[1] Cigarros e sequestros

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Quinta feira, 10 de fevereiro de 2022
23 horas e 34 minutos

O ar frio que soprava cortante pelos ares não era o melhor dos contrastes para uma noite estúpida e sem graça que nasceu logo após o fim de uma tarde cinzenta como aquela. Mas o que alguém poderia fazer para mudar isso? Se nem mesmo um justiceiro fantástico de alguma boa história de ficção teria o poder e, convenhamos, a vontade de alterar aquele clima péssimo que pairava entre os prédios e casas daquela cidade, o que uma fracassada como Yoo Jeongyeon faria àquele ponto? De certo, nada. Absolutamente nada.

Como qualquer bom fracassado por aí, Jeongyeon tinha entre seus lábios secos e machucados um bom e velho cigarro. Vez ou outra soprava aquela fumaça nojenta que fazia seu pequeno quarto surrado cheirar à morte, mas como todos os fumantes que por alguma razão tola ainda colocam entre os dentes uma bomba mortífera, ela já havia se acostumado com o mau cheiro de tabaco e outras merdas queimados em conjunto. Certamente, mesmo que não sendo proposital, o odor faria morada em sua jaqueta de couro preta e calça colada que quase nunca saíam de seu corpo, mas ela já não ligava mais para futilidades como essas.

O cheiro do cigarro impregnado em suas vestes era o mais ínfimo de seus problemas, e facilmente seria pisoteado pelo número um de sua extensa lista de problemas; essa fatídica posição ocupada por ninguém mais e ninguém menos que Mieum. Para o azar da fútil fumante metida à bad girl, foi exatamente este o nome que apareceu na tela de seu celular, juntamente da vibração caótica que o aparelho emitia enquanto ela dava mais uma daquelas tragadas profundas e insuportáveis.

Yoo pode parecer um pouco burra, até porque seus pulmões certamente estão ficando cada vez mais carregados de partículas sólidas que acompanham a fumaça dos fumos que inala, mas como diz o ditado, as aparências enganam. Na verdade, ninguém seria louco e burro ao ponto de ignorar uma chamada de Mieum, e aqui vai o porquê:

— Yoo, que grande surpresa! Pensei que iria ignorar minhas ligações pela sexta vez hoje, mas vejo que me enganei! — foi o que a voz desconfigurada, que falava do centro da cidade, bradou aos quatro ventos em alto e bom tom enquanto carregava um sorriso cínico nos lábios.

Certo, talvez Jeongyeon seja louca e burra ao ponto de ignorar não uma, mas cinco vezes uma chamada do grande líder.

— Me mantive ocupada — respondeu a então loira rolando os olhos e esfregando enfurecidamente a bituca queimada no cinzeiro que ficava no bidê escuro ao lado de sua cama.

— Não é para me ignorar que te pago, sweetheart — dispondo-se de sua péssima mania quase amedrontadora de misturar línguas, o adjetivo soou tão doce quanto seu próprio significado, mesmo tendo saído dos lábios de uma víbora.

— Podemos apressar o assunto, sim? Me diga o que devo fazer ao invés de tentar me fazer gozar ao te ouvir dizer esses apelidos ridículos bem no meu ouvido de um jeito estranhamente sedutor.

— Está afiada, mon amour, mas não nego sua impaciência. Negócios são negócios.

— E então?

— Apareça às vinte e uma horas de amanhã no endereço que te enviei. O sinal é o buquê de rosas vermelhas. Você sabe o que fazer, não sabe? Sem enrolação, o mesmo de sempre. Certifique-se de não deixar vestígios para trás. Caso contrário, estarão ambas mortas, baby — como se isto não fosse um combinado para um futuro assassinato e uma ameaça, as palavras escorregaram firmes e lentas pelos lábios tintos de vinho de Mieum.

Um bip anunciando o fim da chamada fora ouvido pela coreana, a fazendo suspirar tão fundo que todo o ar restante de seus pulmões se esvaiu rapidamente. Sua lista de problemas havia aumentado um pouco mais.

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⏰ Última atualização: Feb 15, 2022 ⏰

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