Tábua de Esmeralda - Capítulo Único

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Tábua de Esmeralda

Fazia séculos desde que Druig havia visto Makkari pela última vez. O pensamento de procurá-la era uma constante desde a separação, porém nunca havia levado a ideia à frente. Se ela, velocista que o era, poderia encontrar-lhe em menos de um minuto em qualquer lugar do mundo se assim o quisesse nunca havia vindo atrás dele - mesmo ele tendo ficado exatamente no mesmo lugar pelos últimos quase 500 anos, desde que sua aldeia se instalou ali -, o mais provável era que ela não quisesse vir.

E ele entendia porquê não. Ele sabia que Makkari não concordava com seu ponto de vista sobre interferência nos conflitos humanos, sabia que ela acreditava que deviam deixar os humanos resolverem seus próprios problemas, que isso os ajudaria a desenvolver, a evoluírem, a tornar-se melhores a longo prazo. Druig nunca teve a paciência para imaginar as coisas a longo prazo - e muito menos o otimismo para ver um futuro tão brilhante assim.

Os primeiros anos foram solitários, sem todos por perto. Não sentia falta do ego de Ikaris, ou do que Sprite podia fazer quando estava mais entediada que o normal. Não sentia falta das regras e normas que o rodeavam a cada minuto, que o impediam de realmente usar o seu poder, que o impediam de fazer o que era capaz. Mas estaria mentindo se dissesse que não sentia falta de Phastos murmurando consigo mesmo ao criar um novo projeto, ou de Sersi sempre correndo de um lugar para o outro, atrasada em tudo que fazia. Ou de Makkari.

No primeiro século, construiu com parcimônia a aldeia. Cada vez menos tinha de intervir em brigas e discussões, cada vez menos se via obrigado a estender seu controle mental sobre os moradores. Pouco a pouco, a aldeia cresceu e aprenderam a lidar com o novo ambiente. Pouco a pouco, se tornou uma casa para cada um daqueles humanos.

Depois desses cem anos, o trabalho havia diminuído consideravelmente. Embora ainda tivessem de fazer pequenos reparos, melhorias e uma viagem relativamente longa a cada verão e inverno para o centro comercial mais próximo, Druig tinha a maior parte do dia apenas para si. Foi por volta dessa época que começou a espiralar em seus próprios pensamentos: como Makkari estaria? Onde ela estaria agora? Estaria correndo pelo mundo, cada dia em um lugar, uma nômade praticamente invisível?

Às vezes, a saudade era tanta, que se pegava sinalizando para si mesmo algumas frases. Não queria estar enferrujado quando voltasse a se encontrar com ela, era o que dizia a si mesmo.

Não durou muito seu período ocioso. Nas décadas finais do século XVII, alguns batedores espanhóis começaram a alcançar sua aldeia, procurando por riquezas e espaço para expandirem o domínio. Conseguiu controlar os primeiros para que se esquecessem do que tinham visto, para esquecerem da terra e deles. Mas quando começaram a vir em grupos maiores, um após o outro, ele precisava ter concentração e atenção constante para impedir que a guerra alcançasse seu homizio.

Apenas após a proclamação da independência do Peru, já em 1821, ele conseguiu liderar pessoalmente um grupo para a transação comercial da estação. Foram até Lima, a grande cidade portuária na tentativa de se abastecerem para o inverno, comprarem tecidos e os suprimentos que haviam se esgotado desde a última compra.

Foi uma caminhada longa: andaram por sete dias para chegarem ao seu destino. A cada vez que vinha a Lima, Druig sentia o quão a sociedade estava mudada, o que reforçava sua necessidade de proteger sua aldeia de todos os males. Porém, a cada vez que vinha, também conseguia identificar um novo progresso em que era quase como se pudesse ler a assinatura invisível de Phastos. Na primeira vez que viu um automóvel, gargalhou sozinho sem perceber.

De modo geral, supervisionava os habitantes da aldeia com o fundo da mente, mas deixava-os fazer todas as compras enquanto andava pela cidade. Gostava de entrar em pequenos cômodos de comércio aleatórios, daqueles que eram tão pequenos que passavam despercebidos para qualquer visitante menos atento.

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