Meu Doce Inverno

554 50 12
                                    

Seher

Eu tenho saudade de mim, saudade de quando eu tinha expectativas, eu sempre senti falta de alguma coisa que eu nunca sabia o que era, eu sempre senti falta de estar apaixonada...mais eu acreditei que o dia que eu me casasse tudo iria mudar, porque eu sempre acreditei que um grande amor era o que iria preencher esse vazio que eu sentia, e então eu me casei.
Yacin era um homem bom, íntegro, honesto, quando nos conhecemos eu não senti meu coração pular pra fora do peito, não senti as tais borboletas no estômago que todo mundo fala, mais aos poucos fomos nos aproximando, e quando me dei conta já estavamos namorando, e meses depois nos casamos, tudo aconteceu tão rápido que eu não tive tempo de me apaixonar, foi isso que eu pensei, que o amor era uma questão de tempo e convivência, que com o passar dos dias eu iria encontrar nele não só o amor tranquilo, mais a paixão avassaladora que eu nunca senti, eu esperei, esperei...e ainda assim pensava que um dia eu iria me apaixonar pelo meu próprio marido, e dois anos depois de casada eu ainda estou aqui, esperando um amor que nunca chegou.

Yacin nunca foi do tipo romântico, nunca foi do tipo carinhoso, mais eu achei que era o jeito dele que com o tempo o amor iria chegar, achei que assim como as estações sempre mudavam, as coisas entre nós também mudariam, e eu acertei, pois mudaram, mais não como eu queria.
Nossa relação sempre foi morna, não era quente como um verão, nem fria como um inverno, talvez fosse mais neutra com um outono, mais nunca chegou a florescer como uma primavera, de certa forma eu achava isso normal pois não conhecia outro tipo de vida, mais dentro de mim meu coração pedia por algo que eu não sabia o que era, e tinha também essa insistente saudade de alguém que eu não fazia idéia de quem era.
Eu simplesmente submergi dentro desse vazio que tentava desesperadamente preencher em vão, demorou muito para que eu pudesse admitir diante de mim mesma no espelho, que eu nao era feliz.

O mais irônico é que quem olhar de fora, vai ver em Yacin o marido dos sonhos, do tipo que apoia sua esposa em tudo, do tipo que faz o jantar, do tipo que faz a faxina, do tipo que concerta a janela quebrada, do tipo que qualquer mulher poderia sonhar, e talvez isso me fizesse sentir culpada pelo que eu sinto, ou melhor dizendo pelo que eu não sinto, mais só eu o conheço como homem, eu nunca senti a tal química tão desejada, eu nunca senti que podia derreter em suas mãos, nunca perdi o fôlego em seus beijos, mais eu achei mesmo que tudo se resumia em questão de tempo, que com o tempo iríamos conseguir entrar em sintonia, mero engano... isso nunca aconteceu, na verdade hoje sinto que vivo em um mundo cinzento, do qual eu não consigo fugir.

De início eu aceitava todas as vezes que ele queria fazer amor, mesmo quando eu não estava com vontade, era isso que eu achava que uma esposa tinha que fazer, ceder e ceder, porque ele era o meu marido, isso era o que eu pensava, é o que me foi ensinado através da visão de mulheres que eu achava que eram exemplos perfeitos de esposas, mais tudo foi ficando cada vez pior, a insistência psicológica dele mesmo quando eu dizia que não queria, foi me minando aos poucos, eu fui ficando cada vez mais triste, me afastando cada vez mais, e quando eu negava em ter uma noite de amor... quer dizer de amor não, de sexo, pois pra ele era só sexo, não havia emoção, não havia paixão, eu sentia cada vez menos vontade de ser tocada pelo meu próprio marido, e quando eu me negava ceder a sua pressão psicológica, Yacin me ignorava por dias, me tratava com indiferença, parecia que eu tinha cometido um grande pecado.
Pecado...seria um pecado?

Nossos corpos pareciam pertencer a partes diferentes de um quebra cabeça, simplismente não nos encaixavamos, não havia calor entre nós, eu posso contar nos dedos as raras e pouquíssimas vezes que senti algum prazer ao fazer amor com o meu próprio marido, ele era tão apressado, ou melhor dizendo tão egoísta... mal começavamos a fazer amor...quer dizer...sexo, e ele já se satisfazia tão rápido, simplesmente me deixava de lado e após isso se virara pra dormir, já eu, me virava pra chorar, eu não sei o que é ser tocada de verdade por um homem, não sei o que é ser contemplada, não sei o que é ser verdadeiramente amada, eu sempre quis saber como é sentir o corpo em chamas, como é gozar só com um olhar de um homem...eu tenho tanta saudade de mim, de quando tinha expectativas, de quando eu achava que um dia eu iria me apaixonar.

