01 | Jornada de Despedida

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Bem-vindo a essa one-shot! Antes de começar a leitura, é importante que leia esses avisos:

A história se passa na Holanda de 1941, época em que os asiáticos começaram a ser perseguidos pelos nazistas. Nenhuma passagem envolve morte, sangue ou tópicos difíceis de digerir, mas, se você se sentir incomodado com o tema, não continue a leitura, por favor;

Não tenho a intenção de ferir a imagem das idols envolvidas, bem como romantizar a época em questão ou zombar dos acontecimentos desse período. Minhas personagens são criações minhas e esta ficção deixa claro o quanto elas se sentem incomodadas no país onde vivem;

A trama é inspirada em uma poesia que li há algum tempo, mas não encontrei o autor. Irei deixar a poesia no final do capítulo e, caso alguém conheça, por favor, me avise para que eu possa conversar e dar os devidos créditos;

Não terá playlist porque eu não me sinto confortável associando alguma música ou artista a essa época.

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07 de fevereiro de 1941 – Amsterdã, Holanda

É inegável que toda geração se rebelou a algo ou a alguém. No passado, mulheres lutavam em busca de conquistar o direito ao voto, à propriedade privada e à simplesmente serem vistas como cidadãs independente de renda ou escolaridade. Atualmente, eu acredito que todos lutam por uma liberdade utópica, assim como acredito que, no futuro, talvez em meados dos anos dois mil, nada terá mudado. A busca pela liberdade é eterna, sempre estamos presos a algo: à uma ideia ou à um país.

As ruas de Amsterdã chegavam aos cinco graus no dia em que percebi que também fazia parte da revolução dos que tinham um desejo incessante de mudança. Sana caminhava ao meu lado em uma noite nublada de sexta-feira, aceitando meu pedido nada convencional de ir para um café enquanto a cidade se distribuía nos bares com a esperança de algo bom acontecesse e valesse pela semana toda.

A campainha do estabelecimento soou de cima da porta quando Sana a abriu, dando espaço para que eu entrasse primeiro e querendo me impressionar com aquele ato gentil. O vento contra o meu corpo cessou, o que me fez perceber que a blusa listrada de mangas, o casaco encaixado nas minhas costas e a saia marrom até o meio das panturrilhas quase não eram suficientes nem entre quatro paredes. Não fiz questão de juntar qualquer peça as tantas outras do cabideiro lotado na entrada, apenas continuei segurando minha bolsa-carteiro e com a mão livre mantive a porta aberta para que Sana também adentrasse. Em um ato costumeiro, enquanto ela tremia levemente e esfregava as mãos para se acostumar com a nova temperatura, eu me virei de frente para o café e passei o olhar de um lado para o outro, procurando uma mesa vazia para que pudéssemos ocupar.

O espaço era pequeno, retangular e colorido em tons amadeirados e chocolates. Um balcão no canto com poucas funcionárias preenchia o local e a luz era fraca, algumas vermelhas e outras amarelas para dar um toque romântico, o que não foi o suficiente para me deixar confortável.

Com uma nova presença, todos os olhares intrigados foram direcionados a nós, alguns por cima dos jornais, outros por baixo dos chapéus e outros que quase se escondiam entre a fumaça fina dos charutos, a maioria azuis ou verdes e todos com algo em comum: eram arriscos. Diferente de cada alma que passava despercebida por aquela porta, Sana e eu fazíamos parte de um espetáculo a mais, seres exóticos que mereciam ser julgados de qualquer forma.

Ela abaixou o olhar primeiro, tentando disfarçar sua presença e fitando o assoalho de madeira com os lábios reprimidos e a mente em chamas. Eu fiz o mesmo. Não era minha intenção demonstrar tristeza, mas minha expressão direcionada ao chão foi o suficiente para que todos voltassem ao que faziam antes. Xícaras de café tocaram lábios ressecados novamente, Stroopwafel foram esquentados e croissants voltaram a ser assados na cozinha.

Jornada de Despedida | MiSanaOnde histórias criam vida. Descubra agora