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Assim que toda a formalidade e compromisso acabaram, finalmente a Corte dos sonhos pode voltar para casa, longe de toda aquela falsidade, daquele ambiente pesado e frio, mas assim que voltaram, Nestha sequestrou Hela dizendo que era precisava aprender as danças da Corte dos Pesadelos, que ela precisava aprender a dançar em si, afinal, a cerimonia de parceria estava chegando. Nyx apenas a vira novamente quando a noite caiu e ela estava exausta, ele sabia que sua Nestha era obcecada com perfeição, então não iria querer menos de Hela, e a mestiça admitia estar se divertindo, ainda mais com Cassian e Nikos participando das aulas, segundos eles, poderia ajudar em batalha, o que era uma grande mentira, apenas queriam participar de bom grado e por que gostavam do esforço físico que a dança causava.

Enfim, estavam na cama, Hela dormia profundamente de costas para Nyx, virada para o berço de Essie que ficava para aquele lado. Rhysand fizera questão de ser um lindo berço de cedro pintado da cor branca com pêndulos cheios de bichinhos feitos de joias e pedras preciosas, tudo do bom e do melhor para a neta. Nyx por alguma razão não conseguia dormir, deitado sem camisa e de barriga para cima, mãos atrás da cabeça, não era uma posição muito confortável para alguém que tinha asas, tanto que uma delas estava parcialmente em cima de Hela. Ele a olhou vendo as costas nuas, as cicatrizes ali, ele havia pego a moldura com as asas de Hela, simplesmente não pode deixa-las para trás e não tinha certeza se diria aquilo a ela ou mostraria o par, a conhecendo bem, era perigoso bater nele ou coisa do tipo. O macho suspirou e se sentou na cama grande de casal, olhou para o berço vendo uma luz avermelhada saindo dali, ele sorriu e se levantou, fora até ali e olhou Essie dormindo, os fios de cabelo brilhando como o próprio sol no fim da tarde, ela movimentava a boca como se estivesse mamando no peito de Hela, Nyx soltou um riso nasalado e se debruçou sobre a grade do berço. Aquela criança só poderia ter sido um presente, não para ele, mas para Hela e um dor apertou seu peito ao se lembrar de que ela nunca geraria um filho dele, era claro que amava Essie, amava o quão bem ela fazia a parceira e a família e a ele próprio, mas se lembrar de que não teria um bebê que poderia ser a mistura perfeita dele e da amada o doía.

— Ocupado? — perguntou a voz masculina e baixa na janela e Nyx olhou para ali vendo Adonis agachado no parapeito, as sombras espiralavam aos montes em volta de seu corpo e seus olhos avelã pareciam mais sombrios do que o comum.

— Doni, onde você estava? — perguntou Nyx sussurrando e olhou para Hela que permanecia adormecida. — Ficamos...

— Preciso falar com você, a sós — cortou Adonis com a voz envolta por sombras. — Me encontre no Refugio do Vento em cinco minutos — as sombras o envolveram por completo e o gêmeo de Raphael desapareceu, atravessou para o acampamento illyriano sem duvidas. Num estalar de dedos a armadura illyriana estava no corpo de Nyx, espadas cruzadas nas costas, adaga na coxa, ele olhou para Hela mais uma vez e depois para Essie e atravessou para o Refugio do Vento.

*

Era um circulo de treino mais afastado, o vento gelado como e cortante adagas soprava veloz e cantante levando com ele um pouco de neve, Nyx apareceu ali vendo Adonis de costas para si, o ruivo tinha as asas bem fechadas bem juntas às costas e as sombras estavam cada vez mais escuras em sua volta.

— Doni... — ia dizendo Nyx, mas o gêmeo de Raphael se virou de uma vez jogando não uma, mas cinco adagas de uma vez na direção do primo postiço que se defendeu criando uma barreira magica em sua frente. Mas Adonis não parou por ali, sacou a espada e avançou contra Nyx que desfez a barreira mas desviou do ataque do ruivo com precisão, o que não o fez parar, a espada cortava o ar em busca da carnde de Nyx.

— Adonis!

— Foi sua culpa! — gritou Adonis quase conseguindo atingir Nyx que não viu outra escolha a não ser sacar uma das espadas em suas costas e se defender do golpe. — Você fez aquilo com ele!

Gritou Adonis enquanto investida cada vez mais e mais nos golpes com fúria.

— Do que está falando?!

— Do meu irmão! — gritou Adonis fazendo Nyx ficar completamente chocado, o que foi o bastante para o fazer baixar a guarda e Adonis o desarmou e acertou um golpe profundo entre o pescoço e o ombro de Nyx que gritou e o afastou usando magia, um golpe forte que fez Adonis ser jogado para trás e capotar no chão com violência e parou apenas com o rosto contra o chão.

— Droga, Adonis! — disse Nyx levando a mão ao ferimento no ombro esquerdo e correndo até o amigo. — Me desculpa! Eu não queria... — um soco atingiu seu rosto com extrema força o fazendo cambalear no chão. Nyx apoiou sue peso e com o rosto agora sangrando e roxo ele olhou para Adonis que estava agora sujo e ferido com lágrimas caiam pelo rosto.

— Eu escutei... — disse Adonis. — Eu o escutei contando para os nossos pais... Como pode ser tão egoísta, Nyx?

— Eu não sabia que a armadura faria aquilo quando a usei pela primeira vez, depois foi tarde demais...

— Ele está sofrendo muito — continuou Adonis. — Eu sinto, Nyx, eu sinto tudo o que ele está sentindo, eu senti quando ele perdeu as asas e o braço, eu senti! — gritou o ruivo. — Foi sua culpa... É sua culpa... Raphael... Raphael nunca deixou de sorrir, nunca e agora tudo o que vejo nele é uma sombra de dor e tristeza, você tirou isso dele, você.

— Eu não sabia que isso poderia acontecer! — continuou Nyx com a voz falha. — Acha que eu não estou sofrendo?! Acha que eu não me culpo?! Eu estava lá, Adonis, eu vi ele quase morto por que eu o deixei para trás!...

— Então concerte! — retrucou Adonis com a voz mais alta do que a do vento que os rodeava. — Concerte... — a voz do filho de Azriel ficou cada vez mais falha e chorosa. — Concerte meu irmão... — o queixo de Adonis tremia e seus joelhos cederam o fazendo cair no chão úmido e lamacento, as asas se esparramaram no solo e o corpo se curvou para frente. — Concerte...

Nyx engoliu em seco e correu para junto do amigo, se ajoelhou e o abraçou com força, mas Adonis não retribuiu o abraço, seus braços continuaram soltos ao lado do corpo enquanto ele chorava soluçando e tremendo com o rosto escondido na volta do pescoço de Nyx, do lado direito.

— Me perdoa... — pediu Nyx afagando os cabelos úmidos de Adonis com a mão. — Me perdoa, Doni... — ambos choravam por uma dor que por mais que não acreditassem era a mesma, a dor de ver um irmão sofrendo, a dor de não conseguir fazer nada por ele, a dor de saber que havia um jeito de trazer de volta as asas e o braço de Raphael, mas que não era totalmente seguro, pois quem decidiria se iria devolvê-los ao guerreiro era o próprio Caldeirão e ninguém jamais sabia qual eram os planos dele. 

Corte de Asas Perdidas. CONCLUÍDO. Onde histórias criam vida. Descubra agora