Olho de tempestade

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Adrien dera um grunhido quando abriu a porta do quarto, um tripulante estava parado na porta aguardando de forma ansiosa. Os cabelos dele brilhavam numa bagunça ruiva ao ser posto contra a brisa gélida. Os olhos azuis turquesa se mexiam descontrolados sem manter um foco. O vento da noite era agressivo. Feroz. Como um animal selvagem se libertando. Mais uma batida contra o casco lhes desequilibrou, Marinette quase torceu o tornozelo.

— Relatório. — Adrien ordenou. Nada de sua voz sarcástica ou brincalhona. Apenas um capitão postando-se na linha de frente.
O pirata ofegou enquanto tentava manter o equilíbrio. — Tempestade. — Ele falou alto, lutando contra o som do mar. — O mar está incontrolável. A capitã está tentando manter o controle do timão. Contudo o imediato avistou formações rochosas logo a frente, podemos bater a qualquer instante.

— Cego sejas tu! — Adrien murmurou, irritado.

Os olhos verdes intensos observaram Marinette, que a todo custo buscava se manter em pé.

— Fique aqui! — Ele gritou. — É perigoso no convés.

A princesa rangeu os dentes e segurou na parede mais forte. — Palavras estranhas a se dizer a uma refém!  

— Você não é uma refém! — Adrien lhe analisou com os olhos incandescentes — É uma clandestina. — Ele atravessou e olhou para o pirata, a postura impecável. — Não deixe-a morrer e nem se ferir. — Foi tudo que ele disse antes de sumir de vista.
Marinette conteve a raiva dentro de si, lembrou-se daqueles inúmeros guardas que seus pais, mandados para persegui-la por onde andava. "É para sua segurança". Essa era sempre a desculpa. 

Olhou para o pirata, ele engoliu em seco e deu um sorriso nervoso. Se curvou hesitante, como se não soubesse como agir perante a presença dela.

— Não é nada demais, contando que fique aqui.

Ele se segurou na parede ao balançar. Marinette escutou a água agitada, o barulho se tornava cada vez mais alto. Se continuasse daquela forma, ela vomitaria de tanta náusea. 

Ouviu gritos vindos do convés e um relâmpago acendeu os céus ao ponto de iluminar o quarto, o trovão veio logo após. Barulhento e assustador. O pirata moveu-se para o lado dela, ficando próximo para ajudá-la a se proteger. O navio pendeu para o lado, os livros e mapas caíram das prateleiras. Precisou desviar para o lado para não ser atingida por um peso de papel. Um estalo foi ouvido, o som de vidro se rachando. 

Marinette respirou profundamente, assustada. Ao ver o vidro da janela se romper, os cacos de vidro voaram para os lados. A cama aconchegante tornou-se um emaranhado de cortes e um dos pedaços raspou pelo braço sensível da princesa. O sangue e a água mancharam suas vestes, ela apenas grunhiu. Porém o ruivo foi o mais atingido, tendo parte do rosto cortado. Água escorria pelo buraco, vindo em jatos. O quarto aos poucos virava um pequeno lago. 

— Tem certeza de que ainda é seguro aqui?

— A azulada berrou.

— Não. — O ruivo respondeu. — Mas muito mais que o restante do navio.

Marinette assentiu, apavorada. Subitamente se deu por conta de que não era apenas da tripulação que deveria se atentar, mas também aos perigos que envolviam o mar. Aquilo era normal? Uma tempestade de começo silencioso capaz de desequilibrar tudo e todos. 

Foi quando ouviu gritos e sofreu mais um balançar, eram gritos de terror. Marinette tentou usufruir de toda sua frieza para ignorá-los, porém sentia o embrulho em seu estômago e a bile querendo subir pela garganta. Eram piratas, mas ainda eram pessoas. 

Olhou para o ruivo do seu lado, ele ainda usava seu próprio corpo de escudo para protegê-la. Como aqueles inúmeros guardas reais que guardavam sua gratidão eterna, mesmo que pudessem ser muito pegajosos. 

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