Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada. Ninguém podia sair dali, porque a morte morava ali. Era uma casa muito pequena, porque quem entra ela condena. Mas era feita com muito esmero e o desespero era eterno. Quem entrava fácil caia, em desespero, sem companhia.
Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha chão, não tinha porta nem janela e mesmo assim era pequena porque prendia, apertava e sufocava. Nami não sabia o que fazer, ela tentava se debater, chorar e gritar mas seu corpo não se movia e sua voz permanecia presa em sua garganta, que ardia e queimava quando o ar passava. Ela não sabia como sair daquele lugar, mas sabia exatamente como havia entrado. Sangue escorria a seus pés, quente e úmido, como se tivesse acabado de ser derramado. Ela tentava se mexer, mas a casa estava sendo preenchida pelo sangue, sangue que ela derramou de alguém que ela matou.
Sim, ela havia passado a noite negando o fato, não dormira torcendo para o tritão não acordar, e agora que a ficha havia finalmente caído ela percebia a gravidade de suas ações. Ela nunca havia matado ninguém, havia estado em diversas batalhas sim, lutou por sua vida diversas vezes mas nunca tinha tirado a de alguém. Ela ficava revendo o rosto dele, seu sorriso malicioso. Arlong havia conseguido sua vingança, estaria para sempre presente na vida dela, marcado na alma dela e transformado-a em um monstro assim como ele.
Suor frio escorria pelo corpo de Nami, encharcando suas roupas e os lençóis. Seus braços e pernas estavam completamente imóveis, seus olhos estavam arregalados, fixos na luz branca e forte do teto metálico. Ela tentava gritar, pedir ajuda, mas ela não conseguia articular palavras e o som que deixava sua garganta era praticamente inaudível. Pensando ainda estar em um sonho ela fechou os olhos e tentou abri-los de novo, tentando acordar, e tentou de novo e de novo e de novo. Lágrimas escorriam livremente de seus olhos firmemente cerrados. Ela queria acordar, estava desesperada, respirando rápido demais, seu coração batia tão rápido que ela fazia seu peito doer.
-Abra os olhos. -O comando era calmo e firme, ela obedeceu, encontrando um rosto fino e calmo, com olhos cinza emoldurados por olheiras. -Tente acalmar sua respiração. -Ele sentou na beirada da cama da enfermaria e a colocou sentada na cama, apoiada em seu corpo, abraçando-a por trás. Ela conseguia sentir o calor emanando do corpo dele pelas roupas. -Você está segura, está tudo bem. -A voz era rouca e baixa em seu ouvido, e ela apenas se deixou confortar por aquele calor, aquela voz e aquele abraço.
Por vários minutos ninguém falou, Law apenas continuou abraçando Nami cada vez mais forte à medida em que sua respiração se acalmava e seu corpo começava a tremer pelo choro que finalmente se soltou de sua garganta. Ela se deixou aninhar nos braços dele e deixou as lágrimas escorrerem, enterrando o rosto no peito dele. Naquele momento não importou se Law era aquele cirurgião por quem ela nutria tanta raiva, ele estava ali para ajudá-la, estava sendo sincero e ela deixou que a gratidão preenchesse seu coração consumido pela culpa.
Por um momento ela sentiu aquele calor se afastar, então Law se sentou de frente para ela e segurou o rosto dela entre suas mãos. O rosto dele estava sério, ele a encarava com uma intensidade que ela nunca havia visto em seus olhos. Ele aproximou seu rosto e lambeu a trilha de lágrimas embaixo de seu olho, depois fez a mesma coisa com o outro lado. O coração de Nami acelerou, por um momento sua mente ficou completamente vazia e seu corpo congelou, até que ela olhou novamente para ele, sem entender o que estava acontecendo, então ela o empurrou, fazendo-o cair de sentado no chão.
-O que pensa que está fazendo?! -Com raiva, ela quase gritou se sentando ereta na cama, o rubor tingindo suas bochechas.
-Aí está ela. -Trafalgar sorriu, se apoiando na outra cama para levantar. -Finalmente parou de chorar.
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Sorte ou Revés
FanfictionEsta é a Ilha da Sorte. Poucos piratas encontram-na, menos ainda conseguem deixá-la. Duas tripulações foram escolhidas para jogar: Chapéus de Palha e Piratas do Coração. No entanto, para equilibrar o número de jogadores, o acaso decidiu que a navega...