[Narrador]
Emily tinha uma teoria de que, enquanto tu dorme, a tua alma de certa forma abandona o corpo e vagueia por aí — talvez pelo mundo dos sonhos. A teoria se especificou em: vagueia procurando por Sue e pelo conforto que a garota lhe proporciona. Por isso ela detesta acordar, sente que a sua alma não voltou inteiramente ao corpo e que esse é um processo lento que não deve ser apressado pelo barulho do despertador. Mas naquela manhã de domingo chuvosa, ela adorou acordar — Sue estava do seu lado. Sua alma não vagou para muito longe e ela, de certa forma, se sentia completa.
Com o relógio biológico da jovem britânica desconfigurado pelas taças de vinho consumidas na última noite, Emily despertou antes dela — e aproveitou a cena. Virou-se de lado e analisou Sue: sua respiração calma e relaxada, o pequeno traço entre as sobrancelhas, o cabelo levemente bagunçado — era uma cena e tanto. Seu coração acelerou no peito, um sorriso se fez presente em seus lábios — ela notou suas reações, ela sabe que está apaixonada e o melhor: ela ama estar apaixonada por Sue.
- Tu tá me olhando dormir? - Sue pergunta, com a voz rouca e os olhos entreabertos.
- Sim. - Emily responde, com um sorrisinho em seus lábios e um brilho em seus olhos.
- Não faz isso, é estranho. - Sue finge que vai virar de costas. - Espera aí, como eu vim parar aqui? - apoia os cotovelos na cama e levanta o tronco, observando o quarto.
- Todo mundo dormiu no sofá, aí eu te trouxe pra cama. - Emily fala naturalmente, sentando-se no colchão.
- Tu me carregou no colo escada acima pra eu dormir na cama? - Sue pergunta com um sorriso enorme em seu rosto.
- Bom... sim? - Emily olhava sem jeito para suas mãos mexendo nos lençóis.
- Bom... - Sue faz o colchão mexer e de repente Emily sente um beijinho em sua bochecha. - Isso foi adorável. Obrigada Em. - sorriu gentil.
- Não foi nada. - Emily sorri. - Então, dormiu bem? - pergunta, fazendo cafuné na garota jogada novamente entre a bagunça dos lençóis.
- Dormi sim, muito bem. - suspirou. - E você?
- Também, muito bem. - Emily respondeu, focando nos fios dos cabelos de Sue. - Então, o que vamos fazer hoje?
- Muito cedo pra essa pergunta, Dickinson. - Sue fala, se espreguiçando. - Posso tomar um banho pra lavar a ressaca de mim, primeiro? - sorri de lado.
- Claro, o banheiro é ali, - aponta para a porta ao lado do guarda-roupas. - e as toalhas tão no armário, é só pegar. - continua o cafuné.
- Tá bom. - Sue fala, deposita um beijo rápido na bochecha de Emily e com sua mochila em mãos, caminha até o banheiro.
Enquanto a jovem musicista permitia a água quente correr por todo seu corpo de forma revigorante e relaxante, ela também pensava no dia que teria com Emily e seus amigos — estava contente, quem sabe eles poderiam (finalmente) começar a assistir Star Wars; e Emily poderia lhe ensinar a receita do seu magnífico bolo de chocolate — mas antes de tudo isso, ela precisava de alguns bons copos de água, um café e uns chameguinhos com a poeta. O dia estava chuvoso, Sue adorava dias chuvosos quando eles encaixam em seu planejamento de ficar em casa. Emily pragmaticamente arrumou sua cama — ela detestava lençóis e cobertores bagunçados — e abriu as cortinas, observando as gotas de chuva no vidro. Sentiu algumas palavras se posicionando precisamente de forma rápida na sua cabeça — formando versos, um novo poema em curso. Cochichando as palavras que vinham, ela rapidamente sentou-se em sua escrivaninha, abriu a primeira gaveta e de lá tirou uma folha de papel. Com a caneta retirada do porta-lápis no canto da escrivaninha, ela escreveu o primeiro verso: Manhãs assim — partíamos — e mergulhou nas palavras, gesticulando com as mãos, olhando para a janela, para o canto da mesa, para o folha: dando vida a um poema, três estrofes, doze versos. Emily estava tão aprofundada em sua arte que não notou o barulho do chuveiro cessar, nem Sue sair do banheiro e muito menos Sue sentar-se em sua cama e observá-la escrever com os olhos brilhando em admiração e paixão — ela ficou sem reação quando notou, como se tivesse dado tela azul, ainda não estava acostumada a se sentir tão íntima com alguém e se sentir confortável com isso.
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900 segundos de tensão
FanfictionEmily Dickinson é uma jovem universitária da cidade de Amherst, que no auge dos seus 21 anos se encontra entediada. Certa noite, Emily marca de ir ao cinema com seu irmão mais velho, mas o que não esperava era conhecer uma das pessoas mais inspirado...