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estou tão contente que tenhamos nascido neste mesmo tempo.
-posso não acreditar em destino, mas acredito em você
Quando eu era pequeno achava difícil fazer amigos, é só que eu era tão tímido e tão diferente das outras crianças que isso, por motivos que jamais consegui entender me afastava delas. Eu não tinha amigos e passava a maioria dos meus dias sozinho. Pode não parecer mais é difícil ser criança quando você ainda não sabe quem é e nem tem controle o suficiente para mudar sua situação. Eu até gostava da minha própria companhia, ou pelo menos aprendi a gostar até S/n chegar.
S/n era uma garotinha temperamental, de grandes bochechas redondas, ela era engraçada, mas não maldosa, ela sempre era gentil, até quando estava brava e de todas as pessoas foi a única que me conheceu de verdade. Assim que ela chegou na escolinha notei que era diferente, porque as outras crianças não se misturavam, ela estava sempre acompanhada por um cachorrinho e carregava sempre uma espécie de vara que usava para tatear o chão, na minha ignorância infantil não entendi o que significava.
Eu com minha timidez demorei dias para conseguir falar com ela, passava todo o tempo de longe encarando e pensando no que diria quando chegasse lá, ela parecia tão inteligente que me intimidava. Até o dia em que tomei coragem. Estava muito sol e a professora havia nos levado para brincar no parquinho, as outras crianças corriam e gritavam eufóricas, S/n estava sentada na sombra de uma árvore, com o nariz empinado e um óculos escuro que lhe conferia um ar de celebridade. Ela sempre foi excentrica era visível que não pertencia aquele lugar, ela merecia coisa maior. Caminhei até ela tão nervoso que tropecei algumas vezes.
── O-oi ── minha voz saiu tão falhada que fiquei com medo dela não ouvir.
── Oi.
── Qual é seu nome? ── me sentei ao seu lado no banco, mantendo uma distância que achei segura ── Eu me chamo Timothée.
── S/n.
── Ah.
Fiquei sem saber o que dizer, só tinha planejado a conversa até ali.
── Você quer ser meu amigo, Timothée?
E assim se deu início a nossa amizade, do mesmo modo como a grandes e melhores amizades começam: com um convite bobo de uma criança.
Naquele dia descobri que S/n era cega e por isso usava sempre óculos e aquela vareta para tatear o chão, eu nunca havia conhecido alguém cego antes e fiquei me perguntando como seria não enxergar. Naquele dia quando cheguei em casa vendei meus olhos e passei horas assim, tropecei em alguns móveis mesmo sabendo a planta da casa de cor, eu não entendia porque eu enxergava e ela não, na minha cabeça infantil parecia injusto.
