O sinal. Eu ia de moto pela Av. Presidente Castelo Branco ( Leste Oeste) - ignorando os sinais vermelhos; por conta do horário ( madrugada), porém sempre atento ao movimento transversal. Ia tranquilo, quando sou surpreendido por dois faróis altos. Atrás de mim vinha um caminhão, surgido do nada.
Com medo, porém calmo, mudei para a faixa da direita. O veículo me acompanhou. Buzinei várias vezes e, apesar do meu protesto, continuei sendo seguido - mesmo quando retorno à esquerda. Conduzi em Ziguezague, até perceber que ele não queria passar por mim, mas sobre mim! Ou me devorar, como me parecia ao escutar o ronco daquele motor ( uma cacofonia infernal). O desespero aumentava a cada acelerada dele, que forçava a minha. Sai dos zelosos 40km/h aos desesperados 70km/h em um átimo! O espaço para prudência foi ocupado pelo da urgência.
Chegamos à Coronel Carvalho sem desacelerar e como eu previa; sem condições de fazer uma curva segura, por conta do excesso de velocidade. Também estava sem opções. Fiz o que me restou - o sinal da cruz. " Em nome do pai, do filho e do espirito santo". E me inclinei na curva, esperando pela queda. Caí, arrastei-me pelo chão e bati em um muro. Saí com alguns cortes e hematomas, porém nenhum osso quebrado. E o mais surpreendente, estava vivo! Alguns amigos disseram-me que tive muita sorte, já que naquele trecho haviam iniciado uma obra - o espaço estava cheio de areia e lonas de construção, que minimizaram o impacto da queda. Claro, haviam materiais perigosos ali, contudo nenhum deles agravou a situação. Há isso não chamo de sorte, mas sim de um verdadeiro milagre.
O motorista não pôde ser identificado, pois as câmeras de segurança estavam apagadas. " Falha técnica", disseram-me. Eu vi o número da placa, mesmo caído no chão e atordoado pela queda - APO 1311 - e a frase do para-choque: " O Dragão de dois chifres saiu da terra". Foi inútil, nada foi encontrado.
Passei por louco, mas estava vivo. Do ocorrido sobrou- me a experiência e o reforço de uma crença antiga de que há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar nossa vã filosofia.
