Em uma cama confortável, vivia um hobbit. Ao invés de se sentir relaxado sobre a textura macia, Bilbo não parava de pensar em que instante seu marido, Thorin, entraria pela porta para que pudessem dormir juntos, ainda mais ao perceber que a estrutura da vela estava praticamente toda derretida. O pior não era aguardar o Rei anão e sim, perceber que esta era uma de outras vezes que o Bolseiro ficava nesta mesma situação.
Sentia-se mal por não ter o amado ao seu lado para esquentar a cama um tanto fria, assim como o clima da Montanha Solitária. Possivelmente, isso se devia à majoritária composição de pedra. O de cachinhos castanhos se perguntava se o Durin se ocupava de trabalho de maneira proposital, para que assim não ficassem tanto tempo juntos. Não gostava de sustentar essa teoria por conta da insegurança, afinal - sendo o governador de Erebor - Thorin tinha muito o que administrar.
— Será que ele ainda gosta de mim?... — involuntariamente, o de pés peludos perguntou alto para si mesmo — Não! Não! Para de pensar em bobagens, Bilbo! Ele não te pediria em casamento se não gostasse de você... Não é? — ah que ótimo, estou parecendo um louco falando sozinho, concluiu mentalmente. O que o assustou foi o súbito barulho da porta se abrindo, consequentemente percebeu o enrijecer dos músculos dos próprios ombros.
Era Thorin Escudo de Carvalho, cujo rosto continha evidente cansaço. Parecia que ele iria desmaiar a qualquer instante, ainda mais por estar encostado no batente da porta. Apesar de todos os pensamentos anteriores, Bilbo não pensou duas vezes e se levantou da cama para tomar o amado em seus braços. O peso deste não favorecia o hobbit de levá-lo até a cama, potencializado pelo estado quase dormente.
— Amrâlimê... — o Durin suplicou pela atenção do Bolseiro através do chamamento de seu apelido carinhoso, sendo isto o suficiente para a face deste se colorir em carmesim. Por mais tempo que estivessem juntos, o pequeno não havia se acostumado com tal tratamento até então, ainda mais quando o marido abria um sorrisinho. Portanto, estava derretido naquele instante — Finalmente... Estou com você...~ — chamou ainda cansado e logo sendo jogado na cama de casal.
— ... — ao olhar o próprio cônjuge sonolento, o hobbit não esperou já lhe tascou um beijo. Imediatamente, Thorin o retribuiu, por mais que ainda fosse um selinho delicado. Embora não costumasse ir além disso - pois o anão era quem tomava a iniciativa - Bilbo segurou a nuca do amado, a fim de aprofundar o ósculo. Com isso, pôde até ouvir um sutil som indecente vindo dos lábios do Rei, o que foi gatilho suficiente para o mais baixo ficar por cima. Por mais estimulado que estivesse, o Bolseiro se decepcionou ao perceber que o movimento labial vindo do de mechas negras regredia até ficar completamente nulo. Sim, ele havia dormido durante o beijo...
Você está de sacanagem comigo, o Bolseiro pensou já irritado. Não podia acreditar que Thorin teve a ousadia de cair no sono durante o momento que estava ficando bom por assim dizer... Ah depois dessa, o hobbit teria uma conversa séria com o anão assim que o Sol nascesse. Não esperaria mais um dia para conversar sobre a relação! Ao concluir isso, parou de espremer a faixa de seu roupão - hábito comum quando ficava nervoso - e se deitou de costas para o marido, a fim de apagar a pequena vela que havia no móvel próximo da cama.
Já no escuro da noite, Bilbo ficou um tempo fitando o teto, pois isso o ajudava a pensar. Perguntava-se qual seria a melhor forma de tratar do assunto que o injuriava. De maneira direta, isto era inevitável, porém sabia que - através de palavras - havia a possibilidade do Rei não dar tanto ouvidos, em razão da sua teimosia de pedra. Precisava pensar bem no como faria isso dar certo.
— Ah... Se ele soubesse o que eu passo todo dia... — falou consigo mesmo e isso o ajudou a bolar uma ideia, a qual o dava esperanças de que daria certo. Foi com essa proposta, que formulou em sua consciência, que fez o mau-humor de Bilbo desaparecer, o que o permitiu dormir tranquilamente.
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Em razão do sono leve, o hobbit pôde sentir o colchão se movimentando aos poucos, o que indicava o despertar de Thorin. Por isso, o ladrão se sentou na cama e ficou no aguardo. Felizmente, não demorou muito para que o anão abrisse os olhos e recebesse a admiração do marido, por conta das íris azuladas como o céu. Ainda entre bocejos, o Durin esfregou os olhos estimulados pelos raios de Sol e deu um sonolento bom dia ao amado.
— Bom dia, bem... Ahn, tem algo que eu queria falar com você — o Bolseiro responde de maneira calma, porém não foi o suficiente para o de mechas negras se manter da mesma forma. Sempre foi uma frase de se dar medo.
— Ih, lá vem. Sobre o que quer falar?
— Eu queria te propor um desafio: trocar de papéis — ao dizer isso, Bilbo pôde contemplar a expressão confusa do anão.
— Você quer que eu dê o meu-
— N-Não é isso! O que eu estou propondo é que cada um desempenhe o papel do outro. Então, eu seria o "marido" e você, a "esposa" — explicou ainda meio constrangido, ao mesmo tempo que tentava explicar do jeito mais didático possível. Fale a verdade, é ou não é perversão pensar que "trocar de papel" se refere apenas a sexo? O moreno sabia bem que Thorin tinha um lado pervertido, apenas não pensava que era tão aflorado.
— O que foi que houve para você propor algo assim? — foi a vez do Rei indagar o cônjuge.
— Pensava que gostasse de desafios, amor. É uma pena ver que você está jogando a toalha logo no início~ — como tinha ciência sobre o traço competitivo no Durin, Bilbo fez questão de cutucá-lo e ainda deu as costas para olhar acima dos próprios ombros. O que não havia previsto era ser envolvido pelos braços fortes do anão, ou seja, foi abraçado por trás.
— Ei... Eu não disse isso! Eu troco de lugar com você — Thorin falou convicto próximo ao aparelho auditivo do hobbit. Pobre anão, mal sabia no que havia se metido...
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Troca de papéis (O hobbit)
FanfictionPor estar um tanto frustrado com o próprio casamento, Bilbo Bolseiro se vê tentado a realizar uma troca de papéis com seu marido, Thorin Escudo de Carvalho. Surpreendentemente, o anão aceitou a proposta de boa vontade - o que era estranho devido à t...