Volte duas casas

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Nami estava acostumada a sentir medo, não que ela lidasse bem com isso mas querendo ou não era parte de sua vida. Ela sentia medo por seus queridos amigos todas as vezes em que eles estavam em uma batalha. Medo de que piratas como Arlong encontrassem sua amada vila. Medo de perder seus entes queridos. Medo de não conseguir completar seu sonho. Medo de não ser capaz de ajudar seu capitão a conquistar seu sonho. Medo de sentir dor, mas não qualquer dor, aquela dor dilacerante que sentiu ao ver sua mãe morrer. Ela tinha tanto medo que fugiu de seus próprios sentimentos, por anos ela fugiu se escondendo atrás do dinheiro e de seu sonho, mas ali estava ele, aquela lembrança constante daquela dor e de como havia sido covarde, aquele rosto que a congelava de medo e fazia seu sangue ferver de ódio.

-Arlong. -Ela pronunciou o nome dele como se fosse a pior das ofensas.

-Há quanto tempo, Nami. -Ele sorriu revelando seus dentes brancos e afiados. -Espero que tenha tenha pensado em mim. -Aquela voz, aquele cheiro repulsivo... Ela queria correr e gritar, mas não mostraria a ele como ele ainda a afetava. -Porque eu tive bastante tempo para pensar em você... E no seu "bando". E pensar que você gostaria de ser uma pirata afinal de contas. Sha ra ra ra ra ra!

Ela apertou firmemente suas mãos em volta do Clima Tact, tentando controlar a raiva e o medo, mas acima de tudo ela precisava de tempo para bolar um plano, algum que a mantivesse viva até o nascer do sol de preferência. Então ela se forçou a sorrir, aquele sorriso falso que se tornara sua máscara durante anos, mas ela precisou cavar fundo para se lembrar de como encarar o tritão, de como não vomitar e cuspir em sua cara. Ela havia passado tanto tempo com Luffy, sorrindo de verdade que quase se esqueceu de como era colocar aquela máscara repulsiva.

-O que está fazendo aqui, Arlong? -Aquela era uma pergunta cuja resposta ela realmente queria saber, mas acima de tudo precisava ganhar tempo, antes que ele ficasse entediado.

-Você sabia que Impel Down abriga algumas pessoas extremamente interessantes? -Ele caminhou lentamente em direção a ela, passando os dedos pela mobília enquanto falava, como se estivesse distraído com a perfeição com que a mobília era capaz de imitar o Arlong Park. -Talvez eu devesse dar mais crédito a alguns humanos. Vocês sabem ser interessantes quando convém.

Sem qualquer tipo de aviso ele segurou firme o pescoço de Nami, erguendo-a do chão, fazendo com que ficassem cara a cara.

-Esperei muito tempo por isso. -O sorriso do tritão agora estava completamente desfigurado, algo diferente de tudo o que ela já tinha visto. Ela sabia que Arlong era um monstro mas a loucura que havia assumido seus olhos, aquilo estava em outro nível. -Sha ra ra ra ra ra!

Em um segundo Nami estava nas garras do tritão, no outro ela estava no chão em meio aos destroços de uma mesa do outro lado do cômodo. Arlong voltou a caminhar em direção a ela lentamente, saboreando cada segundo, cada gota de sofrimento que conseguisse arrancar dela. Um plano, ela precisava de um plano, qualquer coisa. Mas a única ideia que vinha a mente no momento era correr, então ela correu, correu para as escadas e se escondeu no andar de cima. Ela duvidava que fosse mais rápida que Arlong, mas ele estava gostando da caçada, de dar esperanças a ela só para que doesse mais quando a dilacerasse, e ela sabia exatamente como usar isso a seu favor. Haviam mais formas de se vencer uma batalha do que um conflito direto, diferente do que aquele cirurgião de merda pudesse pensar, e aquela era sua especialidade. Ela sorriu com o plano que se formava em sua mente. Se tudo desse certo ela teria apenas uma chance, então precisava fazer direito.

Arlong já havia alcançado o andar de cima e procurava por ela. Ela não teria muito tempo pois logo o olfato apurado de Arlong a encontraria, então silenciosamente ela tirou seus sapatos e os jogou na direção de um quarto, o barulho atrairia a atenção do tritão tempo suficiente para que ela pudesse correr para o outro lado e...

-Achei que você era mais inteligente, Nami. -Ela mal havia saído do lugar, mal havia se mexido e ele já estava ao seu lado. Ela mal teve tempo de pegar um dos pedaços de seu Clima Tact quando os dentes afiados do tritão quase acertaram seu braço, fazendo com que ele mordesse o metal frio e duro.

