If I am the King, You Would be My Queen [Spin Off]

5 - Entre a Espada e a Parede

Os dias passaram num borrão para mim, enquanto me prendia entre os treinos e o desejo de permanecer enfiada no meu quarto e na biblioteca. Sempre era melhor do que me deparar com a princesa de Nanzan e o mais velho dos Pevensie a trocarem gargalhadas com o que cada um falava. Sempre que ouvia a voz dos dois, o meu instinto de sobrevivência pedia para me afastar. E isso não passara despercebido a Lucy e Edmund. O último tinha tentado falar com o irmão sobre o que se andava a passar e os motivos deste andar tão próximo da convidada, apesar que a resposta fora mais vaga do que se podia imaginar: apenas mantendo boas relações. Lucy ficara triste com essa resposta e cheguei a sentir o olhar apologético dela sobre mim, antes de virar o rosto e concentrar as minhas atenções no livro e na magia.

Hazel tinha notado o meu humor estranho, e as suas leituras certeiras haviam-me feito desistir dos passeios com ele. Por mais do que adorasse e confiasse no meu fiel amigo e pégaso, a última coisa que precisava no momento era sentir os meus sentimentos expostos ao ar livre e ditos em voz alta dentro da minha cabeça, onde logo fariam questão de me atingir o resto do corpo e deixarem-me com vontade de arrancar a corrente ao pescoço e lançá-la em direção ao mar, o que tinha passado de um pensamento exclusivo, para algo mais frequente. Isso pois quando me cruzava com aqueles dois, parecia que essa corrente inflamavam-me a pele, queimando-me e espetando agulhas pelo meu peito ao ponto de só me querer separar dela.

Para completar a situação, Aloysius já se encontrava porto para retornar ao seu país e Susan tinha determinado que começaríamos a planear o baile de apresentação como donzelas de Cair Paravel aos outros reinos. Resumidamente, além de estar a perder um dos meus apoios nos últimos dias, ainda me veria colocada diante de mais responsabilidades.

E tudo culminava naquela manhã.

O dia amanheceu sem que me sentisse nem um pouco descansada. Os músculos pesavam-me toneladas e era capaz de jurar haver um peso sobre os meus ombros que me colocava incapaz de encher o peito com a sua capacidade total de ar, deixando-me afogada num vazio desconhecido.

Como iam ser aqueles dias? Como iria concentrar-me em algo quando nem me encontrava animada? Estava a perder um dos meus mais recentes amigos e não sabia quando estaríamos juntos de novo, a desfrutar de relaxadas conversas, opiniões e sentimentos em relação a tudo o que nos rodeava. Em vez disso, teria de estar perto de uma víbora pronta a morder-me quando virasse as costas.

Entre a espada e a parede... nunca fez tanto sentido. Estou encurralada. Peter é a parede e Neysa a espada.

Ergui-me da cama com mau gosto e resmungos, obrigando-me a tratar de preparar-me sozinha para o dia que se avizinhava. No entanto, ao olhar para o meu guarda-fatos e observar os vestidos, senti um sufoco contra as minhas costelas. Não, não iria vestir algo formal como um vestido naquele dia. Em vez disso, procurei umas calças justas costuradas à minha medida. Eram negras, mas combinavam com a túnica vermelha que coloquei a seguir, juntamente com um casaco preto enfeitado com botões e costuras douradas. Eram quase as cores de Cair Paravel, as cores de Aslan, e as cores de Peter. Vermelho e Dourado. O negro era apenas um adereço para combinar. Uma parte minha.

Não precisei de espelhos para saber que me assentavam como uma luva e que deveria estar com um aspeto feroz, ainda mais quando não tinha dormido muito bem naquela noite.

Depois de deixar o cabelo a cair-me pelos ombros e com um gancho a impedir uma parte deste de cair-me sobre o rosto, caminhei na direção da cozinha, onde Ylea já se encontrava com alguns outros animais falantes, ocupados em iniciar a sua rotina no palácio para se preocuparem com a minha presença quando capturei um dos pães acabados de fazer do tabuleiro com a ajuda do vento. No entanto, no momento em que o colocava na boca, percebi o olhar da dríade sobre mim. E foi pior do que esperava.