• Capítulo 02 •

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• Luana •

Me olho no espelho e vejo o quão deplorável é a minha situação. Meu cabelo nunca esteve pior e as minhas olheiras são quase um buraco escuro de baixo dos meus olhos.

Eu tô acabada!

Miguel chorou a noite toda e eu fiz de tudo para o fazer parar. Tentei brincar, balançar, andar, amamentar, mas nada resolveu.

Só ficou quieto quando cansou, o que foi lá por umas 5h da manhã. E agora eu estou com essa cara de zumbi, mas ele está calminho e bem disposto, como se tivesse dormido horas.

Abro o meu armário e pego uma roupa bem fresquinha, porque o calor que está na rua é fora de normal.

Só de pensar em tem que ir caminhando até o mercadinho, já tenho vontade de sentar em posição fetal e chorar. Eu ando sensível demais, então é uma situação muito possível de acontecer.

Tiro a minha toalha do corpo, e a deixo em cima da cama. Eu visto a minha calcinha e o meu sutiã, evitando olhar para o espelho enquanto faço isso.

Não aguento me ver sem roupa depois que tive o Miguel.

Meu corpo jovem e barriga chapada se foram, como todos diziam que iria acontecer. Meus peitos parecem dois melões inchados e com estrias, igual a minha barriga, que agora é flácida.

Só de me olhar no espelho eu tenho vontade de chorar ou me trancar em casa e nunca mais sair. Todas as velhas da rua já sabem que eu tive meu filho e sempre que eu saio elas apontam e cochicham sem nenhuma vergonha na cara.

Sempre com comentários maldosos e olhares de nojo, como se eu fosse uma obra de Chernobyl.

Visto o único short jeans que tem me servido, tirando o sutiã que já está me apertando e coloco um camisetão bem largo para não dar pra ver meus peitos.

Pego o Miguel no colo, que já está vestido com uma regatinha e a sua frauda. Até colocaria mais roupa nele, mas o garoto nem saiu de casa e já tá suando.

Agora deve ser umas 9h da manhã, então meus pais já saíram para trabalhar e eu estou sozinha em casa.

Minha mãe pediu para ir no mercadinho comprar tudo que está na lista da geladeira, então preciso fazer isso antes do almoço para ir trabalhar tranquila.

Sinceramente, tô tentando evitar pensar em como vai ser quanto eu tiver que voltar para a escola. Abandonar não é uma opção para mim.

A diretora sempre foi muito compreensiva, então ela disse que eu poderia ficar estudando de casa, fazendo alguns trabalhos, até o Miguel completar 3 meses.

Faltam duas semanas para isso acontecer.

E quando acontecer, eu preciso voltar para a escola e fazer algumas provas para ver se eu posso passar de ano. Esse foi o nosso acordo.

Mas não discutimos sobre eu levar o meu filho para a escola, porque ele, querendo ou não, ainda é muito novinho e apegado a mim.

Além de que ainda não sei com quem eu vou deixar ele, já que minha mãe trabalha durante a manhã e as vezes de tarde, e o meu pai o dia todo sempre.

Crime PerfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora