Capítulo único.

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Ningguang se sentou na cama, com o peito arfando, os olhos lacrimejando, a testa molhada de suor frio e os olhos procurando freneticamente a namorada pelo quarto. Ela tremia e sentia-se tonta por ter levantado tão repentinamente mas não deu importância para isso, no momento ela estava mais preocupada em achar Beidou. Ningguang apenas conseguiu se acalmar quando viu uma cabeleira morena aparecer do seu lado e duas mãos envolvendo seu rosto. Beidou logo trocou a expressão sonolenta por uma preocupada ao olhar o estado da Quixing.

— Ei ei, loirinha, o que aconteceu? — Beidou afastava os fios longos da testa de Ningguang com cuidado enquanto acariciava sua bochecha tentando a acalmar, Ningguang cedeu a carícia sorrindo fraco.

— Eu... foi só um pesadelo. — Beidou observou o semblante abalado na namorada, sentindo seu coração pesar ao vê-la tão perturbada. A pirata ameaçou levantar mas foi rapidamente impedida por uma mão agarrando seu pulso.

— Eu vou pegar um-

— Não, fica. Por favor. — Ningguang odiava demonstrar fraqueza diante qualquer um, principalmente para Beidou. Ela queria que a namorada a visse como alguem forte e inabalável. Mas nesse momento, a única coisa que a Quixing estava preocupada era em ter seu corpo envolvido pelos braços de Beidou. A pirata arregalou minimamente os olhos com a atitude alheia mas logo abriu um sorriso afetuoso para a loira. Beidou deitou novamente na cama e abriu os braços, convidando Ningguang para deitar em seu torso, que logo acomodou a cabeça na curvatura do pescoço da namorada, inalando o seu aroma semelhante ao mar. Beidou a abraçou com força e beijou o topo de sua cabeça. Elas permaneceram assim por um tempo, num silêncio confortável, até Ningguang o quebrar.

— Eu sonhei... que você morria na sua viagem para Inazuma amanhã. A tempestade era forte e vinha uma uma onda imensa contra o navio e... — Beidou suspirou com a confissão e firmou o seu aperto em Ningguang.

— Loirinha, eu já te disse mil vezes que vai ficar tudo bem. Eu fui para Inazuma inúmeras vezes e continuo viva.

— Eu sei, mas não posso deixar de me preocupar quando você vai para lá.

— Olha para mim.

Ningguang levantou a cabeça e parou o olhar nas íris escarlates da outra, emergindo na profundidade daquele olhar. Eles lhe passavam segurança e uma sensação quentinha no peito. Sempre que estava estressada ou deprimida Beidou a direcionava este olhar. Merda. A pirata sabia como conforta-lá.

— Vai ficar tudo bem. Assim que eu acabar meus assuntos em Inazuma, vou voltar corremdo para os seus braços, loirinha. — ela falou com firmeza, fitando com afinco o fundo dos olhos rubros da Quixing.

— Promete?

— Prometo. — Beidou depositou um selinho demorado na namorada e fez um breve carinho nos seus cabelos. Ningguang sentiu a pirata dormir e intensificou o abraço tendo a certeza de que ela não sairia do aperto facilmente e só então conseguiu descansar por completo, agarrada a sua amada.

As memórias daquela noite insistiam em se repetir na mente de Ningguang. De novo. De novo. E de novo. Ela lembrava de cada mínimo detalhe. Estava tudo fincado em sua memória. Todas as palavras, os toques, os olhares... as promessas. Doía tanto.

— Você prometeu. Você prometeu que tudo ia ficar bem. Você prometeu que ia voltar para os meus braços. — Ningguang sentia as lágrimas quentes descendo pelo rosto e sua voz ficou embargada. Ela leu mais uma vez o nome cravado na lápide, esperando que isso fosse apenas um pesadelo, no qual ela iria acordar e abraçar a namorada com força. Mas nada aconteceu. Ela continuou alí. Em frente a lápide da pessoa que ela mais amou na vida; em frente a lápide de Beidou. — Você não cumpriu a promessa. Você mentiu para mim. Por que você mentiu? Por que você me deixou!? Você prometeu!

Ningguang sentiu as pernas fraquejarem e uma tontura a atingir com força.

Ela desabou.

Ela caiu no chão aos prantos. Não aguentava mais se fingir de forte, era desgastante demais.

Ningguang se permitiu colocar tudo para fora. Todas a angústia, todo o desespero, toda o sofrimento, toda saudade. Era impossível passar mais um segundo guardando aquilo dentro de si. Esfava sendo sufocada pela dor.

Ela queria tanto ser abraçada agora. Ela precisava ser abraçada. Não por qualquer um. Ela necessitava de um abraço de Beidou. Mas ela sabia, sabia que nunca mais teria a chance de ser envolvida pelos braços da pirata. Nunca mais teria seu rosto fitado por aqueles olhos escarlates. Nunca mais seria acordada por selinhos na bochecha. Nunca mais teria que passar horas ouvindo inúmeras piadas sem graça. Nunca mais teria Beidou com ela.

Porque o pior pesadelo de Ningguang se tornou realidade.

Porque Beidou morreu.

— Eu te amo. Para sempre.

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