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J U N G K O O K


Estou oficialmente jogando pelos ares todo aquele papo de aturar meu pai pois posso chingar ele mentalmente. Eu quero esfolar a cara desse filho da puta. Quero que ele enfie esses malditos cigarros na bunda, e que vá para a puta que o pariu. Me desculpe, vó, mas o seu filho é um cuzão.

Ele não fez nada em especial para o meu ódio ter, aparentemente, aumentado tão de repente, é só que a mesma droga de rotina, com as mesmas coisas que te incomodam profundamente, e que a convivência com pessoas com personalidades de repolho, só podem resultar em uma coisa: eu sou oficialmente uma bomba relógio. E digo mais: o tic-tac da bomba tá avisando que vai explodir.

O Jungkook de alguns meses atrás, estaria se borrando de medo de explodir, o que difere bastante do atual, que não se importa mais com a possibilidade de explodir, e sequer se lembra do porque tanto medo de causar uma explosão e atingir algumas pessoas.

Okay, talvez seja bem compreensível esse medo, mas as coisas que vem acontecendo, me enfiaram numa situação em que eu deixei de me importar até mesmo com isso. Agora, a única coisa importante é uma meta — que talvez sequer seja possível de ser realizada —: conseguir sair dessa fortaleza, ficar extremamente alcoolizado, passar em frente à empresa do meu pai, tacar uns ovos na fachada, mostrar os dedos do meio e mandar todo mundo ir se fuder. E, sim, esses meses me tornaram alguém mais revoltado.

Jimin ficaria orgulhoso de mim...

Depois de algum tempo, eu simplesmente deixei de olhar o calendário — coisa que fazia apenas ter certeza de que o tempo está passando, e não de que eu estava preso num loop de repetição de dias com apenas algumas alterações enfadonhas —, e agora, me resta apenas achar que estou preso numa simulação de realidade, onde a rotina é a mesma, apesar das horas passarem. Minha mente está sendo consumida, vagarosamente, por uma enxurrada de teorias da conspiração.

Os dias se tornaram uma incessante sessão de tortura, com uma fortaleza de pais abusivos e babacas, um trabalho de merda e uma frequente sensação de não pertencimento.

Não é só o fato de eu não pertencer a este lugar que grita, é o fato de eu não pertencer mais a mim mesmo; é o fato de eu não pertencer mais ao meu corpo, minha pele. Não estou mais vestindo meu esqueleto, ele foi alugado por uma versão minha extremamente fodida e sem esperança alguma, que só se preocupa se no final do dia vai conseguir dormir sem precisar ouvir de perto as discussões dos que um dia chamou de pai e mãe. É como se minha vida não pertencesse mais a mim.

Eu me lembro de nunca ter tido uma relação perfeita com eles; me lembro das brigas, da gritaria, dos conflitos, e dos dias que eu passava escapando pela janela do quarto apenas para não precisar falar ou olhar para eles — normalmente, fugia para a casa de Jimin, e a gente se entupia de maconha ou alguma porcaria —, mas naquela época, eu pelo menos sabia que o motivo de tanta raiva e briga, era eu. Tinha certeza de que era o único alvo para ambos destilarem seu veneno. Mas, aparentemente, os anos em que estive longe mudaram algo: eles não tinham mais um Jungkook em quem descarregar o estresse de uma vida toda; eles tiveram que aprender a usarem um ao outro como saco de pancadas. E isso, claramente, não fez a raiva presente nas palavras, se dissipar.

Meu único refúgio se tornou poder ir ao banheiro em horário de trabalho, fingir estar com dor de barriga e chorar por pelo menos meia hora — o que sempre acaba me rendendo um esporro, com frase principal "tenho certeza que você não ficava se cagando quando comia nesses botecos de estrada...", o que resulta em um Jungkook robótico se segurando para não dizer "realmente, papai, eu não passava mal com a comida de estrada porque não era usado veneno na hora do preparo, como sua esposa costuma fazer". Mas acho que dizer isso me submeteria a situações piores.

Uma vez, ouvi de alguém que, em certas situações, era melhor ouvir tudo calado, aguentar toda a situação, porque as vezes as pessoas só querem gritar e falar merda, só precisam descarregar a raiva em algo, pra logo depois se arrependerem, e voltarem ao normal, fingindo que nada aconteceu, mesmo sem uma porra de pedido de desculpas.

Eu nunca vi muito sentido nessa história; nada se encaixava muito bem, e nada deveria se encaixar.

A sua raiva não deveria ser motivo para descarrega-lá em alguém, e o seu arrependimento depois de fazê-lo, não é e nunca vai ser suficiente para apagar ou amenizar a merda que você acabou de fazer.

Na teoria, essa opção te faria ouvir tudo que a pessoa está dizendo, mas ignorar: o clássico entrou por um ouvido, e saiu pelo outro. Mas, na prática, a teoria se mostra fraca: você não consegue simplesmente ouvir tudo e não levar pro coração — e se você consegue, parabéns, você tem sangue de barata. Na prática, absolutamente tudo vai surtir efeito imediato, não importa se você meditou pensando "é tudo da boca pra fora". As coisas não funcionam assim.

O fato de "tudo ser da boca pra fora", não diminuía as cicatrizes causadas. Isso nunca acontece.

Agora, devem ser sete da manhã; a mulher que um dia chamei de mãe — antes de seu veneno corroer seu título de progenitora —, está na cozinha, batendo nas panelas que dormiram no escorredor da pia, rotina que ela criou justamente para me acordar. Só não tem ideia de que, por coincidência, eu mal tenho pregado os olhos durante a noite.

O cara cuja alcunha já foi papai, deve estar sentado na mesa do café da manhã, lendo um jornal fedorento e cheio de notícias ruins, enquanto toma café preto. A carne do almoço começa a descongelar na pia. E eu, tô pensando seriamente em fingir que morri dentro deste quarto.

E se eu acidentalmente escorregar no banheiro e bater a cabeça? E se acidentalmente eu cair na escada? Assim, só pensando nisso... Seria uma puta sacada, sabem?

...

Notas

eu sei, eu sei. demorei para um santo caralho... Minhas desculpas estão sumindo ou se tornando inválidas...
to num bloqueio criativo do cacete, e isso tá se juntando com todos os outros problemas, e me deixando mais mal do que eu costumo estar.
eu tava numa vibe de esperar a criatividade vir, pra não pegar o celular e escrever logo uns 10k de palavras, mas, não rolou. o máximo que consegui, foi 500 palavras espalhadas entre não sei quantos dias, e uma revisão que demorou ainda mais. porém, tenho conhecimento de que não rola né obrigar a escrever, se não vai ficar tudo cagado, eu vou me estressar, e acabar apagando tudo.
ENTRETANTO, sou obrigada a dizer aqui que estou com uns vinte mil plots de histórias engavetados, esperando desenvolvimento ou algo do gênero, porém, me falta incentivo e coisas que normalmente nos fazem correr atrás do que queremos (é falta de força de vontade 😚✌). o que vocês acham de eu desengavetar algumas ideias???

Obrigada por não desistir dessa história, nem dessa maluca que sonha em ser escritora!! ♡

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