Destino Incerto - Malila

vinte e sete

Vocês estão prontas crianças?

Os fortes raios de sol atingiam-lhes em cheio. Era aproximadamente meio dia quando chegaram em San Diego, Califórnia, e Marília desceu do caminhão junto com as meninas. Paula chorava baixinho abraçada à Lua
enquanto as outras se despediam de Maraisa.

Estavam encostadas na beira de uma estrada de um bairro pequeno, pois Marília insistiu em deixar Maraisa o mais próximo possivel de seu destino.

- Comprei uma coisa enquanto você estava no hospital... - Maiara disse após se separar do abraço com Maraisa, remexendo em seu bolso em busca de algo. Quando encontrou, estendeu a coleira rosa para Maraisa, fazendo a mesma sorrir. Estava escrito Luna e a menor se comoveu com o gesto. - Eu sei que é sem N, mas você precisa considerar a ideia de ser com, fica mais chique. - Maraisa riu no momento seguinte, voltando a abraçar Maiara.

- Obrigada, Maiara! De verdade. - Ela disse ao separar-se da menor. - Viu, bebe? A tia Maiara comprou um presente para você. - Maraisa disse para sua gata, que ainda estava no colo de Paula, mas a olhou como se entendesse tudo o que Ihe havia sido dito.

- É melhor que você leve a ração que compramos. - Naiara disse, entregando o saquinho com o conteúdo da comida da gata. - Não nos terá serventia. - Maraisa assentiu e agarrou o conteúdo, abraçando Naiara. Não
era drama ou falsidade, as garotas realmente haviam se apegado, afinal, foram quase treze dias juntas o tempo inteiro. Com Marília havia sido mais tempo ainda, pois dormiam no mesmo cubículo e por vezes matavam o tempo conversando ou transando depois que as meninas iam dormir. Vinte e quatro horas por dia, durante quase treze dias, realmente não era dificil se apegar.

- Obrigada pelo vestido, Paula. - Maraisa disse olhando para a baixinha, vendo a loira dar um último abraço na gata cinza antes de colocá-la no chão, finalmente, pois havia passado a manhã inteira como bicho no colo.

- Não me agradeça. Ficou melhor em você, de qualquer forma. - Paula disse indo em direção à garota. - vê se você se cuida, hm? - Pediu com sinceridade.

- Digo o mesmo para vocês. - Ela disse, olhando para trás a procura de alguém. Marília estava encostada próxima à roda do caminhão quando Maraisa lhe encontrou. - E cuide desta rabugenta. - Maraisa brincou, fazendo todas rirem, inclusive Marília.

- Bem, vamos dar alguma privacidade a vocês. - Paula disse, beliscando o braço de Naiara e Maiara que tinham lágrimas em seus olhos só de verem o jeito como Maraisa e Marília haviam se olhado. As três garotas entraram no caminhão e Maraisa se aproximou de Marília, colocando as coisas que tinha na mão no chão, o que não era muito: A ração, a coleira nova de Lua e a sacola de lingeries que Marília havia lhe comprado.

- E... - Maraisa murmurou balançando a cabeça lentamente. Marília bufou em frustração e puxou Maraisa para um abraço apertado, guardando em sua memória o delicioso cheiro da pele de Maraisa. A menor estava prestes a envolver seus braços ao redor de Marília, contudo, franziu o cenho ao sentir a maior lhe passar um pedaço de papel para sua mão e se afastou do corpo da maior. - O que...

-Eu sei que talvez você nunca ligue. - Marília disse esfregando a nuca envergonhada. - Mas aí está o meu número de telefone. Eu não estou com ele nesta viagem e, bem, você tampouco tem um e por isso eu não pude te pedir o número, mas gosto de pensar que a minha parte eu fiz.

- Será que ganho um útimo beijo? - Maraisa perguntou, guardando com carinho o papel junto às suas coisas no chão. Marília sorriu fraco e assentiu, vendo Maraisa se aproximar e colocar seu boné preferido com a aba para
trás em sua cabeça. - Assim não me machuco. - A menor disse rindo, se encostando totalmente no corpo de Marília e encostando seus lábios nos dela.

Marília, no mesmo momento, se entregou ao beijo, levando suas mãos até a cintura da menor para colar mais os corpos e enfim enlaçar totalmente seus braços ao redor de Maraisa. As linguas eram lentas, Como se desejassem parar o tempo; com se soubessem que era a última vez que se tocariam.

- Eu vou morrer de saudades. - Maraisa confessou sem pudor, dando um demorado selinho em Marília e encostando sua testa na de Marília.

- Meu caminhão também irá sentir sua falta. - Marília disse, levando um tapa no braço antes de rir. - Boba, é claro que eu também sentirei a sua falta.

- Te conhecer foi uma das coisas mais lindas que me aconteceram na vida. - A menor disse tristemente, levando uma mão ao rosto de Marília e acariciando o lugar. - Se cuida, minha caminhoneira.

- Faça o mesmo, morena. - Marília disse, sentindo Maraisa suspirar pesadamente e tocar seus lábios nos dela outra vez, para então se afastar.

- Vamos, Lua. - Maraisa disse para a gata, que se levantou no mesmo momento, pois estava sentada. A garota se abaixou e pegou suas coisas.

- Hey... Maraisa! - Marília chamou, fazendo a garota olhar para trás. A maior se aproximou dela e retirou seu boné da cabeça, o colocando na cabeça da menor. - Para nunca se esquecer de mim.

- Marília...

- Nem pense em negar. Eu realmente quero que fique com ele. - Ela disse e Maraisa engoliu em seco, se inclinando e dando mais um beijo em Marília. Uma mão da maior foi até o rosto da menor apenas para enxugar uma lágrima solitária.

- Faça o que precisa fazer! - Maraisa disse com a voz embargada, se afastando de Marília e respirando fundo.

- Espero um dia te encontrar por aí. - Marília disse, caminhando até o outro lado do caminhão e entrando nele. A bozina foi um último "tchau" antes do caminhão começar a se locomover. Maraisa sentiu mais lágrimas rolarem por sua face e sentiu Lua se esfregar em sua perna como se a consolasse.

- Eu também espero. - Sussurrou baixinho, ajeitando o boné em sua cabeça e começando a caminhar para longe, mas uma coisa era certa: Não importava o quão longe ela fosse, Marília sempre estaria por perto, em seu coração.