8° Capítulo

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Eduardo repassou em sua mente aquela estranha porta de ferro vermelha várias vezes. Sabia que as respostas de sua missão estavam lá dentro. O elemento Hydron. Se tudo corresse bem, ele teria sua vida de volta, sua mãe e amigos. Será que lembraria de algo? Se perguntou.Jane estava preparando o desjejum quando ele levantou. Trovão a acompanhava na intenção de ganhar algum petisco.— Bom dia! Como se sente? — perguntou Jane.— Muita coisa para processar. — Coçou a cabeça. — Lembrei do elemento Hydron.— Excelente! Estou nervosa, confesso, espero que tudo ocorra bem. Planejei como vamos acessar a cidade. Próximo ao campo de força existe uma antiga tubulação de esgoto, iremos por ali, teremos mais chances de não encontrar nenhum monstro.— Parece um bom plano para entrar, mas não temos informações lá de dentro, apenas que o tempo é diferente. Diferente como? Passa mais devagar, mais rápido, quanto tempo terá passado aqui fora até que consigamos ter sucesso na missão? Ou pior, se não conseguirmos, podemos passar anos nesse lugar, e nunca mais conseguir sair. — Eduardo fechou os olhos para pensar. — Suspirou. — Agora que lembro das coisas, me sinto estranho, temos uma responsabilidade enorme. Os outros que receberam treinamentos, onde eles estão?— Não encontrei muitos deles. A maioria eram monstros com as roupas iguais às que estou usando, outros não lembravam de nada, e não consegui fazê-los lembrar, outros ficaram em um estado de loucura. Viajar no tempo não é simples.— Eu tive algum tipo de problema, não tenho certeza do que houve no meu salto temporal, mas encontrei apenas parte das minhas anotações. Como você lembrou?— Escrevi em meu braço para não esquecer, quando acordei do salto era como se eu estivesse levantando para mais um dia, teria aula e mais tarde iria sair com algumas amigas. Quando fui ao banheiro, vi o aviso pelo espelho, estava escrito para eu tomar um choque. No início achei que era alguma brincadeira, que eu deveria ter bebido muito na noite anterior e alguém tinha me sacaneado, contudo, quando não encontrei minha família e ao percorrer as ruas do meu bairro e não achar ninguém, as coisas foram ficando mais estranhas para mim. O mais complicado foi sobreviver à noite, estava no sofá pensando no que eu faria, tentando ligar para alguém, mas nada funcionava. Comecei a escutar sons estranhos lá fora, a luz os atraiu, o primeiro atravessou a janela, bateu com tanta força na queda que quebrou o pescoço. Logo outro veio, eu corri, subi as escadas até o quarto dos meus pais, tranquei a porta, então veio a primeira pancada, perdi o ar com o susto e quase desmaiei, a segunda fez uma rachadura na porta, eu sabia que morreria ali se ele conseguisse entrar, estava com tanto medo, lembrei que havia um alçapão no closet, me escondi lá. Tentei ligar para a polícia, ambulância, mas não tinha sinal. Então ele quebrou a porta, cheirava o ar tentando me encontrar, é tão nojento o som que eles emitem, parece que estão sempre se afogando, estava na penumbra mas consegui ver os olhos dele, amarelos, a boca escorrendo um líquido espesso e escuro. Ele percorreu o quarto e entrou no closet, por um momento ficou fitando onde eu estava, eu tinha certeza que ele sabia onde eu estava. Alguém gritou lá fora, e isso me salvou, ele correu e eu fiquei paralisada até amanhecer, provavelmente quem me salvou está morto ou pior, virou um deles. No dia seguinte, encontrei forças e desci, fui até o banheiro e lembrei do aviso no meu braço, era loucura, mas depois de tudo que havia acontecido, não parecia mais tão estranho. A primeira lembrança quando senti o choque foi sua, nas nossas conversas e que eu deveria te encontrar. Desde então eu estava procurando por você, imaginei que se lembrasse iria tentar chegar em Contrell, então estava indo até lá, quando vi um carro perseguindo outro até o hospital. Fiquei observando de longe, tinha uma sensação que deveria ir até lá e ajudar, não sei se foi sorte, destino, ou algum tipo de ligação pela viagem no tempo, mas encontrei você. — Seu rosto estava corado. Ela sabia que deveria mudar o rumo da conversa. — Coma agora! Em pouco tempo iremos sair.Ambos terminaram a refeição e foram organizar a missão. Jane abriu o porta-malas.