PERDIDOS NA FLORESTA

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João e Maria tomavam o café da manhã bem cedo, pois haviam sido acordados por sua mãe para buscar gravetos para a lareira. A família era constituída apenas pelos três. O pai havia morrido de uma doença contagiosa muitos anos atrás, e desde então a mãe cuidava dos filhos com muita dedicação. 

João olhava entediado a irmã comer a refeição com delicadeza e cuidado, separando cada talher e limpando o canto da boca sempre que tomava um gole de café fresco. Sempre odiou o excesso de maneiras dela. Ficava com raiva toda vez que a mãe a presenteava com um vestido de ceda novo e caro, comprado na loja do alfaiate. A roupa era necessária para que Maria fosse exibida aos ricos comerciantes do vilarejo. Esse era o sonho das duas: que Maria se casasse com um homem rico para bancar todas as despesas da família. Alguém importante com o poder de tirar as duas daquela vida medíocre e insignificante. E já existiam vários pretendentes...

Maria era uma bela jovem de quinze anos: alta, olhos azuis, cabelos loiros e cacheados até a cintura. Usava vestidos de renda azuis e cor de rosa, delicadamente trabalhados, fazendo com que ela parecesse uma princesa. Era a garota mais bonita do vilarejo, cobiçada por todos os homens ricos. De fato, a mãe de Maria não suportava mais as constantes visitas de homens excitados oferecendo propostas indecentes. Para isso, buscava o marido ideal. Um homem que justificasse todo o dinheiro investido na filha com jóias, perfumes e roupas. 

João era um garoto malvado que sentia prazer em atormentar as pessoas e qualquer criatura viva. Sempre que tinha alguma chance, gostava de prejudicar humanos e animais com requintes de crueldade. Rasgava as roupas da irmã, chamava-a de prostituta no vilarejo e criava todo tipo de problema para a mãe resolver. Ninguém gostava dele. Era o flagelo do lugar e um grande torturador de animais. Gostava de decapitar cães e gatos e deixar os corpos hediondos expostos na rua. Todos conheciam a índole diabólica do garoto e nunca permitiam que seus filhos brincassem com ele. Não desde que um menino desapareceu no bosque quando estava brincando com João.  Disse que o amigo havia sido devorado por um urso, enquanto ele escapara com alguns arranhões. Mas ninguém acreditou muito naquela história.

Os dois jovens conheciam um lugar perfeito dentro do bosque, com árvores densas e algumas mortas, que espalhavam gravetos em uma grande clareira. Desde os seis anos os irmãos costumavam buscar gravetos para o fogo das refeições, deixando uma trilha de migalhas de pão para que pudessem ser encontrados no caso de se perderem. João sempre foi o mais destemido, correndo na frente da irmã e trazendo gravetos antes que ela pudesse chegar ao lugar. Gostava de pregar peças nela, escondendo-se atrás das árvores e imitando sons de pássaros ameaçadores para assustá-la. Mas sempre houve respeito. Os dois se amavam. Isso foi antes da inveja corroer o coração de João. 

Maria percebia a inveja do irmão e estava cada vez mais desconfiada das atitudes do garoto. Há tempos ele vinha demonstrando um ciúme quase doentio das propostas recebidas por Maria. Não suportava mais ver a irmã ser negociada como um potro selvagem que  precisava ser domado. Isso justificava muitas atitudes malignas do irmão, como a tortura de animais e as maldades com outros garotos, pelo menos na opinião de Maria. Mas os aldeões ansiavam pendurar João pelo pescoço há muito tempo pelas barbaridades que havia cometido.

A jovem donzela estava apreensiva por ter de acompanhar o irmão em mais uma busca por gravetos. Mas esperava convencer o irmão a se comportar melhor e foi com ele em mais uma aventura...

- Você é mesmo uma vaca - xingou João, olhando com desprezo para Maria enquanto entravam na floresta profunda.

A garota olhou com tristeza nos olhos azuis do irmão.  Não esperava que xingasse tão rápido. Ele só agia assim quando ficava realmente irritado com alguma coisa. Não costumava perder o controle tão facilmente...

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⏰ Última atualização: Jul 30, 2018 ⏰

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