Capítulo 12 - You cannot put a Fire out -

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Aviso: esse capítulo tá um pouco mais pesado em alguns momentos do que já esteve em qualquer outro, se não estiverem em um dia bom, sugiro que leiam em outro momento. Se cuidem.

É isto, boa leitura! :)

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[POV Sue]

[06:37, 12/09/2021] Você: Desculpa, tive que voltar pro campus

Não, eu não me orgulho de ter saído enquanto todo mundo dormia, mas em minha defesa: eu não conseguiria olhar pra nenhum deles depois de acordar daquele sonho. Foi uma junção terrível de memórias do acidente, somada com imagens de um acidente inexistente que eles tão envolvidos e... o barulho pesado de buzinas, pneus no chão, o cheiro de gasolina, e sangue e metal e bipes de hospitais... é demais. É muita coisa. Eu tive que sair, se não ia explodir e isso não pode acontecer na frente deles. Muito menos na frente da Emily.

Não sei como tive condições de pegar um ônibus e descer na parada certa, mas de certa forma o vento entrando pelas janelas trouxe algum conforto estranho. Coisas invisíveis que proporcionam sentimentos (obviamente invisíveis) que controlam os sistemas invisíveis do mundo. Foda-se, eu só queria ser invisível — para sempre. Talvez exista outra palavra pra esse sentimento, mas é melhor deixar ela não-falada por enquanto. Pelo menos ainda tem algumas coisas que proporcionam algum conforto, pelo menos....

O campus se encontra obviamente pouco movimentado, ninguém acorda antes das oito em um domingo — mesmo que seja um domingo ensolarado, o que de certa forma só me faz sentir mais miserável. Se estivesse chovendo, teria um sentimento de mais conforto. Talvez a minha vida seja essa constante busca por confortos efêmeros pra conseguir lidar com a realidade podre — talvez esse último mês tenha sido isso. Não, não pode ter sido. Não consigo colocar em palavras o que acontece com esse grupo de pessoas e... entre mim e a Emily, mas se conseguisse, sei que efêmero não seria uma delas. Isso é algo bem francês: definir as coisas pelo que elas não são. Sinto meus ancestrais britânicos se contorcerem no túmulo e isso me faz rir baixinho — não, eu não tô bem da cabeça, eu sei disso.

Eu não consigo entender como o destino me fez viajar cinco mil fodendo quilômetros até aqui, pra me meter numa situação dessas de novo. Há quase dez anos, eu corto pessoas da minha vida que nem corto as etiquetas das minhas roupas novas — é rotina, é normal, passou a ser mais fácil, mais seguro pra mim e pra elas. O único que ficou foi Ben, com aquela aura angelical e aqueles olhos azuis que já carregam sofrimento suficiente por uma vida — talvez por isso nada de mal aconteceu pra ele durante todos esses anos de amizade: ele já se fodeu o suficiente. Agora, finalmente, tá conseguindo ter algum sossego e felicidade — e eu não vou atrapalhar isso. Não vou atrapalhar a vida de nenhum deles.

Felizmente, quando abro a porta, o quarto tá minimamente organizado. Agradeço ao meu eu do passado, porque não tenho energia pra arrumar nada agora. Tô cansada, mas também, não quero dormir. Coloco Hope (Esperança) na janela, pra pegar um sol — sim, esse é o nome do mini-cacto que Emily me deu no nosso primeiro encontro, achei justo: foi a primeira palavra do primeiro poema que ela me deu — e também, o primeiro sentimento que ela me proporcionou. Deus do céu, isso tudo parece tão distante agora. Aqueles sentimentos parecem de outra pessoa, outra Sue — me sinto uma Sue zumbi, uma Sue morta. Mas, enfim, é o preço que se paga. Só espero não dormir agora, só espero...

[Narrador]

Sue dormiu. E como se sua cabeça entendesse que ela faria o que havia lhe mandado fazer: afastar-se das pessoas, ela resolveu dar-lhe um sossego: Sue não teve pesadelos. No fundo, esse "sossego" só alimentou mais ainda os pensamentos da jovem de "não tive pesadelos, logo, estou fazendo a coisa certa." — quando, na verdade, o que Sue faria está longe do certo em qualquer aspecto da palavra.

900 segundos de tensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora