Capitulo 2: Consciência
A partir do momento que nasci, nua, recém tirada do ventre da minha mãe, sentir em meus minúsculos ossos de bebê negra, o peso da desigualdade e dos requerimentos que já inativo, estavam estalados na sociedade que eu iria habitar. Consequência dos atos que me rodeavam e que eu iria conviver, nasci eu, em 28 de março de 2004, uma latina-americana, sem qualquer dinheiro ou privilégio, em um país miserável, não de recursos naturais tampouco de população, mas sim miserável por falta de afeto, por falta de empatia e por falta de administração. Já nasci em uma sociedade, que já era dividida, ora por raça, ora por expressão política, ora por tudo, menos por seu próprio sangue, pois todo sangue que circula, em cada ser vivo desta Terra, cujo espécie é homosapiens, é vermelho.
Eu possuo, vários descendentes, tal como quilombola (parte de mãe) e indígena (pelo meu bisavô), mas nunca foi me jogado flores como a maioria prega, pregam que ser "negro" agora é motivo de orgulho, dizem que cota é esmola, que racismo é vitimismo, então eu lhe pergunto, por que não sou privilegiada com tais "favores sociais"? Desde que nasci, percebo que ser negra, não me traz privilégios, não me traz lazeres, não me traz "bônus", apenas dificuldade.
Desde sempre soube que dinheiro era importante e diferente das crianças mimadas da minha idade, eu conseguia compreender e associar nossa situação na classe social ao que era nos oferecido, sempre roupas velhas, sempre brinquedos baratos, sempre o pior do melhor e nada de mais, me cansava de não ter o que queria, mas também, olhava para Mamãe e pedia:
"-Mamãe quero aquele doce"- Ela, com olhos cansados me respondia com um sorriso meio amargo, talvez pela situação que se encontrava:
-"Se passar, a gente passava".
E quase nunca passava e quando passava, era uma festa.
É, realmente uma coisa que acontece em milhões de mesas de brasileiros, não comprar o que quer, mas sim o que o dinheiro pode dar.
Porém, eu não chorava, não morria, apenas aceitava, mas depois não aceitei mais, foi quando descobrir o que eu queria ser.
Quando eu era mais jovem, como a maioria das crianças, foi-me rotulado minha vida e o que eu que era. Ora tola, ora preguiçosa, ora desgraça, ora vitória, eu era tudo na boca desse povo, menos eu mesma e por muito tempo eu não fui nada, foi aí que eu pensei em desenhar. Eu tinha 11 anos, quando recebi para colorir uma pequena folha A4( Papel ofício) com xerox de um desenho da turma da Mônica, antes, eu pintava de qualquer jeito, pouco me importava se o desenho estava na linha ou não, pouco me importava qualquer coisa. Mas, escutando a conversas dos meus colegas, comecei a me interessar, comecei a levar a sério aquela simples pintura,Aquilo ali me desapontou, me desmotivou, mas não me fez desistir. Ao longo dos anos, todos falaram sobre o que eu desenhava, era algo "feio", "inútil", "imprestável". Quando, um dia, desenhei algumas pinturas digitais no computador e mostrei a minha prima que estava de visita e ela simplesmente respondeu "Você não fez isso", talvez você tenha que ler novamente para entender ou, ler novamente com um outro tom, de qualquer maneira.
A realidade é que em minha mente, é necessário fazer muito mais do que fui originada. Todos nós, temos um padrão pré-estabelecido pela sociedade, nós somos forçados à nascer, crescer, reproduzir e morrer. Porém, não pelo círculo da vida, mas sim, pelas tendências sociais programadas em uma estrutura hierárquica.
Normalmente, sinto muita revolta, muitos iriam afirmar que é pela minha pouca idade, mas também não há como se sentir apático com os elementos do mundo atual, dizem que estamos evoluindo, mas para mim existe um retrocesso.
Como artista autoditada, é quase que obrigatório uma pesquisa sobre a área, o que é algo simples, no entanto, releva muito mais do quê eu buscava. A "sessão" de comentários é o que eu mais gosto/odeio, existe muita divergência, besteira e até burrice, entretanto, nestes comentários, existe informações preciosas que eu adoro adquirir.
Porém, é aquela coisa, tem fórmula pra tudo, jeito "certo" de fazer o que imaginar, mas a arte não tem jeito certo de se fazer, é por isso que muitos artistas desistem, se prendem muito ao "certo" e não ao que deveria ser. Mas o que deveria ser? Ser o que quiser, oras. Se for um pombo, será um pombo, se for um navio, será um navio. Apenas saiba demostrar sentimento ou seja lá o que quer passar, pois gastar tanta tinta com algo que não significa nada, é desperdício.
O que me cansa, não é ter que fazer tudo sozinha, o que me cansa é saber que eu explicitamente pedi ajuda para os outros, eles olharam para mim e responderam que iam ajudar, mas não fizeram nem o mínimo por mim, sendo que não seria algo gratuito ou de bom grado e sim, eles iriam receber literalmente metade do que eu conseguiria com os meus projetos, isso me faz pensar que a preguiça é tão grande, que eles preferem perder minha consideração do que fazer tarefas simples e lucrar com isso.
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Sinceridade
Non-FictionAutobiografia de Amanda Guilherme. Visão de mundo, sonhos, pensamentos, filosofias, caminhos e vida de alguém que é intitulada de ninguém, porém acredita na sua própria capacidade.