Sentado em sua habitual mesa perto da janela dos fundo, onde a luz do café era mais baixa e mais aconchegante, onde a vista dava para uma rua inteira decorada com luzes e enfeites de natal...estava Elis.
Um homem de pouca idade. Recém formado da faculdade. Forte. Um pouco baixo. Havia pessoas que até diriam que ele era bonito.
Elis deu uma golada no seu café, sentindo o vapor esquentar as mãos. As ruas de Nova York estavam cobertas de gelo naquela estação do ano.
Ele olhou para o notebook mais uma vez na mesa. Pensando em cada palavra, cada frase que pudesse brotar. Mas não vinha nada.
Havia meses que Elias tentava o mesmo ritual: ele tomava banho quente para relaxar, torcendo para que a inspiração o encontrasse porque segundo ele, o banheiro é a oficina dos criativos. Depois Elis colocava ração para o manchadinha, seu gato preguiçoso que mal levantava a barriga gorda para brincar; ele pegava sua bicicleta no ciclo e então pedalava até o Le Café Pommon, o melhor café da cidade. E então escrevia até os minutos lhe traírem.
Bom, pelo menos não dessa vez. A neve fazia com que ficasse impossível pedalar, tinha que ir andando ou então pegar um táxi, o que Elis odiava. Talvez fosse isso que o impedira. O mal tempo tinha destruído seu perfeito ritual e agora estava amaldiçoado a continuar mais quatro horas pensando no que fazer. Mais um motivo para odiar o Inverno.
Elis se jogou pra trás passando a mão nos cabelos escuros. Onde estava a sua inspiração? a doce e bela inspiração de todos os dias, aquela que lhe fazia pirar, perder as horas e horas tão facilmente? Elis sabia a resposta. Mas não queria pensar nisso. Então ele apenas bebeu mais um pouco do café e o croissant permanecia ao lado. Intocável.
— Désirez-vous autre chose? — A moça ruiva perguntou para Elias reparando no prato que mal tocara.
— Non, merci. Je suis satisfait — Respondeu Elis, sem tirar os olhos do computador.
A mulher hesitou por um momento e então partiu.
Agora ele estava totalmente focado. Até que ele ouviu uma risada, bem ao fundo misturando com a música ambiente.
Elis se virou em direção a porta ansioso e foi então que ele viu. A inspiração chegar. Caminhando sorridente até o balcão, vestindo um suéter vermelho e uma bolsa de grife ao lado do corpo.
Lá estava, uma mulher que valia a pena escrever sobre. Que valia a pena escrever poemas e canções de amor. A bela musa das quais artistas desenharam.
Ela se virou um pouco tímida, as maçãs do rosto coradas pelo frio cortante, o cabelo loiro solto sobre os ombros de maneira despojada. A inspiração riu ao balcão, virou-se despretensiosamente à sua mesa, e o viu.
Elis ficou tenso na cadeira. Ela olhou mais uma vez e então desviou o olhar. Ela tinha notado. Ele sabia. Elis voltou então a atenção ao notebook, a tela em branco que lhe desafiava há horas, quando uma presença feminina se fez, um cheiro de jasmim familiar surgiu no ar.
— Oi — a presença falou atrás de Elis. Ele se virou tenso para encarar a mulher. A sua inspiração.
Ela estava mais magra, pensou Elis, desde a última vez que se viram. O cabelo loiro estava um pouco mais longo, estava diferente. Mas seus olhos... eram os mesmos. Castanhos avelãs encantadores.
— Cassie — falou Elis desconcertado. — Você está ótima!
— Obrigada — sorriu Cassie. — Pensei que não te encontraria mais aqui. Como vai a escrita?
Elis sorriu lisonjeado. Mesmo sabendo que aquilo era uma mentira. Cassie sabia que Elis estaria ali, sabia que toda terça e quinta depois da faculdade ele correria até o Le Café Pomme, se sentaria na cadeira do canto, olharia para janela e pediria seu café preferido: Cappuccino. E então tentaria escrever incansavelmente até fecharem. E durante os seis meses, Elis se perguntava se Cassie se lembrava daquele lugar, se lembrava de encontrá-lo ali. Se ela também viria. Se as memórias de um passado deleitoso também assombraram-a.
— Estou escrevendo um novo livro. Tem sido meu novo desafio —disse Elis ofegante. Cassiu sorriu. Colocando as mãos na cintura. — Você e seus desafios. Nunca mudou
Ela estava certa.
Elis estava prestes a chamá-la para sentar quando um homem barbudo veio na direção dos dois. O homem puxou a mulher pela cintura e entrelaçou suas mãos, que só agora Elis tinha dado conta que estava um anel.
— Estava demorando, vim procurar por você — disse o homem agora encarando Elis, de cima a baixo. — Quem é, amor? — E essas palavras fizeram Elis quase vomitar.
— Meu amigo da faculdade. Ou pelo menos era até ele mudar de campus — Cassie falou em tom de brincadeira.
Outra mentira.
Agora Elis se mexeu desconfortável.
Era verdade que Elis e Cassie eram muito amigos. Desde que se conheceram Cassie e Elias nutriram uma amizade quase que instantânea. E era verdade que Elias precisou mudar de campus, mesmo no final do semestre porque não suportava a ideia de vê-la todos os dias desde que terminaram, mas ela havia se esquecido. Era possível alguém seguir em frente tão rapidamente? Quer dizer, um ano. Não significou nada? Elis não podia parar de pensar. Porque agora estava ali, noiva e fingindo que nunca aconteceu.
— Elis. Esse é meu noivo, Brian. — Ele estendeu a mão para homem que agora agarrava Cassie mais forte. Os dois se cumprimentaram. Noiva. Não namorado, ficante. Ela estava noiva, daquele crápula.
— Foi um prazer revê-lo, Elis. Boa sorte com o projeto. — Cassie piscou. E ambos saíram. E Elis viu ela partir. Com o coração em mãos, Elis sentiu sua alma despedaçar mais um pouco.
Ele abriu a tela do notebook entristecido e começou a escrever.
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Um encontro Inesperado em Nova York
Short StoryElis é um escritor esforçado que está tentando superar um grande amor. Um dia ele encontra sua inspiração no Le café, e seus sentimentos são bagunçados mais uma vez.