Hoje começa o inverno em Istambul, diferente de tanta gente que detesta essa estação, o inverno é a minha estação preferida, ver tv  debaixo das cobertas, olhar a paisagem fria, ver as folhas das árvores cobertas pelo cristal fino e gelado que se forma sobre elas, ler enquanto vejo os flocos de neve cair, estranhamente o frio aquece o meu coração.
Não tinha planos de sair hoje, mais Yacin trabalha para um homem poderoso, é o braço direito de Yaman Kirmili e por isso passa a maior parte do tempo fora de casa, hoje vai ter um jantar importante onde todos vão levar suas esposas, essa é a primeira vez que eu vou pois Yacin nunca me pediu pra ir em nada antes, e no fundo nem eu fazia questão, nesses dois anos de casados nunca conheci Yaman pessoalmente, nem mesmo no nosso casamento ele foi, pois segundo Yacin seu chefe estaria fora do país no dia...mais hoje vou acompanhar meu marido, e finalmente conhecer seu chefe.

Nunca me envolvi nesse mundo de trabalho dele, o pouco que ouvi falar sobre Yaman é que ele era um homem duro, implacável, mais generoso, e justo. Confesso que estava curiosa para conheçe-lo.
Quando cheguei no evento me senti sozinha mesmo com mais de 50 pessoas em minha volta, Yacin estava feito louco atrás de Yaman que não havia chegado ainda, as outras mulheres não desgrudavam de seus maridos, eu me senti tão só, mais isso não mudou nas poucas vezes que Yacin se aproximou, ainda me sentia só. Queria sair dali, respirar, me sentia sufocada, saí então para dar uma volta no jardim, eu não me importava com o frio, aquela pequena névoa gelada não me assustava, na verdade me encantava aquele clima, a noite já tinha chegado, a neve começava a cair enquanto eu andava devagar, e foi de repente que o meu mundo mudou, senti uma pressão na cintura e antes que pudesse entender o que estava acontecendo, senti um calor tomar conta de mim, um corpo forte se apertava contra o meu, a língua quente que me devorava em um beijo avassalor, aquelas mãos grandes sobre mim, aquele beijo que me transportava pra longe de tudo... eu estava derretendo naqueles braços tão fortes, quanto desconhecidos, eu não sei se perdi o fôlego ou se finalmente aprendi a respirar, mais aquele beijo inesperado me despertou, e fez com que  eu me sentisse viva de novo.
_____________________________________________

Yaman

Mais um evento chato, mais uma noite onde terei que fingir interesse em assuntos que não me importam, mais uma vez onde terei que fingir que não entendi os olhares provocativos que as mulheres desses empresários lançam a mim, e tudo pelo bem da empresa, não posso deixar de comparecer mais ao mesmo tempo já me entedia pensar no que vou encontrar lá dentro, e ainda tem Demet... droga, não sei mais como dispensa-la, ela se joga pra cima de mim toda vez que tem oportunidade, e eu tenho que fingir que não entendo suas investidas, se isso ao menos a fizesse parar, mais não, ela não desiste e eu já tô saco cheio dessa insistência dela, me atrasei de propósito pra que assim não precisasse receber uma por uma de todas essas pessoas, quando finalmente chego não tenho saco pra entrar de imediato, respiro fundo e vou andar pelo jardim, preciso de um tempo a mais pra enfrentar toda essa noite de tédio que virá pela frente, está frio mais eu não ligo, gosto de andar no frio, é tudo quieto e silêncioso, eu sinto paz quando vejo a neve cair.

Mal começei a andar e ousso passos atrás de mim, droga, é Demet, essa mulher devia estar me vigiando pra saber que estou aqui, ela vem atrás de mim e eu fingi que não percebi,  continuo a andar mais rápido, ela então me chama e eu não tô nada afim de responder, nem mesmo de fingir educação... já não sabia mais como fazer Demet me deixar em paz, até que tive uma idéia louca ao visualizar uma mulher que nunca vi antes andando sozinha na minha frente, eu andei mais rápido e a alcançei, sem dizer uma única palavra a puxei pela cintura e pressionei seu corpo contra o meu, invadi sua boca e quanto mais a minha língua a explorava, mais o meu corpo ardia... Quanto mais eu sentia o gosto dela, mais eu me rendia ao beijo daquela completa desconhecida.

Continua...

#sicaetano

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 20, 2022 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Meu doce inverno (parte 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora