Demorei alguns dias para acreditar que tudo não passou de uma pequena ilusão.
Foi um sonho real, pude sentir cada momento como se estivesse acontecendo de verdade. Mais tarde, Caron me explicou que os demônios brincam com nossa mente, criam ilusões que na maioria das vezes podem enlouquecer as pessoas.
Perder Juliette pela segunda vez aumentou a minha sede de vingança. Esse monstro sem duvidas irá pagar por todo mal que me fez. Mas eu ainda sou fraco, meu poder não é o suficiente para confrontá-lo.
Fazia cinco dias desde aquele ataque misterioso. Caron me contou que Liza acabou com todos os demônios que estavam no outro lado da base, enquanto ele derrotou os que conseguiram invadir. Alex estava fora, e apareceu somente depois que tudo tinha acabado. Eu me lembro de ter destruído muitos monstros antes de encontrar... Antes de encontrar aquele demônio. Depois disso, me encontraram desmaiado, e assim fiquei por dois dias.
Era final de tarde, Alex e Liza saíram para uma missão. Eu ainda estava me recuperando do incidente, por isso fiquei em casa conversando com Caron.
― Eu fui fraco Caron, ― disse eu ―ele brincou comigo, como se eu não fosse nada.
Ele me encarou como se estivesse me estudando, parecia estar calculando alguma coisa, talvez pensando no que responder.
― Seja paciente meu jovem ― disse ele com uma grande tranquilidade na voz. ― Seu dia chegará.
Meu coração não estava mais aguentando. Todos os dias a minha raiva só aumentava. As cenas da morte de Juliette ficavam passando em minha mente, tanto a primeira vez quanto a segunda. A dor é insuportável. Tenho demonstrado na maioria das vezes estar bem, mas é evidente que por dentro me sinto péssimo.
― Eu preciso fazer alguma coisa. Não posso ficar parado enquanto esse demônio brinca comigo dessa forma. Eu sou um Hunter, você disse diversas vezes que temos poderes ocultos que podem ser despertados. Eu preciso desse poder agora! Preciso ficar mais forte!
Ele levantou-se, caminho dentro da cabana por alguns segundos, parecia tenso. Foi até a cozinha e buscou uma xícara de chá.
― Existe um meio para aumentar seus poderes garoto ― disse Caron sentando novamente ao meu lado ―, mas talvez você ainda não esteja preparado para isso...
― É claro que estou preparado! ― disse eu o interrompendo e saltando da cadeira.
― Não sei...
― Ora, vamos! Eu farei o que for preciso para ter a minha vingança! ― falei decidido.
Ele me encarou por alguns segundos, seus olhos encontraram os meus. Eu estava esperando sua decisão, se existe um meio de aumentar meus poderes, certamente eu devo tentar.
― Muito bem Michael ― disse ele cedendo ―, entretanto, saiba que eu apenas lhe mostrarei o caminho, você deverá percorrê-lo sozinho.
Assenti, concordando. Eu estava disposto a qualquer coisa para atingir meu objetivo.
― Você precisa entender que esse caminho é obscuro, e depois que trilhado não terá volta. ― disse Caron mudando sua expressão, ficando sério dessa vez.
Mas nada do que ele dissesse mudaria a minha decisão. Eu faria o que fosse preciso para ganhar mais poder. Só assim poderia vingar Juliette e acabar com aquele demônio de uma vez por todas.
― Muito bem ― disse ele levantando-se. Caminhou até um pequeno baú velho com alguns símbolos antigos gravados em seu casco. Nunca tinha percebido este objeto na cabana, talvez antes estivesse escondido em outro lugar. Ele o abriu e retirou um livro ainda mais velho, soprou a poeira e folheou algumas páginas.
― Aqui ― disse ele. ― Este ritual deve ser o suficiente por ora.
Tentei ler o que estava escrito no livro, mas Caron o fechou e logo o guardou. ― Que livro é esse? ― perguntei levantando a sobrancelha.
―Ãah... É como se fosse um livro de receitas, mas ao invés de comida ele tem rituais Hunters. Ele é muito antigo. Foi escrito pelos caçadores originais.
―Okay... Um livro de receitas mágicas ― concordei ―, mas algo me diz que você não fará um bolo para aumentar meu poder.
Caron sorriu. ― Infelizmente não garoto. Esse tipo de ritual exige ingredientes mais exóticos.
― Que tipo de ingredientes? ― perguntei.
― Bem... Em primeiro lugar, você deve capturar um demônio e trazê-lo até mim, ― disse Caron abandonando seu sorriso amarelado, ficando sério novamente ― vivo.
― Porque você precisa de um demônio vivo?! ― isso parecia insano.
― Faz parte do ritual Michael, será que você consegue?
― Já matei diversos demônios, nunca tentei capturar nenhum vivo, mas vou tentar sim. ― falei decidido.
― E lembre-se Michael, você deve trilhar esse caminho sozinho. Deixe Alex e Liza fora disso. Se possível... ― sua voz vacilou ― se possível nem comente com eles sobre esse ritual.
Isso foi um pouco estranho, porque eles não podiam saber? Mas não me importei, apenas concordei e pronto. Eu estava animado, e não é todo mundo que fica assim por causa de um ritual macabro, mas talvez essa fosse minha única chance de derrotar aquele monstro e conseguir minha vingança.
****
A noite chegou. Peguei minhas armas, pistolas e espada. Chegou a hora de caçar, tudo estava normal, exceto pelo fato que dessa vez eu devia capturar e trazer o demônio vivo. Que tipo de ritual exige algo assim? ―pensei. Devo admitir que de inicio senti um pouco de medo, eu aceitei uma proposta sem nem ler os termos. Talvez estivesse cego pela vingança. Mas decidi ir até o fim, o que está feito, está feito. O que poderia acontecer? Nada! Confio em Caron, ele me salvou diversas vezes. ―controlei meus pensamentos e me concentrei na missão: encontrar um demônio e sequestra-lo.
Já mencionei como é difícil encontrar um demônio quando você está procurando? É horrível. Parece que eles nem existem. Entrei em diversos becos escuros em Nova York, e nada. Já passava da meia noite, as ruas estavam praticamente desertas. Continuei caminhando, esperando que alguma coisa acontecesse, mas tudo estava calmo. Será que demônios tiram folga? ―pensei.
―Aaaaaaaaaaaaaaaaah!― antes que minha pergunta pudesse ser respondida, um grito agudo rasgou o silêncio da noite. E eu fiz o qualquer um faria, corri até sua origem.
Um homem e uma mulher. Ela parecia estar inconsciente, ou talvez morta, seu corpo estava estirado no chão. Ele estava com as mãos sujas de sangue, e seus olhos... Seus olhos eram vermelhos. Encontrei o que estava procurando. Ao me ver, o monstro tentou correr. Mas antes que pudesse tomar qualquer distância, saquei minha arma e atirei.
Buum!
― Aaaargh! ―gemeu o demônio caindo no chão, com uma bala mágica enterrada em sua perna.
Aproximei-me lentamente, o monstro se arrastava e praguejava algumas coisas em latim. Normalmente cortaria sua cabeça fora, mas precisava dele vivo.
― Você virá comigo ― falei apontando a arma para ele.
―Hahahaha! E porque eu iria com você? Prefiro morrer! ― exclamou o monstro levantando e saltando sobre mim.
Em um movimento rápido, esquivei-me para o lado e o segurei pela camiseta, saquei minha espada e enfiei em sua perna boa.
―Aaaaaaaaaarghh! ―gritou de dor o demônio.
Caron disse que precisava dele vivo, mas não inteiro. Após inutilizar suas pernas, o amarrei e o arrastei pela cidade, ele se debatia e me chamava de nomes que nem ouso repetir.
Até que foi fácil, pensando bem... Fácil demais... O que será que Caron fará com esse monstro? ―agora é tarde demais para pensar nisso, devo apenas confiar e me preparar para o que está por vir.
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Hunters - o caçador das sombras
TerrorDepois do incidente com Juliette o mundo de Michael não é mais o mesmo, tudo está diferente. O perigo está em todos os lugares, coisas estranhas tem acontecido. O destino do jovem rapaz está traçado, ele deve cumprir uma missão, movido por um dos se...