Epílogo

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[Narrador]

Os próximos dias foram uma espécie de lua de mel de namoradas para Emily e Sue. Elas faziam absolutamente o mínimo para a faculdade e tentavam passar o máximo de tempo juntas — expressando o arrependimento de cada segundo perdido dos quase três meses que não estavam juntas. Elas conversavam por horas e horas, deitadas na cama de Emily, compartilhando de seus pensamentos e sentimentos durante esses meses que estavam separadas. Sue passou a sempre deixar um bilhete ao lado da cama, depois que Emily disse que "quebrou seu coraçãozinho" acordar naquela manhã sem ter Sue do seu lado — elas não dormiam sempre juntas, mas o fato era: Emily ainda tinha medo de acordar em uma manhã e Sue não estar ali, nunca mais estar ali — então, Sue sempre afirmava estar ali, de alguma forma, de algum jeito.

Seus amigos formaram um coral de gritos, um por cima do outro, quando perceberam que elas haviam se resolvido — o que foi engraçado: Austin começou a correr pela casa, Vinnie a pular, George parecia querer se jogar no chão de felicidade, Jane observava o caos e Ben olhava orgulhoso para Sue. Eles descobriram no dia seguinte.

Este peculiar grupo de jovens se encontrava, finalmente, de férias. Retornariam apenas no ano que vem, após as festas de fim de ano. O aniversário de Emily havia passado, eles haviam comemorado, é claro, com um jantar no apartamento dos Dickinson, com Emily assoprando as velas do bolo e 22 da Taylor Swift tocando alto nas caixas de som — e em seguida indo para algum clube, dançarem a noite toda, afinal era sexta-feira — Emily consideraria um desrespeito não sextar em seu próprio aniversário. Sue presenteou a poeta com uma edição do livro Orlando de Virginia Woolf, na primeira página havia uma dedicatória escrita pela musicista: "Eu não sou muito boa com palavras, não como você, mas assim como Nigel Nicolson, eu também acho que esse livro é a mais longa e encantadora carta de amor escrita na literatura, Woolf escreveu-o inspirado em Vita. Espero que goste. Eu amo você." — o que fez os olhos de Dickinson encherem de lágrimas, foi a primeira vez que Sue disse amá-la.

O aniversário de Sue foi em um domingo. Um dia antes, no sábado, Emily levou-a para passar um dia nas cabanas que foram meses atrás com seus amigos — foi extremamente especial e romântico, o clima e a neve ajudaram. Naquele sábado, elas se chamaram de namoradas pela primeira vez. No dia seguinte, o grupo se reuniu na casa dos Dickinson para almoçarem e passarem o dia juntos, depois de Sue assoprar as velas, também ao som de 22 de Taylor Swift — resultado da insistência de Emily — Sue esperava para abrir seus presentes, mas foi vendada — sim, vendada — e levada até a biblioteca do apartamento. Quando tiraram a venda, Sue estava de frente para um piano, perfeitamente polido e colocado no centro do local.

- Ele é seu, assim como esse apartamento também é, então ele sempre vai estar aqui disponível pra você tocar e... se sentir acolhida. - Vinnie disse, enquanto Sue observava o instrumento, ainda desacreditada que eles fizeram isso. Ela havia apenas brincado que ficaria triste durante os períodos que a sala de música estivesse fechada — como as férias — e ela não pudesse usar o piano de lá.

- Assim como esse teto e assim como nós. - Austin completou, sorrindo.

- Você gostou? - Emily perguntou, os olhinhos brilhando em animação.

- Se eu gostei? - Sue perguntou retoricamente. - EU AMEI PRA CARALHO!!! - ela andava ao redor do instrumento. - Vocês são incríveis! - correu em direção aos amigos amontoados na porta do local, recebendo um abraço coletivo.

Na quarta-feira, eles embarcaram em um avião com destino para Londres, depois de mais de dez dias conversando sobre passarem o natal, ano novo e talvez mais alguns dias na casa de Sue — ideia da própria. Desembarcaram no aeroporto e Ben praticamente gritou:

- Agora, vocês que tem sotaque, caralho! - e levantou os braços em comemoração, o que fez todos rirem. A mãe de Ben recebeu eles na casa de Sue, proporcionando um momento engraçado de Ben falando:

- Oi mãe, esse é o Austin, meu namorado... - Austin é cumprimentado por um abraço aconchegante. Há uma breve pausa. - E essa é Jane, minha amiga e... namorada do meu namorado. - todos riem. Jane também recebe um abraço. Ben suspira em alívio.

Eles enfeitaram a casa com luzes de natal e uma árvore gigante no canto da sala. Os quartos vazios eram ocupados como nunca antes. A cozinha era cheia por mais pessoas do que em muitos anos foi. Sue tocava piano alegremente enquanto conversas caóticas circulavam entre a sala e a cozinha. Ela estava indubitavelmente feliz, como não se sentia em muito tempo. Trazer eles para sua casa havia sido a decisão mais certa que ela já havia tomado. Na sexta-feira à noite, trocaram seus presentes de natal após a ceia e amontoaram-se no sofá com cobertas pesadas para assistirem ao filme do Grinch — um clássico natalino.

No ano novo, depois de comprarem mais champanhes do que necessário e caminharem pela cidade também mais do que necessário por causa de Vinnie, eles se reuniram na casa. Por falar em Vinnie, ela tirava dezenas de fotos, enviando-as todas para Malu — elas estavam namorando, inclusive Vinnie quase contou à namorada que ia fazer o pedido pouco antes de fazer a surpresa, o que virou motivo de piada no grupo — Malu só não estava com eles em Londres, como esteve tanto no aniversário de Emily quanto no de Sue, porque estava no Brasil, passando as férias com a família. Era noite, o clima de sexta-feira combinado com a virada do ano trazia um sentimento eufórico para o peito dos jovens. Era quase meia-noite, quando Sue perguntou:

- Gente, que horas são? - correndo para terminar de vestir-se para ficar protegida do frio, afinal eles sairiam para festejar após à meia-noite.

- Faltam quinze pra meia-noite. - George responde, sentado no braço do sofá, impecavelmente pronto.

- Ok, ainda temos novecentos segundos de tensão. - Sue diz e volta a olhar-se num espelho suspenso na parede.

A contagem regressiva começou, eles se direcionaram à rua. George carregava uma caixa de som enorme, suspensa em uma corda atravessada no peito do garoto. Quando meia-noite chegou, Emily e Sue se beijaram, champanhes foram estouradas, todos se abraçaram desejando feliz ano novo e em algum lugar tocava 22 da Taylor Swift, fazendo Sue questionar em seus pensamentos "Caralho, por que essa música de novo?" até reconhecer que o som vinha da caixa de George e Ben gritar "FELIZ DOIS MIL E VINTE DOISSSSSSS" tomando um gole generoso em uma garrafa de champanhe, então ela entendeu: caralho, era 2022.

Era ano novo. Ela estava comemorando com pessoas que amava, eram sua família e amavam ela também — e ela se sentia infinitamente bem com isso. Lembrou-se de uma vez que sua mãe lhe disse "você merece ser amada tanto quanto ama as outras pessoas" e sorriu, olhando para o céu, com sua mão encaixada na de Emily e seus amigos formando uma roda de calor na rua, prontos para enfrentarem juntos qualquer que seja o abismo que viesse a seguir. Afinal, Emergir de um Abismo e entrar nele novamente — isso é Vida, não é? — Emily escreveu isso para Sue e de certa forma, através das suas ações, ensinou isso para todos eles. Para todos nós.

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Vejo vocês no posfácio — ou nem tanto!!

900 segundos de tensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora