Capítulo 11 - It's the goddamn fight of my life

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[Narrador]

Emily tinha uma teoria de que, enquanto tu dorme, a tua alma de certa forma abandona o corpo e vagueia por aí — talvez pelo mundo dos sonhos. A teoria se especificou em: vagueia procurando por Sue e pelo conforto que a garota lhe proporciona. Por isso ela detesta acordar, sente que a sua alma não voltou inteiramente ao corpo e que esse é um processo lento que não deve ser apressado pelo barulho do despertador. Mas naquela manhã de domingo chuvosa, ela adorou acordar — Sue estava do seu lado. Sua alma não vagou para muito longe e ela, de certa forma, se sentia completa.

Com o relógio biológico da jovem britânica desconfigurado pelas taças de vinho consumidas na última noite, Emily despertou antes dela — e aproveitou a cena. Virou-se de lado e analisou Sue: sua respiração calma e relaxada, o pequeno traço entre as sobrancelhas, o cabelo levemente bagunçado — era uma cena e tanto. Seu coração acelerou no peito, um sorriso se fez presente em seus lábios — ela notou suas reações, ela sabe que está apaixonada e o melhor: ela ama estar apaixonada por Sue.

- Tu tá me olhando dormir? - Sue pergunta, com a voz rouca e os olhos entreabertos.

- Sim. - Emily responde, com um sorrisinho em seus lábios e um brilho em seus olhos.

- Não faz isso, é estranho. - Sue finge que vai virar de costas. - Espera aí, como eu vim parar aqui? - apoia os cotovelos na cama e levanta o tronco, observando o quarto.

- Todo mundo dormiu no sofá, aí eu te trouxe pra cama. - Emily fala naturalmente, sentando-se no colchão.

- Tu me carregou no colo escada acima pra eu dormir na cama? - Sue pergunta com um sorriso enorme em seu rosto.

- Bom... sim? - Emily olhava sem jeito para suas mãos mexendo nos lençóis.

- Bom... - Sue faz o colchão mexer e de repente Emily sente um beijinho em sua bochecha. - Isso foi adorável. Obrigada Em. - sorriu gentil.

- Não foi nada. - Emily sorri. - Então, dormiu bem? - pergunta, fazendo cafuné na garota jogada novamente entre a bagunça dos lençóis.

- Dormi sim, muito bem. - suspirou. - E você?

- Também, muito bem. - Emily respondeu, focando nos fios dos cabelos de Sue. - Então, o que vamos fazer hoje?

- Muito cedo pra essa pergunta, Dickinson. - Sue fala, se espreguiçando. - Posso tomar um banho pra lavar a ressaca de mim, primeiro? - sorri de lado.

- Claro, o banheiro é ali, - aponta para a porta ao lado do guarda-roupas. - e as toalhas tão no armário, é só pegar. - continua o cafuné.

- Tá bom. - Sue fala, deposita um beijo rápido na bochecha de Emily e com sua mochila em mãos, caminha até o banheiro.

Enquanto a jovem musicista permitia a água quente correr por todo seu corpo de forma revigorante e relaxante, ela também pensava no dia que teria com Emily e seus amigos — estava contente, quem sabe eles poderiam (finalmente) começar a assistir Star Wars; e Emily poderia lhe ensinar a receita do seu magnífico bolo de chocolate — mas antes de tudo isso, ela precisava de alguns bons copos de água, um café e uns chameguinhos com a poeta. O dia estava chuvoso, Sue adorava dias chuvosos quando eles encaixam em seu planejamento de ficar em casa. Emily pragmaticamente arrumou sua cama — ela detestava lençóis e cobertores bagunçados — e abriu as cortinas, observando as gotas de chuva no vidro. Sentiu algumas palavras se posicionando precisamente de forma rápida na sua cabeça — formando versos, um novo poema em curso. Cochichando as palavras que vinham, ela rapidamente sentou-se em sua escrivaninha, abriu a primeira gaveta e de lá tirou uma folha de papel. Com a caneta retirada do porta-lápis no canto da escrivaninha, ela escreveu o primeiro verso: Manhãs assim — partíamos — e mergulhou nas palavras, gesticulando com as mãos, olhando para a janela, para o canto da mesa, para o folha: dando vida a um poema, três estrofes, doze versos. Emily estava tão aprofundada em sua arte que não notou o barulho do chuveiro cessar, nem Sue sair do banheiro e muito menos Sue sentar-se em sua cama e observá-la escrever com os olhos brilhando em admiração e paixão — ela ficou sem reação quando notou, como se tivesse dado tela azul, ainda não estava acostumada a se sentir tão íntima com alguém e se sentir confortável com isso.

900 segundos de tensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora