— Essa merda só pode ser o carma agindo.
E quem resmunga é Shim Jaeyun, jogado no chão do quarto enquanto uma nuvem cheia e tempestuosa flutua sobre os fios castanhos da cachola.
Logo depois completa mentalmente: "Talvez em alguma vida passada eu tenha jogado pedra na cruz ou chutado um idoso... Mas então que Deus me perdoe".
Afinal, eram nove da manhã de um domingo e o som infernal daquela guitarra no apartamento ao lado continuava o azucrinando como uma espécie de teste divino enviado pelos céus — o que Shim não entendia. Estar na igreja todo domingo de nada valia? Tinha certeza absoluta sobre seus princípios, mas já fazia um mês desde que sua onda de tortura matinal havia começado.
E quem diria? Até semanas atrás, Jaeyun usufruiu de toda a calmaria que lhe fora dada por direto. A vida nunca pareceu difícil, não existiam muitas pororocas no seu riacho. Na verdade, burburinhos circulavam entre bocas desconhecidas por aí sobre como o Shim tinha nascido com a sorte plantada bem debaixo de seus pés. Os pais carregavam nomes manchados de ouro e glamour, um médico e uma ex-modelo vinham estampados ao seu lado, o sobrenome lhe pesava quilates nas costas. Um apartamento no alto do East Blue, um dos condomínios mais caros de Seoul e uma vaga na escola mais prestigiada da cidade. Fora aquele rostinho lindo abençoado pelo deus da skincare e a carteirinha de borboleta social no bolso das calças.
Shim Jaeyun parecia ter o mundo nas mãos, boas notas no boletim e a vida de ouro. Por isso sempre estava ali, sorrindo pelos corredores da escola ou qualquer lugar que fosse — não existiam motivos para o contrário, não é? Qualquer um que o visse poderia jurar que o "gatinho perfeito" era só mais um cara boa-pinta, filhinho do papai e totalmente despreocupado com a vida.
Bom, aquilo não era tão verdade. Francamente, Jaeyun se preocupava com tudo e som (lê-se "catástrofe sonora") que aquela guitarra fazia no apartamento ao lado, ou melhor, quem a tocava eram a principal causa de chás de camomila durante a noite um tic tic no olho direito que não parava fazia semanas.
Era Lee Heeseung quem a tocava.
Ah, claro! O metido a rockstar da escola, muito bem, obrigado. Heeseung era um bocó para Jaeyun, a pessoa mais irritante e mal educada que já havia conhecido em todo o planeta. Ele era a tempestade que atingiu o seu mar calmo e naufragou seu navio.
Ninguém sabia muito bem o porquê, mas Shim odiar o Lee não era novidade na Decelis Academy, afinal, quando o via passando pelo corredor rolava os olhos tão forte que quem visse jurava que fosse impossível voltar a enxergar. O australiano não entendia como alguém pudesse gostar de um projeto de protagonista de romances literários baratos — fanfictions, mesmo — como aquele e o jeitão de bad boy misterioso e clichê, sem contar aquele cabelo azul cafona. Podia jurar que nunca o viu dar um sorrisinho, no lugar Lee carregava uma cara de delinquente juvenil e claro, não era nada gentil e simpático. De todo o jeito, a escola e muitas garotas amavam Heeseung. Será possível que só Shim Jaeyun conseguia enxergar o que havia por baixo daquela face acurada e cabelos emaranhados?
VOCÊ ESTÁ LENDO
GUITAR BOY | HEEJAKE
FanfictionNinguém sabia muito bem do porquê, mas Jake Shim odiar Lee Heeseung não era novidade nenhuma. O jeito de protagonista de romances literários baratos e metido a bad boy o irritavam, mas nada era como a guitarra verd'esgoto horrível do Lee e as manhãs...