Uma das poucas coisas que eu e meu pai temos em comum é a nossa enorme ansiedade.
Mas parece que hoje ele está, tipo, calmo demais para o meu gosto.
De Montana até Rosa Maria é no máximo uma hora e meia de viagem; mas estou com uma leve sensação de que estamos á quase três horas na estrada - tudo bem, não tudo isso, mas á mais tempo que o normal.
-Sabe, eu não reclamaria se você decidisse ir á no mínimo 110 km/h - digo depois de cinco minutos tentando manter a calma contando de 1 á 10 repetidas vezes, mas claramente não funcionou.
Ele não diz nada, apenas acelera com o carro e me sinto levemente aliviado.
A pessoa que eu mais amo no mundo inteiro é a minha mãe e estou com tanta saudade dela que meu nível de ansiedade está o dobro do normal - e acredite isso significa muito, muito mesmo - durante a semana eu liguei para ela, mas o telefone só tocava. Minha mãe tem um certo problema com produtos eletrônicos, então é bastante normal que ela não tenha atendido, e também que eu esteja quase morrendo de tanta saudade.
Assim que vejo o posto de gasolina próximo á placa na entrada da cidade me sinto ainda mais ansioso; é como se quanto mais perto estivesse, mais demorasse pra chegar.
Passamos pelo clube, pelo shopping, o cinema e então finalmente chegamos ao centro da cidade. Em menos de um minuto estaremos em casa.
Meu pai para com o carro em frente ao grande portão branco e usa o controle para abri-lo, ele entra devagar e para com o carro em frente a porta da garagem.
Abro a porta do jeep.
-Thomás, espera. - Ele segura meu braço antes que eu saia do carro. - A gente precisa conversar.
-Nós podemos conversar depois pai, agora eu preciso ver a minha mãe. - puxo meu braço e pulo do carro.
Corro em direção de casa e paro apenas para abrir a porta, passo apressado pelo hall de entrada e subo a escada rapidamente. Vou até o quarto da minha mãe e abro a porta...
Ela não está aqui. A cama está arrumada e o telefone dela está sobre a escrivaninha no canto do quarto. Atravesso o quarto e vou até o banheiro, ela também não está aqui. Volto até o corredor e ando até a biblioteca, ela também não está aqui. Isso é estranho, muito estranho.
Desso devagar pela escada e paro um pouco á frente do meu pai, que está deixando minha bolsa com Alice, nossa governanta.
-Onde minha mãe está? - Pergunto calmamente.
-É sobre isso que eu queria conversar com você...
-Por favor, diga logo onde ela está.
Ele respira fundo e então diz:
-Sua mãe morreu, Thomás. Ela foi enterrada no domingo.
-Eu não gosto desse tipo de brincadeira.
-Não é brincadeira Thomás...
-Ah, claro minha mãe morre e ninguém me conta? - Digo já gritando. - Sem contar com o fato de que na quarta-feira à noite ela estava ótima.
-O câncer atacou de repente, ela morreu dormindo... Ela já havia me pedido antes que não deixasse você participar do velório quando... ocorresse, ela não queria que você a visse no caixão.
Me viro calmamente e ando em direção a escada.
-Você é a pessoa que mais odeio no mundo - digo baixo porque simplesmente não consigo gritar. Mas... Espero que ele tenha escutado.
Meu nome é Thomás Lavorini, tenho 16 anos, estou no segundo ano do ensino médio, sou do signo de Câncer - ironicamente -; e você acaba de conhecer o meu odiado - e total e completamente maluco - pai.
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A Inútil Capacidade de Ser Receoso
Teen FictionThomás Lavorini nunca teve um bom relacionamento com o pai, e depois que Raphael, seu pai, o levou para a casa de uma tia por uma semana para esconder o fato de sua mãe ter morrido, as coisas só tendem a piorar. Em meio á um ataque de raiva Thomás...