Capítulo 1

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Rio de Janeiro

   Minhas mãos estavam grudando uma na outra com a força que eu as unia. Era minha primeira entrevista de emprego da vida e eu não sabia oque esperar, nem oque dizer.
   Eu estava sentada em uma espécie de sala de espera com mais três meninas. Meninas muito bem vestidas, com unhas feitas e cabelos devidamente arrumados.
    Não queria me sentir inferior a elas. Mas na verdade parecia que eu nesta sala era a coisa mais suja se assim posso dizer. Eu não tenho passado por um bom momento da vida.
- Camila Matos - levanto assim que ouço meu nome sendo chamado da sala logo a frente. Espero a menina que lá estava sair e entro fechando a porta atrás de mim.
Engulo em seco todo o nervosismo entalado na minha garganta. Me sinto um animal prestes a entrar no abatedouro.
- Sente- se por favor- a mulher robusta a minha frente diz sem mostrar os dentes. Ela usa um óculos engraçado e o cabelo preso num coque alto.
- Obrigada.
- Então Camila. Olhando aqui no seu currículo vi que não terminou o ensino médio?.
Faço que sim com a cabeça um tanto constrangida. Mas vejo que ela espera uma resposta da qual não entendi.
- Eu não terminei porque não consegui acompanhar muitas aulas e acabei não passando nas provas finais - digo como um gato engasgado.
- E tem um filho ?
- Sim! Tenho uma filha de 1 ano
- E com quem ela vai ficar enquanto você trabalha? - eu achei um pouco invasivo todo aquele interrogatório. Achei que era uma entrevista de emprego para saber minhas qualificações na área.
- Ela vai ficar com a minha mãe - respondo
- Se caso sua mãe adoecer ou não puder cuidar da criança, tem mais alguém que possa  ficar com ela?
- Sim! - menti - O pai dela pode ficar caso precise. Isso não irá interferir em nada no cumprimento do meu trabalho - sorrio.
- Muito bem - Ela tira os óculos e me encara profundamente - Você assim como todas aquelas moças precisam muito desse emprego certo?
Faço que sim quase em desespero.
- Por que eu deveria contratar você Camila?- gaguejo tentando formular qualquer razão aceitável pra que aquela mulher me contratar.
Respirei fundo e disse a verdade
- Porque estou precisando muito desse emprego e se você puder me dar essa oportunidade eu não vou falhar com o meu trabalho - Não consegui mais olha-lá nos olhos olhos - Eu estou desesperada.
- A situação do país não está favorável pra ninguém no momento- ela se levantou- Vamos te ligar Camila, muito obrigada.

Levantei sentindo um pouco de enjoo. Não fazia ideia que uma simples entrevista de emprego pudesse ser tão assustadora assim. Agradeci a mulher e saí o mais rápido possível. Eu tenho certeza que não vou receber a ligação dela por vários motivos e um deles é só por ser mãe solteira.
  O clima hoje no Rio de Janeiro está extremamente quente oque piora a moleza no corpo. Caminho em direção ao ponto de ônibus mais perto rezando para que passe um com ar condicionado ou que pelo menos tenha vaga pra ir sentada. Mas com a sorte que ando ultimamente vai ser totalmente o oposto.
  Por fim conseguir entrar em um com ar condicionado, embora não tenha vaga sentada. Mas pra mim isso já é está no lucro. Amanhã preciso sair e entregar mais currículos ou vou precisar ir morar em baixo da ponte logo logo. Vejo que minha mãe já não consegue manter a casa e nos três sozinhas. Pois o pai da Luísa nem se quer fez o favor de assumir a paternidade.

  Cheguei em casa por volta das 15:40. Morrendo de fome, suada e muito cansada da viagem longa em pé no ônibus. Minha mãe estava dando mamadeira pra Luísa quando entrei.
- Como foi a entrevista filha?
- Acho que foi boa - tento parecer positiva - A mulher disse que ia me ligar ainda essa semana.
- Tomara que dê certo.
- Vai dar sim! - confirmo.
Mesmo sabendo que não é bem verdade.

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