여덟

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Essa não era a primeira vez. Não mesmo!

Quanto eu tinha sete anos, me apaixonei por um garoto da minha turma. Ele parecia brilhar todas as manhãs em que entrava pelos portões da escola, sempre com um cheiro que me hipnotizava. Foi a primeira vez que senti meu coração acelerar por algo que não fosse brigadeiro antes do jantar, ou ouvir minha mãe concordar que poderia brincar por mais cinco minutos antes de voltar para casa. Um sentimento totalmente novo pra mim, que no final se tornou em decepção. Clichê, claro que ele seria o mais cobiçado da sala e a garota de óculos e aparelho não seria a escolhida.

Felizmente, quando somos crianças, as decepções duram pouco. Um coração partido é facilmente remendado pelo seu desenho preferido, abraço de mãe, uma sandália da Xuxa com cheiro de tutti-frutti.

Eu já tinha me apaixonado antes, muitas vezes... Aos 8, aos 12, depois de novo aos 16 e agora 21 anos. Na minha cabeça, todos os passos de uma paixão poderiam ser descritos. Pensar demais em alguém e colecionar cenários fictícios, coração acelerado, ciúmes, ânsia em pelo menos segurar a mão e, por fim, o beijo. É ali que tudo desanda porque você chega no estágio mais avançado da aproximação. Durante o beijo você sente o perfume, o movimento, cabelos, o sorriso, e as mãos... Ok, não pense errado de mim.

Também sei de cor todas as etapas das decepções amorosas, mas nenhuma delas nunca envolveu ter que escolher entre o que me faz sentir o sangue correr nas veias e o meu trabalho, fonte de renda... faculdade.

Quando atravessei o oceano deixando toda a minha vida, família e amigos para trás, tinha um único objetivo em mente: um diploma em design e uma carreira que faria todos engolirem os julgamentos. Isso não envolvia qualquer cara durante o percurso.

Mas Bang Christopher não era um cara qualquer. Ele era cauteloso, carinhoso, gentil e intenso. Muito lindo.
A pessoa mais dedicada que já conheci! 7 anos sendo trainee não é nada fácil, e ainda ser a âncora de 7 garotos... Mesmo que eu não falasse isso em voz alta, eu tinha muito orgulho do que ele se tornou. Tenho orgulho.

Vale a pena arriscar tudo o que conquistamos, por algo que ainda nem conseguimos descrever o que é?

— Você também me quer? — Chan coloca uma mexa do meu cabelo atrás da orelha. — Porque agora que provei o seu gosto, não vou te deixar escapar.

"Eu não quero escapar, quero ficar aqui e descobrirmos juntos o que sentimos"

Mas o que saiu da minha boca foi:

— Acho que você está confundindo as coisas, Chan.

— O que? — Ele questiona confuso. Eu conseguia ver o brilho deixando seus olhos.

Meu Deus, eu sou um monstro.

— Foi só um beijo. Não significou nada. — O encaro.

— Mas eu pensei-

— Bom, pensou errado. Acho que podemos encerrar esse papo por aqui, não acha? — Mordo meu lábio inferior na intenção de segurar o choro. — E não envolve mais ninguém nisso, por favor. Não acredito que fez a Yumi mentir pra mim!

— Me desculpe — Ele baixa a cabeça claramente envergonhado. — Não vou mais te incomodar.

Ele afasta seu corpo para o lado deixando o caminho livre para que eu abra a porta e saia. Assim que pus os pés no corredor a primeira lágrima escorreu pela minha bochecha, e parecia que o impacto do meu all star no chão funcionava com uma espécie de alavanca, a cada passo mais e mais lágrimas desciam. Enquanto seguia meu caminho o mais rápido que podia para o banheiro, esbarro em alguém.

— Nari, que bom que te encontrei! Você não vai acreditar no dorama que eu... Você tá chorando? — Hyunjin questiona tentando ver meu rosto.

— Não... Hm, eu tenho que ir agora, ok? — Não espero sua resposta e continuo meu caminho, deixando um Hyunjin confuso para trás.

Eu só queria sumir.

O resto do dia foi uma tortura. Cada mínima atividade feita por mim foi um completo desastre. Derrubei água em um dos figurinos, troquei informações e esqueci a entrevista individual do Minho, além de não ter conseguido administrar bem os equipamentos de som e vídeo durante a live do SKZ. Todo esse combo resultou em uma chuva de sermões intermináveis, e com razão. Eu estava uma bagunça. Que vergonha.

Chegando ao dormitório que divido com Yumi, não houve muito espaço para conversa. Me dirigi ao banheiro para conseguir tomar um banho, torcendo que o fluxo de água levasse embora todas palavras que rodeavam meus pensamentos. Minha cabeça parecia pesar uma tonelada, um barulho constante que não acabava. Eu só queria silêncio.

Dormir nunca foi uma tarefa tão difícil pra mim, mas quando finalmente tive sucesso, mergulhei em um sono sem sonhos, totalmente escuro e assustador. Assim como na vida real.

Nos dias seguintes, eu e Chan fomos como completos estranhos. Claro que eu desempenhava as atividades que me eram designadas mas... não era a mesma coisa. E nunca mais ia ser, porque eu sou uma idiota. Mas uma idiota que precisa do emprego. E uma idiota que sentia falta dele.

Mas foi o certo a se fazer, Nari.

Eu espero que sim. 

🐺


Mais uma atualização pra me redimir pelo sumiço <3


𝐄𝐅𝐅𝐎𝐑𝐓𝐋𝐄𝐒𝐒𝐘, 𝘣𝘢𝘯𝘨𝘤𝘩𝘢𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora