Capítulo Único.

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ALERTA DE GATILHO.

O hospital frio e gelado mas ao mesmo tempo quente, quente como o inferno, aquilo com toda certeza era um inferno, o frio e o gelado vinham de seu rosto, a expressão fria e vazia, olhando para um nada que ao mesmo tempo era um vasto horizonte, a parte gelada eram suas lágrimas, grossas e que caíam sem a sua permissão, o braço de ferro da cadeira era gelado também, ela conseguiu sentir isso. Sentia um calor, não sabia se era pela roupa, com dificuldade olhou para baixo e viu que estava sendo abraçada, e sua mão era segurada por alguém. E com mais dificuldade ela conseguiu ver, Flávia a abraçava de lado, Guilherme segurava sua mão. Olhou para o lado, Betina abraçada com Tina e Jandira, Osvaldo acalmava dona Nedda mas ela pôde perceber que o rosto dele estava molhado, eram as lágrimas. Rose permanecia em um canto, abraçada com o filho, Joana prestava atenção neles, principalmente nela.

Paula não sentia nada, não sentia o coração batendo, aliás não sabia se estava realmente batendo, não sentia o abraço de Flávia nem a mão quente e ao mesmo tempo gelada de Guilherme segurando a sua. Não sentia as lágrimas saindo de seus olhos, caindo pelas suas bochechas e atingindo sua mão. Ouvia zumbidos, como mosquitos, moscas, percebeu que eram soluços de choro. Era Martina, abraçada com a mãe e a tia. Escutou uma movimentação, cliques, flashes, paparazzis insensíveis estavam na janela, ela pensou, não tinha força para se virar e olhar.

Percebeu que a medalhinha de São Judas Tadeu estava enroscada entre seus dedos, provavelmente estava rezando antes da notícia. Em seu colo havia, o que ela achava ser, o terço de Bianca, seguro com ela. Pensou em entregar para Betina, afinal era a mãe, não conseguiu. Sentiu algo segurar seu ombro, um beijo na sua bochecha, alguém sentando ao seu lado. Com dificuldade ela se virou, Ingrid e Tuninha. Ingrid chorava, Tuninha largou os ombros de Paula e correu em direção a neta.

Ver a filha mais nova chorando abriu mais um buraco em seu coração, ela pode sentir ele batendo com dificuldade, mas muito rápido. Ela voltou a olhar para o vasto horizonte, um nada, apenas pensamentos que não precisavam vir à tona, não agora.

Paula diz aí! Tô bonitão, não tô? – o jogador rodopiou, Paula gargalhou.

Bonitão é pouco pra descrever. – ela riu. — E eu?

A empresária rodopiou, o vestido preto brilhante falou por si só.

Está maravilhosa. – ele a girou, enroscando suas mãos na cintura da empresária. — Mia Bella.

Gostava do apelido, era carinhoso e significativo para ela. Será que haviam outras Paulas com esse mesmo apelido?

O amargo da azia subia ardente pela sua garganta, ela engoliu. Ela engoliu o choro, engoliu o orgulho, o remorso, engoliu tudo. Absolutamente tudo. Ela não tinha reação, os olhos estavam perdidos, o corpo não reagia mais e a cabeça não pensava em mais nada.

Apenas nas memórias, com ele.

Paula, olha só. – Neném se deitou ao lado dela, e ela parou de ler o livro em suas mãos, prestando atenção nele. — Se a gente tivesse um filho, que nome você daria?

Qualquer um que não tivesse Neném envolvido. – ela riu da feição brava que ele fez. — Não sei, o nome da Ingrid eu escolhi por acaso, tava deitada, a Tuninha me trouxe água e eu simplesmente disse que ela iria se chamar Ingrid. Mas, como a gente não vai ter um filho, não precisamos pensar nisso.

Não vamos?

Não temos tempo, esqueceu que ela vai escolher algum de nós?

E se não for a gente?

Mia Bella. - Nerrare Onde histórias criam vida. Descubra agora