— Uau! — Eduardo estava admirado. — Quantas armas você tem?— Não o suficiente. — Riu. — Não sabemos o que vamos encontrar lá, então vamos usar uma pistola e uma faca, devemos ser discretos. — Eduardo lembrou de uma das lições que teve, a discrição era importante. — Vamos embora, logo vai chover. — Ele observava as nuvens cinzas.Não demoraram muito para chegar até o local. Era estranhamente assustador. O centro de força parecia dançar no ar seguindo o ritmo do vento, e a chuva que agora caía, brilhava ao tocar naquele imenso campo energético.— É lindo! — Jane estava admirada. — Não imaginei que seria assim, não temos como ver a cidade.— Não sei o que fazer Jane. — Eduardo se lamentava. — Não posso levá-lo, o que poderia acontecer com ele lá.— Eu entendo, também amei seu cão, ele é tão inteligente, mas será mais seguro deixá-lo aqui. — Eduardo afagou as orelhas do cão, o abraçou e abriu a porta.— Vai, Trovão! Corre para lá! — O cão não se mexeu. — Vai cara... Não me faça brigar com você, corre! — Eduardo desceu do carro para incentivá-lo. Trovão, ao contrário do que eles esperavam, correu na direção do campo de força.— Não! — Gritou Jane. — Volta aqui... — Eduardo correu atrás do cão para impedi-lo, sem se dar conta de que estavam perto demais do campo de força.— Merda! — Jane viu os dois sumirem como num truque de mágica bem executado. O plano estava arruinado. Sem ter opções, correu na direção onde eles desapareceram e entrou. A sensação era boa, um calor percorreu seu corpo, tudo parecia uma tela em branco de luz. Ela fechou os olhos.— Saia da rua, menina! — Um carro passou por ela desviando por pouco. Jane abriu os olhos, não estava mais chovendo, o sol brilhava no céu, as pessoas passavam fitando quem era aquela garota molhada no meio da rua, com roupas estranhas. Um guarda foi em sua direção.— Você está bem?— Estou, não se preocupe. — Tentou disfarçar o melhor que pôde. Estava com uma arma e uma faca e sabia que teria problemas se fosse revistada. Seus pensamentos estavam acelerados, onde Eduardo estava e que ano era aquele.— Você não parece bem! Qual seu nome?— Jane!— Onde você mora? Vou levá-la até sua casa. — Ela tentou sorrir e inventar alguma desculpa, mas estava ficando sem opções. — Venha, garota... — O homem saiu da sua frente indicando a viatura.— Eu preciso achar meu amigo, não se preocupe comigo, senhor. Ele estava molhado como eu, estava atrás de um cão.— Aquele moleque que passou atrás de um cachorro com outras roupas estranhas é seu amigo?— Isso, o Eduardo! Onde eles foram?— Não sei, mas me pareceu um delinquente, aquelas roupas não são de alguém que segue as leis. — O guarda abriu a porta para que Jane entrasse, sem opções e evitando um confronto maior, apenas entrou. Iria dar um jeito de formular um plano, ela tinha certeza disso.— Sei que vai parecer uma pergunta estranha, em que ano nós estamos?— Está sob efeito de drogas? — O homem parecia desconfiado. — Eu tinha certeza que tinha algo errado. — O homem ligou o comunicador. — Todas as unidades, temos um possível código 00563, uso de drogas, fiquem atentos a um menino de roupas estranhas, ele está molhado, e segue um cão, estou com a amiga dele. — Ele olhou pelo retrovisor. — Vamos até a delegacia, mocinha, não permitimos uso de drogas aqui, seus pais terão que vir buscá-la. — O homem ligou o rádio enquanto dirigia.