Alive

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Boa leitura 💚

Dois meses depois.

Dick Grayson pov.

- Você deveria ter me dito que não tinha controle. — disse Bruce como fazia sempre que vinha comigo até aqui.
- Eu tinha tudo em controle.
- Como isso parece em controle ? — pergunta ele apontando para a garota apagada sobre a pequena cama, cercada de homens que encaravam seu corpo frígido.
- Você está com a garota Carson em segurança, não está !? — pergunto irritado apertando os punhos com força.
Bruce me encara e alivia a expressão severa em seu corpo me puxando pelos ombros.
Sentamos nas cadeiras ao lado da sala onde o corpo de Frank descansava.
Os últimos quinze dias foram tortuosos.
Eu mal conhecia a garota, era verdade.
Ainda sim, eu dirigia vinte minutos infernais para vê-la todos os dias no primeiro horário da manhã.
E todos os dias, eu me deparava com flores que eu gostaria muito de jogar pela janela, principalmente depois de meu último encontro com remetente delas.
Eu sabia que Jason também vinha vê-la todos as noites, as flores vermelhas sempre deixadas na janela eram como um lembrete de que tanto eu, como ele, sentimos a perda.
E que vivemos um inferno.
Foi claro em nosso encontro em uma madrugada de visitas a Frank onde Jason parecia com raiva demais para seu próprio bem, ele tocou em Frank e eu explodi, isso justificava meu olho ainda machucado e o motivo do porque eu ficava aqui durante o dia e ele, no período da noite.
Jason foi quem encontrou o corpo de Frank.
Jogado e quase sem vida sobre uma escada de incêndio na lateral do prédio da faculdade. Seu corpo estava recoberto por bolhas de queimaduras e apenas seu rosto permanecia intacto, graças ao que parecia um boné de beisebol que a garota usava até em nosso encontro aquela manhã.
A "chuva letal" como ficou conhecida, foi uma junção química feita por Jonathan Crane, o espantalho, para que a população de Gotham fosse aniquilada por um derivado químico de seu gás do medo.
Bruce encontrou Crane e levou-o para Belle Reve, assegurando-se de que conexões políticas e policiais não o fariam escapar das mãos severas de Amanda Weller na cadeia mais uma vez.
Com as diversas mortes e feridos deixados naquele dia, busquei Brianna Carson e disse a ela a situação em que vivia. Que ela provavelmente seria morta. O que eu evitava fugiu ao meu controle então foi mais fácil apenas dizer a verdade a ela que concordou em viver em um abrigo seguro que Bruce cultivava em Star city.
Desde então, eu estava liberado a voltar para minha vida na Califórnia.
Mas eu decidi ficar.
E todos os dias, com Frank ainda em coma pela queda e ferimentos, sem acordar para dizer uma palavra, foi o período que mais me aproximei de alguém que não fosse um herói ou uma missão.
Nos primeiros dias, eu passava meu tempo na sala de espera, pronto para brigar com qualquer um que se aproximasse. Quando os irmãos e pai de Frank chegaram de suas cidades, começaram a perguntar o motivo de minha vinda todos os dias e como conseguia acesso ao quarto de Frank.
Expliquei a eles que era um amigo da faculdade e filho de Bruce Wayne, dono da fundação Wayne, que se propôs a pagar "generosamente" todo o tratamento e estadia de Frank no melhor hospital da cidade. James, seu irmão mais velho já era um conhecido de Bruce e foi quem convenceu os outros a me deixar ficar.
Agora, com as visitas diárias, conheço mais de Frank Jones do que qualquer outra pessoa em Gotham. Sei que sua cor favorita é azul, que perdeu a mãe para um câncer cerebral, que é a caçula da família com apenas dezenove anos, que é campeã na corrida de tratores em sua cidade natal, que sonhava em ser paraquedistas e que seus irmãos viviam tirando-a de lugares altos quando criança, que liga para pelo menos um membro da família todos os dias, que adora beisebol, que nunca teve um namorado e que costumava ajudar o pai e o irmão Brian com os negócios de encanamento da família. Eu até sabia que era a única em sua família que havia puxado os cabelos ruivos da mãe mas que como seus irmãos, tinha os olhos de seu pai.
Eu sinceramente desejava todos os dias que ela abrisse aqueles olhos novamente.
Meu tempo aqui me dava lembranças das poucas memórias com Frank, coisas que não notei.
Frank Jones tinha covinhas na lateral de seus lábios que só apareciam quando sorria, ela gostava de café mas não tocou nos muffins que comprei para ela, que tinha uma péssima postura carregando a bolsa enorme cheia de coisas inúteis todos os dias.
Eu só iria embora quando soubesse que Frank estaria bem, viva e sorrindo por ai mais uma vez.
Bruce achava que eu estava obsessivo, então começou a me acompanhar em algumas visitas.
- Escuta, garoto, você precisa tocar sua vida de novo. — disse ele passando as mãos sobre o rosto.
- Você pode voltar a lidar com os problemas do mundo, eu estou bem. — digo a ele.
- Não posso lidar com os problemas do mundo se meu filho está aqui.
- Você sabe que não é bem assim. — sorrio amargo.
- Artemis e Conner mandam mensagens perguntando como você está. — diz e eu o encaro. – Você abandonou seus amigos por alguém que você nem conhece.
- Não faça isso. — digo a ele. – Você não quer falar de Frank pra mim, acredite.
- Tudo bem, garoto. — solta um suspiro cansado. – Eu estou aqui para você.
- Obrigado. — respondo a ele. – Sei que está ocupado, ficarei bem sozinho.
Ele assente e com batidinhas em meu ombro, se levanta da cadeira ao meu lado, deixando-me.
- Você parece mais bravo que o normal. — olho para trás e encontro Sr.Jones trazendo dois copos em sua mão, era chá quente, como todos os dias. – Seu pai parece triste com isso. — se sentar me entregando um copo.
- Meu pai se preocupa muito. — tento sorrir encarando o copo de isopor cheio de chá em minha mão.
- Ele é pai. — sorri triste.
A pior parte além de ver Frank naquele estado, era sentir a dor da sua família. Todos os dias conversávamos por longas horas, estávamos próximos como se nos conhecêssemos há anos.
- Como está ? — pergunto a ele e vejo-o passar as mãos no cabelo recém começando a ficar grisalho.
- Doloroso. — diz ele. – Sabe, eu nunca quis que ela viesse para cá, mas respeitei o desejo de seguir os passos da mãe dela. — suspirou bebendo um gole de seu chá. – Frank tem o mesmo espírito aventureiro de sua mãe.
- Como ela era ? — pergunto.
- Como Frank. — sorri absorto em seus pensamentos. – Parece indefesa e sensível para nós e quando piscamos, estão mandando em nós e sendo duas vezes mais forte do que qualquer um.
- Ela parecia tão pequena e sensível.
- Você precisa ver ela dirigindo um trator enorme. — lembra ele. – Parece um peixinho raivoso.
Sorrio imaginando os longos cabelos ruivos de Frank balançando com o vento do campo enquanto dirige um trator.
- Quer entrar para vê-la ? — pergunta sr. Jones. – Manterei James entre você e Luke, eu prometo.
Luke Jones parecia ser o único entre os irmãos de Frank que não gostava de mim.
Ele me odiava, dizia que um desconhecido não deveria se aproximar de sua irmã.
Em parte eu concordava.
Mas em parte, eu precisava estar ali.
- Farei isso. — digo a ele que se levanta e me acompanha até a porta ao lado.
- Não quero brigas. — diz Sr.Jones ao abrir a porta. – Isso não está aberto à discussões. — disse por fim me dando espaço para entrar.
Ouço o resmungo irritado de Luke e o vejo se afastar da irmã, caminhando até o lado oposto do quarto.
Me aproximo de Frank, encarando-a.
Ela não abria os olhos, apenas respirava tranquilamente, como se estivesse em um sono profundo.
Antes, eu não havia reparado totalmente na beleza de Frank, agora, podia ver o rosto delicado e levemente pálido, as leves sardas e os lábios rosados.
Nesses últimos meses, era tudo o que eu fazia e toda vez que eu entrava para vê-la, ficava incerto do que fazer. Hoje, sem pensar muito sobre, apenas seguindo um impulso idiota, resolvi segurar sua mão, ela estava gelada.
- Já chega. — rosnou Luke partindo para cima de mim e me jogando contra a parede. – Você é um doente mental ou algo assim !?
- Luke...— tentou dizer o pai.
- Não pai, esse maníaco vem aqui todos os dias sem ao menos conhecer ela o suficiente. — diz ele. – Agora ele quer ficar tocando...qual o próximo passo !?
- Luke, já chega. — disse Daniel.
- Não, Daniel. — empurra o irmão que veio tentar afastá-lo de mim. – O próximo passo é beija-lá seu merda ou transar com ela !? — pergunta me apertando contra a parede.
Eu poderia revidar e transformá-lo em saco de pancadas mas de certa forma, eu não queria lutar contra a raiva e a dor dele, eu entendia o que era sentir aquilo.

