One Shot

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Naquela manhã o noticiário falava sobre minha pessoa. Nome, fotos e até o meu lugar preferido - onde eu havia estado ontem.

Eu estava famosa.

Em casa, minha família estava reunida na sala, até mesmo meus pais que não se falavam desde o divórcio - que havia sido no meu aniversário de quatorze anos, dois anos atrás.

Todos os presentes falavam sobre mim.

Meu pai dizia ter orgulho de mim. Minha mãe disse que me amava. Minha irmã mais velha dizia que amava ver filmes comigo quando eu ia á sua casa, enquanto minha outra irmã dizia que amava fazer compras comigo - e riu ao se lembrar de pequenos bate bocas entre nós quando ela tentava mudar meu guarda-roupa.

Eles permaneciam ali sorrindo, juntos, como a família que eu sempre sonhei. Sorri minimamente e saí dali, resolvi passar pela casa da minha minha melhor amiga. Lá ela estava com outra amiga em seu quarto, essas que também falavam de mim. Comentavam como eu era uma amiga incrível e companheira e fungaram as vezes ao confessarem não me dar muita atenção, não ter muito tempo para mim ou não me darem apoio adequado - aquele ao qual eu sempre vos dava quando necessário.

Saí dali e caminhei por o meu bairro. Passei pela minha sorveteria favorita - ao qual eu ia com frequência. A senhorinha que era proprietária dali - e sempre jogava conversa fora comigo - estava por ali como de costume e falava de mim, com um sorriso no rosto, com os funcionários dali. Sorri com a cena e continuei minha caminhada.

Andando pelas ruas, passando pela praça, vi que alguns vizinhos tinham o mesmo assunto. Fiquei pouco envergonhada ao ouvir elogios sobre mim, como eu era bela, gentil e tinha sempre um sorriso no rosto. Ainda pouco acanhada, me retirei dali e resolvi ver meu melhor amigo.

Na sua casa, a tia - sua mãe, que eu carinhosamente chamo assim - estava na cozinha ao telefone e pelo visto eu era o assunto da conversa. Meu melhor amigo passou por ali e deu um sorriso á sua mãe, se dirigiu ao seu quarto e permaneceu ali. Tinha um sorriso estampado no rosto enquanto rolava a tela do celular vendo fotos nossa. Fofo.

Saí dali e fiquei perambulando pelas ruas do meu bairro. Passei o dia assim.

Eu estive na TV. Eu estava nos status de pessoas, conhecidas e desconhecidas, em todas as redes sociais possíveis.

Céus, eu estava famosa.

Minha melhor amiga e alguns colegas postaram foto comigo e dizia o quanto eu era necessária. Minha mãe fez um dos maiores textos dizendo que me amava. Meu pai não foi diferente, foi a primeira vez que ele postou uma foto nossa, era antiga, eu tinha uns doze anos na foto. Minhas irmãs também postaram foto com elogios e coisas do tipo. Eu não esperava isso delas. Na verdade de ninguém.

Eles nunca me disseram nada daquilo.

Dentre todos, meu melhor amigo foi o único que não havia postado nada. Já havia escurecido, era por volta das sete e meia da noite. Percebi isso quando passei em frente há um barzinho e em uma televisão que havia ali, começava o jornal da noite. Falava sobre mim novamente e meu lugar preferido. Ao lembrar disso resolvi ir pra lá.

A caminho do meu destino, resolvi visitar uma última vez minha família e amigos. Chegando a casa da minha melhor amiga, vi que a TV estava ligada no jornal e sua família se encontrava na sala com feições tristes, mas ela não estava lá.
Encontrei ela no quarto, ela estava trancada lá dentro e chorava abraçada no travesseiro, soluçava como eu nunca havia visto antes. Murmurava coisas como "sou uma péssima amiga" e "Por que não dei atenção aos sinais?". Ela se culpava.

Me aproximei vagarosamente e dei-lhe um abraço confortante.

- 'Ta tudo bem... - eu disse.

Tarde demaisOnde histórias criam vida. Descubra agora