— Ouça agora na rádio da cidade, as músicas mais tocadas do ano, 1961 está sendo o ano, depois fique com as notícias diárias na nossa programação. — Quando ela chegou na delegacia, Eduardo estava sentado em um banco, de cabeça baixa e algemado.— Soltem ele! O que pensam que estão fazendo? Ele é só um garoto. — Outro guarda apareceu.— Ele estava com essa arma, uma faca e um dispositivo estranho, que diz ser para comunicação quando o prendi. — O guarda revistou Jane, removeu sua arma e faca.— Vejam só! Eu sabia que havia algo errado com você, um policial sempre sabe. Levem eles para uma cela, depois vamos interrogar os dois, quem sabe o que iremos descobrir, eles podem ser espiões. Nossa usina será a maior do mundo, eles vieram roubar nossas ideias. Malditos espiões....Os dois foram colocados juntos numa cela pequena.— Você tinha que correr atrás do Trovão?! — Jane estava irritada. — Não podia pensar melhor? Tinha que agir sem pensar? Que droga, Eduardo!— Onde ele está?— Quando o guarda me prendeu, ele o espantou. Eu o vi correndo atrás do carro, porém, depois de algumas quadras, ele sumiu. — Eduardo parecia envergonhado. — Estamos ferrados! Precisamos combinar uma história.— E vamos dizer o que, Eduardo? Oi, somos do futuro, precisamos entrar na usina, que nem existe ainda...O guarda logo voltou.— Primeiro você, vamos ter uma conversa. — Quando eu acabar com ele, venho buscar você. — Ele seguiu Eduardo, e Jane o acompanhou com os olhos.— De onde você é? — O guarda observou a sala, úmida e com cheiro de mofo, a luz vinha de uma lâmpada que balançava no alto da sala.— Orel.— E o que alguém de Orel faz aqui, todo molhado, atrás de um cachorro e com uma arma e uma parceira?— Eu... Eu estava...O guarda socou a mesa.— Eu o que? Está nervoso? Não minta para mim! — Eduardo suspirou.— Nós viemos para a usina, precisamos salvar as pessoas de um evento catastrófico que irá acontecer no futuro, precisa nos soltar.— Futuro? Está brincando comigo? — O homem se aproximou do rosto dele, seu hálito era de café e whisky. — Tirou o celular do bolso e colocou na mesa. — Que dispositivo é esse?— Um celular. Serve para ligações telefônicas, ver vídeos, escutar música. — O homem deu um soco em seu rosto. Eduardo sentiu seu dente cair, a dor liberou adrenalina.— Eu disse para não mentir. — O que vieram fazer aqui?— Eu já disse. — Falou com dificuldade, sentindo uma dor aguda onde antes havia seu dente.O guarda gritou para outro colega.— Tragam aquela menina! — Jane foi colocada ao lado de Eduardo.— Você está bem? — Ela percebeu o sangue em sua boca e camiseta.— Eu faço as perguntas aqui! — O que vieram fazer aqui?— Roubar um banco. — Jane sabia que precisaria dar o que eles queriam, uma história aceitável.— Não foi difícil. Foi? Agora estamos progredindo. — Que dispositivo é esse?— Um comunicador, iríamos usá-lo para avisar nosso cúmplice, para trazer o carro para nossa fuga. — O guarda deu mais um soco em Eduardo, dessa vez em seu olho, a dor percorreu até o alto da cabeça.— Está aprendendo? Esse soco foi por mentir para mim.— Tenho outro compromisso, mas iremos conversar mais tarde, levem eles daqui e tirem fotos dos dois. — Quando voltaram à cela, Eduardo não conseguia mais abrir seu olho esquerdo, a dor estava maior, uma pulsação contínua de aflição. Ele passou a língua onde antes existia um dente.— Eu sinto muito, vamos encontrar uma forma de sair daqui. — Jane o abraçou. O sino da cidade badalou seis vezes.— Jane, olha! — As paredes pareciam mais velhas, a porta ficou enferrujada e curvada, parte da parede direita não existia mais. Lá fora, o céu estava vermelho sangue, com a noite se aproximando.

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