Cap 18

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Estou praticamente jogado no tapete da sala, vestindo apenas uma bermuda enquanto finalizo mais um artesanato. O colar de cobre foi um pedido de uma nova cliente, e modéstia a parte, está ficando incrível. Embora minhas mãos e meus dedos vivam arranhados e cortados por causa do material e das ferramentas que utilizo para dar vida as minhas artes, eu me sinto satisfeito com o resultado e o contentamento dos compradores. Completamente concentrado, de forma ágil, mas precisa, vou dando os últimos retoques na peça.

- Eu sou uma inútil - Isabela reclama chamando minha atenção, chegando na sala e se esparramando no sofá.

Como a guarda dela é compartilhada, ela passa alguns dias da semana com Daniel e os outros com Caíque.

- O que foi? Qual o problema? - indago direcionando toda a minha atenção para ela.

- Por mais que eu tente, eu não consigo aprender a tocar acordeon - ela ajeita o corpo e se senta no sofá. - Você poderia me dar mais algumas aulas. A didática do meu professor é péssima.

Sorrio com amenidade.

- Certo, vamos lá... - deixo meu trabalho de lado, afinal estou mesmo precisando de uma pausa, me levanto e sigo em direção do quarto dela, ela vem logo atrás de mim, pulando animada, me agarrando pelo pescoço e me dando um beijo na bochecha.

- Eu já te disse que você é muito foda? - ela exclama me apertando. Fico rindo. Já estou acostumado com o comportamento despojado de Isabela. Ela gosta de música e eu também. Então não foi nada difícil fazer amizade com ela. Daniel ficou muito feliz de saber que nos demos bem desde a primeira vez que nos vimos. Porém, o fato de Isabela ser super desencanada, comunicativa e extrovertida como pai facilita demais nossa relação. Ela já tinha vontade de aprender a tocar acordeon e quando soube que eu tocava, aí que se empolgou de vez. Isabela também toca violão, guitarra e baixo. A garota de apenas 15 anos já é uma musicista.

- No que você está tendo dificuldade? - me sento em sua cama pegando em seu acordeon que ela deixou largado no meio dela.

- Em tudo - ela sorri divertida. - Não consigo pegar o ritmo. Fica tudo técnico demais, sem emoção, pareço um robô tocando...

- Você sabe que tocar um instrumento é muito mais do que seguir uma técnica, é como se ele fosse uma extensão de nós mesmos. Ele só exterioriza o sentimento e a emoção que nós queremos transmitir. Tocar acordeon não é a mesma coisa que tocar um violão, mas a intenção continua sendo a mesma - começo a tocar uma canção que eu aprendi com meu pai. Foi ele quem me ensinou a tocar. Ele amava tocar. Era ele que animava nossas festas e temperava confraternizações em volta da fogueira. Acabo me entregando a nostalgia desses momentos que ficaram no passado e fecho os olhos, mergulhando de corpo e alma na interpretação da canção. Sinto algo quente, macio e molhado encostando nos meus lábios. Abro os olhos rapidamente e me deparo com Isabela me beijando. Me esquivo imediatamente ficando de pé.

- O que está fazendo? - indago confuso.

- Me desculpa, eu, eu perdi a cabeça... - a garota se perde na própria explicação.

- Você sabe que isso foi muito errado! - repreendo ainda em choque.

- Por quê? - de repente ela perde a timidez e me afronta. - Eu já sou bem grandinha pra decidir quem eu quero beijar!

- Eu não duvido disso, mas eu sou namorado do seu pai e você é praticamente minha enteada!

- Eu não sou ingênua, está legal? Eu sei que meu pai tem um relacionamento aberto com você e o Ícaro.

- Mas isso não é sinônimo de bagunça.

- Eu sei, mas é que foi mais forte que eu... Você é um cara tão bacana, eu bem que tentei lutar contra esse sentimento, mas a verdade é que eu estou a fim de você...

Beba deste cálice (CIGANO/GAY)Onde histórias criam vida. Descubra agora