E então aconteceu...

No meio do caos entre seus irmãos e eu, ouvimos o bipe disparado dos aparelhos de monitoramento cardíaco. Luke me soltou e correu para o lado da irmã.
- Frank ? — perguntou Brian sussurrando. – Ela mexeu a mão! — disse empolgado.
- Frank Stein, estamos aqui. — disse James emocionado.
E então para a alegria de todos naquele quarto, Frank abriu seus olhos.
As grandes íris verdes se abriram avidamente, começando a circular pelo espaço em que estávamos, logo depois começaram a vasculhar com carinho os rostos de sua família até que pararam sobre mim, em uma expressão confusa.
- Vou chamar a enfermeira, querida. — disse Sr. Jones correndo para o corredor.
- Oi Frank. — disse a ela que me encarava inexpressiva.
Esticou sua mão apontando para uma garrafa de água sobre a mesa no canto do quarto. Seu irmão Brian alcançou a garrafa, abrindo-a e levando aos lábios da garota que tomou alguns goles e coçou a garganta.
- O-oi. — disse ela ainda rouca.
- Hum, essa voz de fumante não parece muito boa. — disse Luke sorrindo.
- M-melhor q-que a sua. — disse ela e sorriu.
Os garotos comemoraram caçoando dos dois caçulas.
O sorriso de Frank era realmente algo que jamais poderia ser apagado.
Mandei mensagem para Bruce, avisando da melhora da garota e enviei uma mensagem para o número seguro de Brianna.
A enfermeira logo apareceu, parecia realmente feliz com a melhora da garota. Era inevitável, Frank até mesmo sem dizer uma palavra, conquistava pessoas a seu redor.
- Faremos o check up nela e se tudo correr bem...amanhã a noite está liberada. — disse a médica de Frank. – Avise seu pai que está tudo coberto pela generosa doação. — disse ela a mim.
Encarei Frank Que me olhava confusa.
- Ele e seu pai pagaram seu tratamento e estadia aqui. — começou a dizer senhor Jones a ela. – Ele ficou aqui todos os dias, esperando que você acordasse.
Ela me olhou com estranheza.
- Vem. — chamou-me ela e eu me aproximei.
Inesperadamente a garota levantou a mão ainda frágil e com pequenas cicatrizes e levou até a minha mão, segurando-a. O choque entre nossas temperaturas foi notável, causando-nos um leve arrepio, ela sorriu e apertou suavemente.
- O-obrigada. — agradeceu em sua voz rouca.
- Sempre que precisar. — sorri.
Eu não pretendia soltá-la mas o barulho de Luke com sua garganta nos despertou, soltei sua mão e me sentei na poltrona no canto de seu quarto.
Frank e seus cabelos avermelhados intensos eram como a chama de uma noite fria na floresta.
Um alívio.
Um sopro de vida.
Ela estava viva, bem e segura, eu poderia voltar agora.
Eu voltaria...talvez.

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