I.Raramente

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Carla Maraisa

Eu estou cansada...

Cansada de tudo sabe? tem dias que ate respirar me deixa exausta...

Balanço a cabeça apertando a alça da minha mochila fitando as horas pela janela da cafeteria que fica perto de onde eu moro, se é que eu posso considerar aquilo ali uma cafeteria pelo que eu sei deveria ter sido fechado a muito tempo mais quem foi que disse que a vigilância sanitária teria coragem para por os pés nesse bairro?

Meu nome é Carla Maraisa...sem sobrenome essa parte é deixada bem clara na minha documentação, não tenho sobrenome por que nunca cheguei a ser adotada por ninguém e nem mesmo o auxilio do governo permitiu que alguma família real me quisesse e não foi surpresa nenhuma eu ter que sair do orfanato que eu vivia até fazer os 18 anos. O orfanato tinha coisas claras de que eu poderia viver como comida e um lugar aquecido para passar a noite longe dos mofos que era o emaranhado de fios e mobilha velha que eu chamava de lar. Mais pelo menos eu não vivo mais com elas e com elas eu quero dizer as freiras...nem todas elas são tao boazinhas como deveriam ser de acordo com as leis do cara de cima e eu comecei a pensar que ele não vai muito com a minha cara.

Eu costumava rezar todas as noites para ter pais...um teto sobre a minha cabeça serio...não ligo se vai ter comida boa ou não eu só queria isso...um lugar que eu fosse querida mais acredito que isso ai seria pedir demais já que não tive nada disso a não ser a parte do teto e meus problemas para me virar com macarrão instantâneo e água até ter conseguindo o emprego sem carteira assinada mais eu não ligava era pouco mais eu ia conseguir comer algo sem ser o miojo e algo que não só tenha o gosto de carne mais uma carne de verdade que nem os bifes grandes sabem? comi um desses umas 3 vezes em um dos lares provisórios...e era muito bom pra falar a verdade mais a mulher engravidou eles optaram por um filho biológico do que um adotivo e eu não os culpo sabe? por que ter o modelo danificado de outra pessoa quando podiam ter o deles novinho e filha e com uma taxa gigante de combinação caso precisem de um órgão ou outro.

Abro a porta velha do meu apartamento respirando aliviada por não ter sido invadido ou arrombado aos 19 anos e meio eu aprendi bem que eu não devo simplesmente confiar...as vezes isso é exaustivo mais é a maneira que a vida me ensinou mais a unica maneira de sobreviver.

Eu não posso perder aquele emprego...eu preciso muito...como realmente preciso...

Ascendo a luz e tranco a porta e me estico...

Hora de estudar né?

Penso e balanço a cabeça me sentindo melhor, eu ainda não tinha terminado o ensino médio mais estava em um supletivo o que não era muito legal para a grande maioria das pessoas mais eu ia conseguir terminar e focar na faculdade e quem sabe...eu possa ser alguém na vida diferente do que aquele idiota falou.

Esquento a água para o macarrão e olha só hoje eu comeria o sabor de carne que ironia.

Faço o macarrão e me sento já abrindo a minha apostila para estudar em casa já que eu só tinha aula 3 vezes na semana mais sempre era bom revisar.

Acho que estudei tanto que peguei no sono.


Marília Mendonça


-Carla Maraisa...sem sobrenome...-Falo lendo e franzindo a testa os olhando brevemente.

-Ela não é uma pessoa...quer dizer ela não tem um sobrenome de fato por ser considerada uma peça ou melhor ela era considerada uma peça sob a tutela do estado.-Henrique fala e eu mordo meus lábios o olhando curiosamente.

-Como assim?-Pergunto os olhando curiosamente.

-Ela é órfã marilia, nunca chegou a ser adotada por ninguém até foi para algumas casas provisorias mais acabou sendo devolvida todas as vezes e é por isso que ela não tem um sobrenome real diante da lei...-Juliano continua a afala do irmão e eu sinto o aperto familiar novamente.

-As freiras contam que ela foi achada...não na porta do orfanato mais sim pela policia que a levou direto pro orfanato depois de um exame rápido em uma unidade de saúde publica não foi preciso por que se fosse eles teriam a levado para um conselheiro tutelar e esperar os pais darem queixa mais aparentemente nada desse tipo aconteceu.-Henrique toma a palavra e eu assenti olhando para a foto dela menor com um sorrisinho adorável nos lábios exibindo dois dentes faltando enquanto abraçava firmemente uma pelúcia velha porém não parecia importar.

-Ela mora na parte ruim da cidade...tipo a parte que os correios evitam sabe? Ruim nesse nível mas é por causa do salario que ela ganha não aqui...ela esta a poucas semanas e pelo que consta as nossas informações é a primeira vez que ela ganha um pouco mais do que mais de um salario minimo.-Juliano completa e eu continuo passando meus olhos sobre algumas fotos que tinham dela nos arquivos dela e a cada foto eu me ia intrigada e cada vez mais encantada por ela...e aqueles olhos...

-Quero o endereço...você conseguiram o endereço não conseguiram?-Pergunto levanto meu olhar sobre os dele.

-Ta de brincadeira acha mesmo que não conseguimos?-Juliano pergunta cruzando os braços sobre o peito.

-Acho bom ter conseguido se não te demito!-Falo o olhando por cima da armação do meu óculos.

-Esta no verso...-Ele resmunga e eu sorrio.

-Excelente...-Falo deixando o arquivo dela do lado.

-Posso perguntar o interesse por essa garota?-Henrique pergunta e eu respiro fundo assentindo.

-Não...você não pode...-Falo só para deixa-lo se contorcendo de curiosidade.

-Qual é...-Ele resmunga e eu sorrio.

-Vou propor uma coisa para ela...algo que proponho raramente...-falo e ri pegando meu telefone já ligando para meu advogado.

-Quero que me traga um contrato...acho que achei a minha próxima...-falo sem nem deixar meu advogado falar e ri baixinho quando ele resmunga.


My Sweet Baby GirlOnde histórias criam vida. Descubra agora