no chão. Antes que os guardas pudessem ver, Kawena e eu ajudamos-na a ficar de pé.

Ela falou uma palavra em uma língua diferente.

Algo que pareceu ser um agradecimento.

E seguiu seu caminho na fila com a perna manca e os passos trêmulos ㅡ o efeito que a energia e a convivência com os hostibus causava.

Dessa vez, quando a subida dos extensos degraus terminou, fomos levados para um lugar diferente. Um salão enorme assim como o da sondagem, mas este parecia ainda maior.

Além disso, a decoração era diferente.

O local em que estávamos não possuía o aspecto cavernoso do outro. Pelo contrário, era muito bem cuidado.