Sem conseguir soltar seus dentes do metal ele segurou Nami e a jogou novamente contra uma parede, mas dessa vez uma parede repleta de armas que cortaram a carne da navegadora assim que ela atingiu o suporte de metal. Tentando ignorar a dor ela conseguiu ouvir o som de marfim e metal atingindo o chão em algum ponto do outro lado da sala.

Quando percebeu onde Nami havia caído, Arlong pegou uma das espadas que estavam no chão e a fincou na coxa dela, prendendo-a ao chão. Nami gritou de dor ao sentir a faca cravada em seu osso. Ele se virou para pegar outra espada, mas estava distraído demais, dando a Nami a chance de pegar outra parte de seu Clima Tact e acertar com toda a força que tinha em seu olho, fazendo o tritão cambalear para trás amaldiçoando a navegadora. Não ousando tirar a espada de usa perna Nami começou a se arrastar na direção do som que havia ouvido antes quando um forte tapa a jogou para longe, por sorte próximo o bastante da primeira parte do Clima Tact que havia caído.

Ela começou a se arrastar na direção do fragmento quando um enorme braço a virou e um peso enorme atingiu seu peito. Duas mãos seguravam firmemente sua garganta sufocando-a. Ele era mais forte que isso, muito mais forte, e ela sabia, mas ele estava se contendo porque queria que ela sofresse, queria que fosse lento e doloroso.

Os dedos dela buscavam freneticamente o fragmento enquanto sentia sua visão escurecer, até que finalmente atingiram a superfície fria e rígida. Com as mãos tremendo ela fincou a dentadura presa ao fragmento no braço de Arlong, a surpresa por ser cortado por seus próprios dentes fazendo-o afrouxar as mãos, tempo suficiente para Nami montar seu Clima Tact e golpeá-lo novamente com a dentadura presa, mas dessa vez no pescoço, onde a pele era mais fina e um enorme corte se abriu. Ele fez menção de recuar, mas Nami rapidamente enfiou a ponta do Clima Tact no ferimento e o ativou.

-Thunderbolt tempo!

O choque foi tão forte que fez com que o piso cedesse e ambos despencassem para o andar debaixo. Por receber a maior parte do choque, o tritão caiu completamente desacordado em cima dela. A dor do impacto com o chão e com o corpo de Arlong expulsou todo o ar dos pulmões dela e a dor, ela queria gritar, mas não conseguia fazer nada além de arfar em busca de ar, cada respiração forte fazendo suas costelas doerem cada vez mais. Ela lutou contra o corpo do tritão para tentar tirá-lo de cima, porém quanto mais força fazia mais seus músculos protestavam e mais sangue ela perdia. Ela perdeu tanto sangue que sentia sua cabeça leve, como se estivesse prestes a desmaiar a qualquer momento, mas ela continuou até conseguir se libertar do peso dele.

Ela não tinha forças para levantar e não podia sair da casa até que o dia amanhecesse, então ela apenas se encolheu no canto mais próximo enquanto observava o corpo do tritão. Não sabia se ele estava apenas inconsciente ou morto, e cada vez que o vento balançava os cabelos dele ou que um inseto pousasse em suas roupas, qualquer sinal de alerta a fazia tremer com medo do que ele poderia fazer com ela se acordasse.

Aquela foi uma longa noite na qual ela não dormiu, passou horas empunhando seu Clima Tact, tremendo de medo e tentando não perder a consciência pela falta de sangue. Mesmo quando os primeiros raios de sol atingiram o quarto ela não se permitiu relaxar pois toda vez que fechava os olhos via a imagem do corpo de Arlong a sua frente. Ela queria muito sair daquele lugar e nunca mais olhar para trás, sua vontade era tamanha que ela cerrou os dentes e se obrigou a levantar, mesmo com cava movimento provocando uma dor alucinante. Ela se apoiou em sua arma e cambaleou para fora, e quando o Clima Tact parou de funcionar como muleta, ela usou as árvores da floresta, se apoiando nelas e se jogando para frente, para a próxima árvore, e assim ela seguiu floresta adentro, não descansando até chegar à praia e por sorte ou destino rostos familiares a encontraram. Naquele dia ela pode ter chegado a pensar que viveu o inferno, mal sabia ela que ainda iria sentir uma dor muito pior.

Sorte ou RevésOnde histórias criam vida. Descubra agora